Caça Incessante

A manhã tem um clima ameno e nublado, característica da grande metrópole que raramente apresenta uma grande variação climática. O capitão pode perceber que as ruas têm menos pedestres que o normal, provavelmente consequência de um medo geral da população após a suspeita de um novo ataque terrorista.

Nos grandes outdoors da cidade, Ale'ek pode observar algumas notícias sendo apresentadas por uma projeção holográfica. Elas narram a perseguição da qual ele participou e também noticiam a morte de dois políticos conhecidos que atenderiam ao congresso. O curioso é que ambos têm a fama de pacifistas e provavelmente amenizariam a situação.

As coordenadas dão em um hangar próximo, um dos maiores da cidade. Chegando lá, Ale'ek encontra uma nave que leva o logotipo da força militar da Aliança e dois tripulantes que o aguardam na frente desta. Ambos são humanos, visto que essa raça tem uma forte tradição militar, mas apenas um deles traja uma armadura.

— Bom dia. — Diz a garota, ríspida. — O meu nome é Carla e esse aqui é o Klaus, mas pode nos chamar de Whale e Baby. Os dois são ridículos, eu sei, mas é por convivência.

A garota é seca e direta Parece ter origem latina a julgar por seu tom de pele e formato do rosto e veste roupas totalmente usuais. A sujeira em seu rosto e seus olhos cansados denunciam que provavelmente está trabalhando na nave faz tempo.

Seu colega, provavelmente de origem alemã, é tímido e apenas cumprimenta Ale'ek com a cabeça. A julgar pela aparência, ele é provavelmente o mais novo dentre o trio, mas o desenho acima do emblema em sua armadura denuncia que sua posição já é mais avançada dentro do batalhão.

A garota que se apresenta parece satisfeita de não ter que fazer uma grande introdução para Ale'ek e apenas digita uma senha no painel da nave para que sua porta se abra. Seu parceiro, ainda um pouco encabulado, é o primeiro a entrar.

— Me parece bem confortável. Eu não estaria tão ansiosa se fosse você, o planeta para onde vamos não é brincadeira.

A nave têm pouco espaço e não está lá muito organizada. Uma confusão de fios e ferramentas está jogado por aí, e a própria engenharia interna do veículo não parece ser das melhores, contanto com cantos desiguais e pouco espaço para mobília, o que rende apenas um banheiro, um sofá e um frigobar. Além disso, manchas de um estranho líquido amarelado prejudicam a cor em vários pontos diferentes.

Baby, que ainda não falou nada, dirige-se a um pequeno observatório na lateral do pequeno espaço interno da nave. Whale entra logo depois, mas se dirige até um cockpit para selecionar o trajeto até Tuntau.

— Caham... senhor Ale'ek, certo? Eu e Whale somos da quinquagésima terceira divisão da Aliança, localizada no coração de Tuntau. Eu sou especializado em combate de campo e sei me orientar pelo planeta, e Whale é uma ótima piloto e engenheira. Somos só nós três porquê nossa missão deve ser discreta. — Ele dá uma pausa enquanto observa a garota de canto de olho para verificar se tudo está certo. — Basicamente precisamos rastrear o fugitivo, que talvez nos leve a uma sede da causa rebelde. Depois disso vamos reportar essa localização a superiores, e é isso. Você gostaria de alguma outra informação sobre a operação ou sobre o local aonde vamos?

Diferentemente da colega, Baby não parece muito contente com a resposta de Ale'ek sobre não querer suporte. Isso é evidente quando ele torce o lábio e olha discretamente para a piloto, que apenas dá de ombros e continua seu trabalho. Fazendo seu máximo para disfarçar, ele volta a falar.

— V-Você tem certeza, senhor? É que o planeta é bastante perigoso para aqueles que não o con--

— Cala a boca, Klaus. Ele quem o sargento mandou, ele quem escolhe como fazer a missão. E você não pode culpá-lo por achar você esquisito e dispensar sua ajuda; isso é bem compreensível.

Percebendo que Ale'ek não está interessado em se comunicar ou requisitar ajuda, o soldado retraído apenas recosta-se no seu assento e volta a seu comportamento introspectivo habitual. Quanto a garota, já desde o início pouco interessada em conversa, apenas fez o seu trabalho como ordenado.

Apesar de não parecer, a piloto é bastante habilidosa e é capaz de cortar caminho por trajetos pouco seguros com perfeição, o que torna a viagem muito mais rápida. Nesse ritmo, Ale'ek chega em Tuntau em poucas horas.

— Então colega, estamos na órbita do destino. Lembra: você só precisa seguir ele até encontrar um lugar legal e avisar a nós ou a seu superior. Até lá nós estaremos aqui na nave te esperando, como vossa majestade pediu. — Ela diz enquanto deixa a nave no piloto automático para apenas pairar por ali. — Quer que eu pouse perto do alvo ou longe dele? Você pode já ficar na cola dele mas corre o risco de ser visto, ou pode ficar a uma distância maior e percorrer o resto do caminho a pé. Você quem sabe.

A nave lentamente desce ao hangar, um pouco distante de onde Heylel está. Isso porque ela contém o símbolo da Aliança em sua lateral, e é importante que o alvo não perceba que está sendo perseguido. Uma vez com o veículo estável, a piloto desliga a máquina e vira-se para os colegas.

— Muito bem, apressadinho. Têm algo que Baby tem que fazer antes que você entre em ação, então segura essa sua onda ai só mais um pouco. —  Ela diz, sem o mesmo respeito do colega, ao mesmo tempo que apanha um dispositivo em um compartimento da nave. —  Isso aqui é um pequeno explosivo que eu vou prender nesse drone aqui. O soldado Klaus vai pilotá-lo até a nave do alvo e explodir seu propulsor traseiro, o que vai impedi-la de sair daqui. Depois disso o alvo vai ser obrigado a nos levar até uma base da reconquista em Tuntau. Caso ele tente sair do planeta por qualquer um desses outros veículos nós temos mais explosivos preparados, então só precisa se preocupar com o serviço de campo.

Depois que explica, entrega o explosivo e o drone ao parceiro. Este, por sua vez, testa os controles antes de abrir a porta e liberar o dispositivo.

— Senhor, você já pode deixar o veículo. Como pediu, não vamos interferir na sua tarefa a não ser que peça. Lembre-se, tente se posicionar de uma maneira que o alvo não o perceba.

Whale olha para Baby, desagradada com a situação. Todos na sua divisão sabem sobre o seu temperamento e sua mania de questionar os superiores, mas não poderia fazer nada diante de um líder que viera direto de Gradopolis, ainda mais depois daquela bronca que receberam.

— Como queira, Ale'ek. — Ela responde, relutante, antes de abrir as portas da nave novamente.

O seu colega sabe o quanto é difícil para ela desdobrar-se daquela maneira e ter que esperar para pegar o terrorista, então não poderia cobrar que ela trata-se o líder daquela missão de maneira mais respeitosa.

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A lembrança mais recente do capitão quanto ao planeta Marte provavelmente é a simulação pela qual passou dias atrás nos quartéis generais da Aliança. Ele sabe bem, portanto, o quão perigoso o planeta pode ser fora dos limites habitáveis que oferece.

Conforme o hangar se abre com a autorização da central por identificar dois soldados da Aliança, uma música alta pode ser ouvida até mesmo de dentro da nave. Aquele festival seria um dos maiores do ano, e contaria com os artistas mais célebres que se conhece atualmente.

A piloto da nave não compreende o que está fazendo ali, mas se conforma e se esforça de não questionar alto as atitudes daquele que foi designado líder daquela missão. De uma maneira ou de outra, certamente reportaria para algum superior.

Conforme a nave pousa, um ambiente quase que desértico se mostra a frente. A garagem gigantesca está sem dúvidas lotada de naves espaciais, mas nenhum funcionário está visível até os portões que dão na entrada da estação de fato, aonde apenas duas funcionárias se encontram. Todos parecem ocupados com os shows.

— Espero que seja bem-sucedido no que quer que seja que precisa fazer aí. Devo te esperar? — Ela indaga, sem olhá-lo diretamente.

As duas que protegem a saída da garagem dão um passo em direção a Ale'ek para revistá-lo, mas recuam novamente quando seu status de oficial da Aliança é exibido em seus dispositivos. A partir de então, o máximo que acontece é uma delas dar uma piscadela para o capitão.

A estação, geralmente cheia e movimentada com o comércio, está totalmente vazia. O máximo que se vê são alguns estabelecimentos alimentícios abertos, esperançosos com algumas raras pessoas que deixam por momentos o festival em busca de algo para comer ou beber. Já dali, é possível ouvir Jenifer as mesmas músicas estouradas que Ale'ek talvez já tenha ouvido em algum lugar.

Já de longe, ele pode ver a grande estrutura montada para o show, que consiste numa grande redoma em forma de semicírculo que termina no luxuoso palco. No solo, de frente para o palco, estão todos aqueles comuns que pagaram a quantidade padrão para assistir à apresentação. Já nas arquibancadas circulares de onde entram e saem pessoas vestidas de maneira elegante, estão aqueles que possuem um caríssimo passe para a lista VIP.

— Oi, bem. Como posso te ajudar? — Pergunta um rapaz que guarda a entrada do espaço. O barulho pode fazer com que seja difícil escutá-lo. Ele não faz questão de esconder um tom malicioso e um olhar de cima a baixo.

— Talvez, você precisa do que pra me deixar entrar? Nome ou telefone? 

Ele não sabe exatamente se o flerte foi correspondido, mas sabe que não vai deixar de paquerar o loiro ainda que seja antiético para sua profissão. Ele olha ao redor para se certificar de que ninguém mais o supervisiona e volta a Ale'ek.

— Na verdade eu só preciso do seu nome, mas o telefone também seria ótimo. — Ri enquanto usa um pequeno dispositivo quadrangular para abrir um painel holográfico a sua frente, o qual dispõe uma série de nomes. — Me parece elegante. VIP ou comum?

A mensagem é retornada quase que instantaneamente, ainda por um número privado.

??? escreveu:

Seu nome já está na lista. Procure pela Máscara na sala VIP. Se comporte, não estou sozinha.

— Bom, geralmente eu só recebo para ser segurança. O resto eu faço por favor praqueles que eu gosto. — Responde com um sorriso sutil enquanto verifica o nome de Ale'ek. — Tá precisando de algum favor? Faço questão de ajudar alguém como você como puder.

Ao encontrar o nome próximo ao topo da lista de convidados (indicando que foi inserido de última hora), o rapaz afasta-se da entrada do local de evento, deixando a mostra a escadaria que leva ao espaço VIP. Dali, é visível que o lugar é bem mais comportado e até mesmo silencioso do que o pátio principal. Já de longe é visível que as pessoas estão vestidas de maneira bem mais elegante do que o capitão.

— Seu nome está aqui mesmo. Quanta elegância.

A sala VIP parece um local totalmente isolado do show. Com a presença de vidros e outras formas de isolamento acústico, o volume da música é reduzido até o ponto em que o som é o mais abafado e agradável possível.

Pessoas de alta classe sentam-se e conversam formalmente, muitas delas em uma verdadeira reunião de negócios ali. Com a fortuna que custa um ingresso VIP, a maior parte só está no show pelo status e não por realmente apreciar a música.

Em uma mesa isolada e sentada em um banco de couro luxuoso, está uma figura totalmente coberta por um traje e com o rosto encoberto por uma máscara que torna os traços irreconhecíveis. Quatro seguranças armados aguardam ao lado dela e dão sinal para que Ale'ek se aproxime, deixando o assento livre e servindo-lhe vinho. A tal Máscara, porém, não bebe e nem come nada.

Os seguranças se entreolham com a atitude simpática de Ale'ek, contentes e confortáveis com sua presença. Imaginavam que seria uma negociação turbulenta por terem sido requisitados, mas aparentemente o homem parecia comportado elegante.

Apesar de sentirem-se confortáveis, cumprimentam-no apenas com reverências. Já não temem a ele mas sim a sua contratante a quem precisam servir. É notável como sempre olham para Máscara antes de qualquer ação.

Esta por sua vez permanece impassível, mas ainda com uma atitude mais agradável do que geralmente tem.

— Boa noite, senhorr Ale'ek. Infelizmente isso não é possível, mas se fosse eu o farria. Sua delicadeza é de fato louvável. — Sua voz é feminina mas carrega um efeito como se estivesse sendo alterada. Além disso, suas palavras carregam um forte sotaque Iormashiano (o puxar do R principalmente).

Os seguranças parecem olhar incrédulos para a contratante, estranhando bastante seu comportamento. Jamais a viram ser tão sutil em uma negociação, tampouco chegar ao nível de chamar um convidado com uma maneira tão informal como "senhor".

— Gostarria de conversar, mas a noite é curta e as tarrefas são longas. Antes eu tinha interresse na destrruição do aparrelho, mas pensei bem e agorra desejo ter sua posse. Qual serria o seu prreço?

Apesar da situação no mínimo constrangedora, a entidade parece permanecer com a mesma expressão. A julgar pela expressão de terror nos olhos do segurança, aquilo já era um grande sinal de que ela pegava leva com Ale'ek. Não imaginariam jamais alguém saindo ileso após uma proposta daquelas.

— Sinto muito, mas isso infelizmente não é possível. Se fosse, eu o farria. — Ela opta por responder a mesma frase para fixar bem que era de fato impossível que ela retirasse a máscara, mas surpreendentemente não é grosseira e tampouco se fecha à sugestão do soldado. — Eu sou uma pessoa fascinada pelas negociações, como essa que estamos fazendo agorra. Estou negociando esse technophone com o senhor agorra parra negociá-lo novamente no futurro.

As pessoas ao redor parecem olhar com curiosidade para o encontro, especialmente para a Máscara. Sua presença física em algum lugar é bastante rara e até considerada uma honra uma vez que ela geralmente envia representantes ou mensagens holográficas. Poucos com quem ela negocia sequer ouvem sua voz.

— Eu querria que você destruísse ele porque tenho outras provas sobre a orrigem do ataque e querro vendê-las. Ao pensar bem, porrém, eu deduzi que posso vender os dados nesse technophone junto por um prreço maior. Com meus contatos, posso também negociar com o lado oposto a não-divulgação desse materrial. Clarro que a Aliança pode descobrir as informações contidas nesse aparrelho sozinha, então estou dando um tirro no escurro. No final das contas, o valor que vou conseguir não me interessa. Já tenho dinheirro o suficiente para fazer o que eu quiser até onde eu quiser e meu único interresse é a negociação em si e observar os resultados dela. Não sei se é possível parra alguém como você entender.

Os seguranças entreolham-se entre si. Desde quando a Máscara revela seus ideais e planos para um desconhecido? Ela realmente vê algo naquele homem. Talvez um crítico no d20 uma importância muito maior do que aparenta no grande xadrez que ela vizualiza.

O rosto de frustração do homem era nítido, parecia querer fazer drama, seu olhar lentamente escorreu até a mascará da mulher tentando ver alguma figura humana por trás do visor mas apenas conseguia ver o brilho dos olhos femininos, o homem manteve as órbes azuladas em direção aquele brilho por alguns segundos, tempo o suficiente dela dizer tudo o que precisava dizer.


— Certo. — Suspirou antes de finalizar o líquido de seu copo, deixando-o em cima da mesa logo em seguida; A mão que antes segurava o copo foi em busca de tocar a parte de trás da mão dela, tentando ter alguma espécie de contato com a mulher. — Lado oposto? Você diz a reconquista? Pensei que você não se envolvesse... Perdoe-me por minha falta de conhecimento sobre isso. — Após toca-lá, ou apenas tentar, o homem recuou a mão, talvez tentava puxar a mão da mulher caso fosse aceito no primeiro toque.



— Eu gostaria de ser forte, receber força... Esse é meu preço... Isso e, claro, ter um segundo encontro com você... — Sorriu ao dizer a última proposta, olhou em direção aos soldados enquanto voltava a dizer. — Não que a companhia de seus majestosos companheiros não seja algo que me agrade, mas eu acho que sem as armas ficaríamos todos bem, um encontro, jantar entre amigos... — Evitava diminuir os lacaios na frente deles, queria apenas conquistar não apenas a rainha mas também os peões.

Máscara permanece inerte ao toque, como se deixasse seu corpo ser levado por Ale'ek. Não demonstrou reação ou repulsa ao toque e deixou sua mão na mesma posição que estava quando solta. Uma coisa porém é certa: ela não se lembra da última vez que foi tocada.

— É clarro que me envolvo. Apenas não deixo que me afete - são duas coisas diferrentes. — Responde com firmeza, sem deixar-se abalar pela atuação de Ale'ek mas ainda o respondendo apenas por simpatizar-se com ele. — Crreio que o aparrelho que carrega é valioso o suficiente parra que eu pague a você por essa força. Farrei com que um especialista entrre em contato e conduza-o para que minha parte do acordo seja concrretizada.

Ela, com formalidade e educação, estende mão livre aberta enquanto aguarda pela entrega do technophone solicitado.

— Não sou o tipo de pessoa que se encontrra muitas vezes, senhor. Muitos já venderram sua vida a mim e jamais me encontrarram pessoalmente. — Ela abre o jogo, finalmente recuando a mão que Ale'ek segurava. — Minha prresença aqui é o suficiente por horra. Caso seja necessárrio, eu te encontrarrei novamente no futurro. Agorra prreciso que me entrregue o aparrelho, sabe bem a minha fama e pode ter a garantia que minha parte serrá cumprrida.

— Clarramente. — Respondeu de maneira sucinta enquanto estende a palma da mão aberta para receber o item solicitado. — Agrradeço pela negociação rápida e trranquila. Estou ansiosa parra ver o que você farrá e o que conquistarrá com seu pedido. Essa é a parrte mais diverrtida afinal.

Os seguranças dão espaço para que Ale'ek parta, cochichando entre si seus alívios sobre o alívio de uma negociação tranquila.

— Eu estarrei em contato com você se precisar. Não se prreocupe em me deixar o seu númerro, eu sei tudo sobre todos, inclusive o que não querrem que eu saiba. — Ela finaliza, não podendo deixar de mostrar suas garras a alguém e indicar que conhece bem a história de Ale'ek. A Máscara é conhecida por sempre se armar bem antes de um encontro.