Caça Incessante

— Obstáculo... — A palavra despertou um sentimento negativo dentro de Ale'ek, esse que manteve o olhar sobre aquela espécie de viseira escura que escondia os olhos do samurai, estava realmente em apuros, mas não podia evitar de ouvir novamente aquele adjetivo em sua mente. - "Obstáculo" - A palavra soava em diferentes tons, timbres, sons, diferentes formas para dizer a mesma coisa, conseguia imaginar letras, desenhos, conseguia imaginar todas as línguas conhecidas dizendo isso, ao mesmo tempo e separado. O interior do príncipe estava totalmente abalado, mas seu exterior não movimentou nem um músculo.

— Motivo nobre? Um soldado assassinando garotas indefesas é nobre? — Seu olhar carregava um único sentimento palpável, a visão parecia transmitir uma espécie de melancolia mesclado ao sentimento de pena perante aquilo, ao trabalho que o homem estava fazendo, as palavras que ele estava sentindo, o quarto inteiro foi imerso em uma melancolia sem fim. — Não existe um ser sem nome, você não é um bastião... Você merece um nome. — A empatia pelo soldado não veio de repente, não era um sentimento platônico, Ale'ek se via no soldado, uma espécie de alter ego em uma dimensão paralela onde nunca foi liberto.

Os olhos do príncipe seguiram para onde a garota estava apenas para ver seu traje ser destruído pela arma do companheiro, não demorou para voltar a olhar para o tal, este que apenas acenou negativamente com a cabeça, desceu os olhos para a lâmina e então disse.

— Susano'o... Eu vou te chamar disso. É clichê para alguém que usa Katana receber nomes xintoístas, mas não acredito que ele seja uma divindade, acredito que ele seja um ser vivo, alguém que foi respeitado entre os seus e começaram, proteger a vila e missões dignas... Salvar garotas inocentes, salvar pessoas que não fizeram mal a ninguém... Eu acho que era isso que um "deus" fazia antes de ser louvado, e acho que é isso que você está fazendo, Susano'o. Você não é o vilão e tão pouco eu... O motivo de eu ter sido designado para essa missão é que sou descartável, um objeto de uso da Aliança... Eu não sou um obstáculo, eu mal sou um empecilho... Sou apenas um cara querendo ajudar outro cara a se libertar dos dogmas... — Dizia sempre encarando a katana, o reflexo do visor. Queria entender melhor como funcionava aquele visor peculiar.

"Certo... Se não for um ciborgue, com certeza aquele visor é um comunicador... A visão dele é através do som... Será?"

O capitão precisava testar sua teoria, e teve sua chance no momento que a katana do homem tocou a pele da garota, a mão de Ale'ek foi até o metal para segurar e impedir que ele faça qualquer outra coisa, usou da mesma força para empurrar a lamina e assim limpar o fio de sangue que maculou a tal.

— Me diga o por que precisa dela. — Perguntou enquanto tentava limpar o rosto da menina com a mesma mão que recentemente soltou a katana, a ponta do polegar foi até a ferida, impedindo que o sangue escorra, afinal, não era um machucado muito grande e por isso apenas uma passada de dedo iria limpar. Logo depois de limpar o sangue, a mão foi até o controle que controlava o quarto, o que a garota recentemente apagou as luzes.

— Não tem por que deixar as luzes apagadas, não é? — Disse para a mulher, estando na diagonal com o samurai, após pegar o controle, o homem ligou todos os sons do quarto no máximo. — Droga... Não sei mexer nisso...

"Não acredito que essa porra deu certo" - Pensou no segundo em que o homem foi atordoado, o príncipe encarava a figura que se retirava, sinceramente, não conseguia ouvir o que ele falava por conta do som tão alto, apenas conseguiu ficar encarando a figura indo embora para enfim abaixar o som e se virar para a garota.

— Ta tudo certo ai?

Não tinha tempo para acalmar a garota, Ale'ek simplesmente virou em direção ao que se pronunciou e logo mostrou o distintivo, não disse nada para aquele homem a principio, apenas voltou para a garota e disse. — Vou levar seu celular, quer me acompanhar? Deixarei seu celular com a perícia, mas prometo que apenas eu irei ver. — Se ela negasse ir, o príncipe seguiria para onde tinha que voltar, usava o tecnophone dela para ver com certa atenção a todos os detalhes.

Com o guarda-chuva na mão direita e o celular na mão esquerda, tudo que o príncipe poderia pensar era no sobretudo que foi cortado, seus olhos enchiam de lagrimas por lembrar tudo o que passou com aquele sobretudo, mas não chegou a chorar; No momento em que viu o vídeo completo, a mensagem chegou no aparelho.

- "Todos têm seu preço" - Acompanhou a leitura, queria entender melhor quem era, mas não se aprofundou naquilo, deixou o número desconhecido sem resposta por enquanto. O polegar arrastou a mensagem pro lado e continuou vendo os vídeos, procurando agora uma recompensa pessoal, procurou fotos íntimas e até mensagens inapropriadas, afinal, salvou a vida dela, precisava de uma recompensa.

No momento que chegou no local da explosão, seus olhos cansados se ergueram para ver quem estava ali, procurou pelos dois cientistas para o relatório deles.

Ale'ek encarava a cena com certo desinteresse, no segundo em que a mulher falou sobre conseguir algo, não sabia o que havia acontecido mas o homem simplesmente acena negativamente com a cabeça, sua mão que estava com o celular pelo caminho fica escondida no bolso da calça. — Não... Nada relevante... Vocês que entendem podem continuar as investigações aqui? Preciso descansar... Se quiserem podem ir, amanhã voltamos a isso.

A voz de Ale'ek estava cansada, ele evitou conversar, ergueu seu tecnophone como se quisesse mensagem se fosse necessário, o capitão seguiu em direção a quem lhe deu sua missão, precisava entregar o relatório.

Sabia que não podia seguir mexendo no tecnophone da garota, por isso o olhar manteve-se baixo e um tanto quanto pensativo, não se deu conta de onde estava até ouvir a voz do superior, o que fez o albino erguer o rosto para encara-lo, no momento em que abriu os lábios para responder a pergunta do superior, conseguiu ouvir o rádio sobre a perseguição.

— Talvez... Você considera ser atacado por aqueles que estão anunciando no rádio uma sorte?

Quando ouviu o tal nome, não sabia se poderia ser e por conta disso, por causa da duvida, o rapaz simplesmente acenou negativamente. — Não, era outra pessoa... Um samurai chamado "Bastião", ele foi para assassinar ou sequestrar uma Iormashiana filha de um importante membro da aliança... Eu protegi ela, mas ele fugiu... Está tudo em ordem por enquanto...

Ale'ek respirou fundo enquanto estralava o pescoço, queria entender melhor o celular da tal, mas não podia negar uma missão como aquela. — Eu posso ir atrás deles dois, só preciso de um veículo... E pela distância... Velocidade, alguma espécie de moto está perfeito.

Finalmente chegou ao destino, o capitão tinha os pensamentos invadidos por infinitas combinações de escolhas e feitos que poderiam alterar o passado e influenciar o presente, era confuso, seu olhar era sempre de cansaço e distração, porém desta vez a aura de tristeza e melancolia realmente era palpável ao seu redor. Ao descer da moto, o homem carregava consigo a espécie de cartão que servia como chave para a ignição da tal, queria entregar para Buck antes de voltar para casa.

O homem não teve reação alguma em relação ao que ouviu sobre o dinheiro, seus olhos se mantiveram nos olhos do superior enquanto ele falava, principalmente no momento em que ele falou sobre arranjar coisa boa, isso realmente pareceu suspeito, por que um oficial estava trabalhando como um pseudo-mercenário? Bom, eram coisas que o capitão não iria pensar no momento, ele apenas acenou com a cabeça para poder se retirar o quanto antes, tinha muito trabalho pra fazer no celular da garota.

Ao caminhar em direção a sua casa, o que não era uma casa muito boa, vivia em um bairro muito humilde comparado a toda a cidade, morava em uma espécie de prédio pequeno, não vivia no térreo e muito menos na cobertura, era praticamente no meio. O rapaz ao caminhar para o interior do prédio cumprimentava as idosas que conversavam nas escadas, as crianças brincando e os senhores jogando. Quando finalmente entrou em seu apartamento, o homem colocou o guarda-chuva no local de sempre, atrás da porta, retirou as roupas e seguiu em direção ao banheiro para tomar um banho quente e demorado, querendo esquentar o corpo depois do longo dia de trabalho em baixo da chuva fina e do vento gelado.

Quando a água quente tocava a pele alva do rapaz após escorrer pelos cabelos brancos que grudavam em seu corpo, em sua mente chegava a doer de tanto que pensava, seu pensamento correu todo o seu dia, iniciando quando chegou de viagem para fazer a missão, missão essa que não era bem uma missão e sim um treino, treino que falhou de forma vergonhosa. Podia sentir em suas narinas o vento areoso e o tempo quente daquele local que treinou, mas após isso logo teve que falar com Buck, um homem que tinha pouco conhecimento mas lhe deu uma missão que deveria ser importante, deveria ser de nível vermelho, mas não teve tanta atenção já que dois principiantes foram designados para a tal. O albino moveu-se dentro do chuveiro para virar em direção a parede, colocando a mão direita na tal, sentindo a diferença da parede gelada pro próprio corpo recém esquentado pela água, sua pele antes branca se tornava avermelhada por conta da água quente que batia em suas costas e escorria por todo o corpo.

Após alguns segundos sentindo a água bater nas costas ele finalmente começou a se limpar com os produtos que haviam ali, nunca se acostumava com os nomes e as formas de uso, alias, viveu muito tempo tomando banho quase afogado por graça aos seus "donos", não demorou muito para terminar de se limpar e enfim sair do banho; Puxou uma toalha branca que estava próxima ao chuveiro, não tão perto para ser molhada durante o banho, porém em um nível que não precisa molhar o banheiro todo para buscar. No momento em que começava a enxugar seu cabelo, o homem lembrava de tudo que Buck falava, realmente agia como um mercenário, mas não tiraria conclusões precipitadas sem buscar o conhecimento necessário.

Quando saiu do banheiro, com a toalha enrolada na cintura, o homem seguiu em direção ao sofá, onde havia deixado o tecnophone da garota, pegou ele e mandou uma mensagem para a tal pessoa desconhecida, queria acabar com aquela duvida logo e ficou esperando a resposta.

Não demorou para a resposta chegar, realmente era muito estranho, as palavras não faziam sentido, "provavelmente"? Não tinha muito o que pensar.

Foram as últimas palavras do homem antes de largar o tecnophone e ir dormir, estava cansado então não demorou para logo pegar no sono.

Seu despertar sempre foi com o exato choro de criança que nasceu a poucos meses, não era um barulho agradável, porém já se acostumou e realmente iria estranhar se ele não ouvisse pela manhã, isso e logo a gritaria do vizinho Garesiano homossexual com seu parceiro Jhayresiano, ambos gritavam com os pais da criança que choravam e aquele era o café da manhã do capitão. 

Ale'ek se levanta em seu quarto totalmente escuro, não podia sentir o sol em sua pele e por conta disso permanecia com todo seu apartamento fechado daquele jeito; O homem caminhou até o banheiro para tomar um banho e escovar os dentes, demorou um tempo até ver a mensagem de Konira.

- "Garota? Ela tá falando dá--... " - Se perguntava mentalmente enquanto notava que seu sobretudo havia sido morto no dia anterior, os olhos enchiam de lagrima e um filete de água salgada acabava maculando a pele alva do homem, seu sobretudo, as fotos, tudo deu errado ontem, sua garganta parecia ter um nó que jamais seria desfeito.

Ao responder, ele seguiu para se arrumar para enfim sair e ir trabalhar, enviando uma mensagem depois para Buck.

Não tinha muito o que falar, ele simplesmente acenou positivamente, mesmo que o sargento não pudesse ouvir, ele seguia para onde deveria, enviando uma mensagem apenas de um positivo para Buck, simbolizando que aceitou o serviço.