Caça Incessante

Um sorriso largo se abre a partir dos lábios secos que seguram o cigarro. Delicadamente, o Doutor aproxima a serra dos olhos de sua cobaia e inicia uma incisão. Sem preparação, sem aviso e sem anestesia. Se perguntava quanto tempo ele demoraria para desmaiar ou se morreria pela perda de sangue.

Começou apenas depois de ligar uma câmera com visão noturna presa à parede. Ele adora gravar suas cirurgias para depois divertir-se assistindo os gritos de seus experimentos. Não conseguiu conversar com Ale'ek, então esperava que ele ao menos gritasse. Como ele não foi cortês, não pouparia força durante o procedimento.

Ale'ek provavelmente demoraria um dia para recuperar seus sentidos, e muitos anos para recuperar-se da dor. Seria claro que um médico ético e correto não estaria disposto a atender os pedidos do pirata, e a Máscara arranjou o único do universo capaz de cometer qualquer atrocidade médica em troca de um pedaço de carne para brincar.

Durante seu caminho, Ale'ek pode presenciar um plantão de notícias nos outdoors holográficos da grande metrópole. Nele, exibem-se informações sobre Renard, o médico Iormashiano que salvou centenas de pessoas numa operação arriscada contra a praga que afetou a cidade no dia do ataque terrorista. Sendo apresentado como um herói, ele dessa vez recebe grande destaque em filmagens e é mencionado em entrevistas dadas por pacientes e por enfermeiras como um homem corajoso, habilidoso e, ainda assim, misterioso.

A partir disso, discussões novamente são levantadas sobre a proibição de implantes cibernéticos. Comentaristas do telejornal alegam que um médico normal não poderia ter realizado a operação como Renard fez, e que graças a suas habilidades aumentadas ele foi capaz de salvar todas aquelas vidas. Outros, porém, voltam a reforçar que o implante cibernético sem controle pode ser arriscado e a adaptação do organismo com a máquina pode ser difícil.

A programação é rapidamente interrompida por uma filmagem ao vivo e urgente. Na imagem um pouco tremida vê-se o que a minutos atrás era o shopping central de Gradopolis, reduzido a cinzas e fumaça por um explosivo que compartilha características similares aos utilizados pelos terroristas. A julgar pela área destruída, aquele fora o maior lançado até então. Na cena, uma multidão agora se reúne ao redor de um homem negro, o qual a reportagem anuncia como militar.

Buck está na frente do quartel no qual Ale'ek o visitara antes. Ele segura seu technophone e diverte-se assistindo algo nele. Poderia ser a reportagem, que todos os outros soldados do batalhão assistem, mas na realidade é um filme de cowboy do séc. XX.

— Hahahaha, esse Clint Eastwood era foda. — Ele ri com uma cena de ação genérica e mal-feita (para os padrões atuais) com briga de pistolas no faroeste. — E aí, meu querido, como foi a viagem?

Buck não parece preocupar-se em ler o relatório no momento e apenas guarda-o sem desvencilhar-se do filme de ação que assiste. Ele é bastante focado em trabalhar quando é para trabalhar e divertir-se na maior parte do tempo, e dentre suas prioridades certamente não está ler relatórios agora.

Seus olhos deslizam para o pirata quando ele realiza a posição de sentido, e é visível que ela o incomoda bastante. A formalidade militar no geral o desagrada e ele deixa isso bem claro com um arquear de sobrancelhas sarcástico para Ale'ek.

— Bom, dizem que tem coisas explodindo por aí mas não podemos fazer nada a respeito. Atualmente, nossos esforços estão em rastrear e neutralizar bases da Reconquista, e é por isso que essa porra aqui que você me entregou é importante. Tuntau é uma colônia em potencial pro inimigo e a gente precisa neutralizar isso.

Durante a conversa, uma notificação chega no dispositivo de Ale'ek. Seu remetente é Konira, a Jhayesiana que vinha auxiliando-o junto com o Garesiano na investigação dos explosivos que os terroristas utilizam.

Konira escreveu:

Infelizmente estamos empacados, senhor. Vamos ir até o shopping que foi destruído agora tentar colher mais amostras já que foi a maior explosão até agora, mas o rastro ficou frio e faltam evidências. Vou te manter em contato qualquer coisa.

O conteúdo do technophone que Ale'ek obteve era aparentemente importante para a investigação, e sem ele o trabalho seria bem mais difícil. A esperança de conhecer o armamento inimigo e encontrar uma maneira de pará-lo está agora nas mãos da Máscara, conhecida por ser a maior chantagista da galáxia.

— Agora que eu olhei... andou fumando maconha? Que porra é essa no seu olho, maluco? — Ele desliga finalmente seu filme diante da situação, mas a pergunta é quase retórica. Não espera que um soldado que se importe com continências admita para seu superior que anda fumando maconha. — De qualquer jeito, você pode ajudar na frente de batalha contra a Reconquista ou pegar um trampo mais leve como o de rastrear mais bases pra gente neutralizar. Quer ser o cara que bate ou o que manda bater?

Não deu tanta atenção para a mensagem do tecnophone quando abaixou um pouco o rosto para lê-la e por abaixar o rosto deixou seus olhos um pouco expostos, o que, ao notar que seu superior reparou aquilo, ergueu a cabeça com certa velocidade. — Eu já trabalhei muito como burocrático, está na hora de ir pra cima deles... Eu quero exterminar rebeldes, mas não acho que isso irá levar muito do meu tempo, então eu ficarei com os dois serviços, irei para o primeiro localizado para extermina-lo e buscarei mais e mais.

Ergueu o rosto em direção ao telão que passava a noticia da explosão do shopping. — Sabe de algo relacionado aquilo? Pode estar ligado a minha investigação sobre a primeira explosão? 

Um sorriso sarcástico abre-se em meio a barba bem-feita de um típico homem que se orgulha de ser homem. Agora mais próximo, Ale'ek pode notar que Buck orgulha-se de ostentar marcas de chupões em seu pescoço e batom em sua roupa como todo grande idiota metido a galã. Apesar do jeito estranho, ele aparentemente havia chegado do nada em Gradopolis e já estava passando por cima das ordens de todos sem ao menos ser contestado.

— Não têm problema fumar maconha, eu não ligo. Quem vai tomar um tiro por estar sonolento é você e não eu, mas pelo menos quero saber o que os homens que eu comando fazem. — Ele dá de ombros, finalmente guardando seu aparelho e recompondo a própria postura para conversar direito com o capitão.

Ele olha em direção a um dos outdoors que exibem a cena. Aparentemente ele vinha ignorando-a até então mas se anima ao ver o homem mostrado como herói naquela situação.

— Olha só se não é o negão que eu tirei da cadeia hoje. Eu mandei ele ir comer alguém e ele foi salvar gente! Têm uma galera que não sabe curtir. Tipo você, chegou agora e já quer fazer mais. — Ele dessa vez apanha o relatório, mas ao invés de olhá-lo com calma pula direto para as últimas páginas. Deixaria para lê-lo formalmente depois de seu filme. — Desde que você saiu, mais duas construções foram atacadas. Sim, os explosivos são da mesma origem daquele que você investigou. Você têm alguém pra perder? Se tiver, tira dessa cidade antes que exploda do nada.

 

Um misto de inquietude e tristeza se revela no semblante de Buck com a declaração de Ale'ek. Mesmo sendo uma Sombra, o soldado jamais privou-se de qualquer tipo de interação social ou contato, mas já viu muitos homens com quem treinou fazerem-no. Quem sabe o pirata não daria um soldado ainda melhor do que ele é depois de algum treinamento... mas a custo de quê?

— Eu não sou de me envolver, mas tenho meus contatos. Umas mina que posso comer e depois juntar pra assistir alguma coisa e esfriar a cabeça, ou parceiros para encher a cara e afogar as mágoas quando a buceta não funciona. Seu caminho é eficaz, Ale'ek, mas é foda. Pensa bem antes de seguir ele.

Pela primeira vez, Buck parece sério. Sem nenhuma piada, sarcasmo ou trago de cigarro intencionalmente na cara. Por trás daquela banca toda ele parece se importar com aqueles que comanda.

— Eu acabei de mandar uma mensagem pro negão. Libertei ele ontem, tava em prisão disciplinar, mas ainda não dei nenhuma ordem. Se quiser levar de sidekick, sinta-se a vontade. Talvez vocês acabem se entrosando e isso vai te ajudar.

Normalmente, Buck não coloca soldados para trabalharem juntos. As palavras de Ale'ek, porém, fizeram-no mudar de opinião.

Não pode evitar de analisar a forma como ele agia, realmente parecia triste e queria ter algo que não teve, o platinado ergueu a mão destra até o ombro do superior, dando um toque no local, quase como um tapa. 

— As vezes isso não é tudo, senhor. — Se referiu a ele usar a buceta e descartar assim como apenas beber com os amigos; De toda forma, quando ouviu sobre levar o negão, apenas acenou com a cabeça. — Quando você me enviar as coordenadas do primeiro local onde iremos, partirei para buscar ele e logo exterminar...

Buck solta um riso leve. Dessa vez não sarcástico, mas sincero e reflexivo, como se pela primeira vez em muito tempo tivesse uma interação normal com alguém, longe do mistério que ser uma Sombra automaticamente te imputa, como se fosse uma entidade sem personalidade própria.

— Eu gosto de você, maluco, só não lembro o seu nome porquê é muito difícil. Deveria arrumar um apelido. — Ele descontrai, mas ainda carregando sinceridade no discurso. — A gente devia tomar uma cerveja um dia desses.

Através de seu technophone, envia uma mensagem para Frederick para confirmar se está disponível. Independente da mensagem, afinal, enviaria Ale'ek até o outro homem a seu comando e deixaria-os trabalhar. O que poderia acontecer de ruim afinal?

— Vai lá, eu vou ver se acho algo pra você e te envio de mensagem. Por enquanto faz amizade com o negão, e isso não é difícil. O cara não tira aquele sorriso nunca - e isso é muito bom pra achar ele de noite.

A nave que leva Ale'ek de volta para Gradopolis é conduzido por piloto automático e já ajusta seu equilíbrio até pousar perfeitamente no hangar militar. Àquele ponto, Frederick ficou em Shinar e o capitão retorna sozinho com mais uma missão concluída.

Buck escreveu:

Você tá voltando, e eu recebi uma mensagem de um comandante aposentado da Aliança agradecendo por ter te enviado e dizendo que já liberou os prisioneiros.
Sabe, maluco, na primeira vez que te vi achei que era só um moleque franzino querendo impressionar, mas você faz as coisas. Preciso falar contigo quando tiver em Gradopolis, por isso venha pro meu apartamento quando tiver suave.
Você já esteve numa entrevista de emprego? Vou te mandar meu endereço e uma temporada inteira de "O Aprendiz" anexada caso você queira ter um feeling. Té mais, traz cerveja.

Buck mora num apartamento isolado nos subúrbios de Gradopolis. Mais precisamente num bairro afastado e conhecido por bares pequenos, jogos de azar e casas noturnas. Combina com o sargento.

Ao chegar no local, Ale-ek pode encontrar a moto que já lhe foi emprestada e a porta totalmente aberta. Uma música alta com uma qualidade de audio baixa estoura por entre os arredores e explica as janelas fechadas dos vizinhos mesmo durante o dia.

Trata-se de uma música terráqueo de uma banda de rock do século XX, trilha sonora de um filme icônico da época. E isso colabora com os diversos posters nas paredes da casa para construir a imagem de Buck: um colecionador de antiguidades terráqueas. Isso explica os filmes e músicas antigas que sempre o acompanham.

Quando vê a aproximação de Ale-ek através de uma pequena câmera, abaixa o som e aproxima- se da porta. O sargento pela primeira vez está com roupas casuais, o que revela um item peculiar em seu pescoço: uma dog tag serrilhada com um símbolo único em seu centro.

Ale'ek, com seu conhecimento, pode identificar a origem do símbolo. Trata-se da identificação de uma Sombra, força de elite da Aliança que é tratada como mito ou teoria da conspiração para muitos.

Uma Sombra é um soldado especializado que trata diretamente com o conselho intergalático e realiza o trabalho sujo governamental. Invade sistemas, exila políticos e até mesmo mata sem sequer questionar. O pagamento e o poder de uma Sombra, porém, é único.

Além de terem os melhores salários, dog tags magnéticas como a que Buck usa são capazes de conceder acesso integral à melhor IA já programada e , com isso, passam por cima de qualquet soldado ou sistema. Provavelmente foi assim que ele mudou o curso da perseguição pelo terrorista que Ale'ek enfrentou.

— Entra aí, grande. Como foi lá?

Mesmo com a seriedade da situação, a casa de Buck não está nem um pouco pronta para receber qualquer tipo de reunião. Em meio a uma bagunça que parece infinita, uma mesa de centro está previamente preparada com uma cadeira em cada extremidade. No meio dela há um tablet e um par de algemas.

— É isso que eu esperava, garotão. Sabe, em meio a um bando de soldados preguiçosos e sem motivação, você realmente deixa as coisas feitas - e rápido. Fez serviço de gente grande e em tempo recorde. — Ele começa enquanto caminha em direção a mesa e apoia as mãos nas costas da cadeira. — Mas têm algumas coisas que eu ainda não entendi sobre você. Entre outras coisas, marquei essa resenha aqui pra gente tirar algumas coisas a limpo, manja? Já que ninguém têm bolas de botar vocês pra fazer algumas coisa, eu meio que virei o responsável por fazer algumas coisas funcionarem por aqui.

Pela primeira vez num tom mais sério que combina melhor com um sargento, Buck fecha a cara e usa um controle remoto para desligar o som da casa.

— Eu tomei tempo pra ler seus relatórios, e comparei com o de algumas pessoas. Durante sua investigação com a pequena equipe científica que aceitou, o cabeçudinho escreveu que rastreou um aparelho ligado no momento do ataque, e que você foi buscá-lo. Uma hora e meia depois você voltou sem o aparelho. Seria apenas uma falha, mas você salvou a filha de um político de um assassinato no mesmo dia - o que é bom. — Ele enfim senta-se e entende a mão, convidando o pirata a fazer o mesmo à sua frente. — O problema é que o depoimento dela cita que você levou o aparelho. A não ser que você o esteja guardando até hoje pra bater punheta, imagino que já não teja mais com ele. Mandei rastrearem e é literalmente impossível encontrá-lo. Alguém muito habilidoso em hacking apagou seu IP.

O tom da conversa estava sendo levado a um patamar mais estranho, o olhar de Ale'ek por trás do óculos manteve-se quieto enquanto acompanhava a figura do homem gesticulando para articular melhor a conversa, e quando finalmente teve a oportunidade de falar, o soldado não gaguejou ou travou. — Sim senhor, porém, infelizmente o aparelho foi furtado de meu quarto na manhã seguinte, eu tinha pego ele para pesquisar. Parte da minha pausa no show de marte foi para tentar encontra-lo, irei recupera-lo, lhe garanto isso, senhor. — Cerrou o olhar enquanto encarava Buck por trás da lente.

— Então você não é um traidor, só é meio burro. Eu falo que a maconha faz você fazer merda. — Ele dá de ombros, parecendo convencer-se da sua maneira. De qualquer jeito, dá-se por satisfeito por enquanto. — Mas não ache que vou deixar isso barato. Vou ficar em cima pra você recuperar essa merda aí.

Desviando temporariamente o olhar, ele apanha um cigarro no bolso da calça e acende-o com pressa. Logo em seguida, lança a caixa para Ale'ek para oferecê-lo o tabaco.

— Como eu disse, isso aqui é uma entrevista de emprego. — Ele dá de ombros, parecendo convencer-se da sua maneira. De qualquer jeito, dá-se por satisfeito por enquanto. — Mas não ache que vou deixar isso barato. Vou ficar em cima pra você recuperar essa merda aí. — Ele dá uma pausa e toma tempo para tragar sem cigarro. Depois disso, usa um aparelho holográfico para exibir algumas imagens de um filme antigo. — No filme "O bom, o mau e o feio", existem três personagens principais que trabalham, por vezes juntos e por vezes separados, para encontrar um tesouro escondido. O bom é vivido pelo Clint Eastwood e, na história, é um caçador de recompensas que sabe o nome da cova onde o ouro está enterrado. Ele é o mais piedoso dos três e por vezes conforta os mortos, além de sempre mostrar respeito por eles. Ainda assim, sua missão é gananciosa em meio a todo o caos que presencia. O mau é um mercenário frio e cruel que faz o necessário para que o trabalho seja concluído, inclusive torturar e matar inocentes. Se alguém pedir algo, ele fará em troca da recompensa. O feio é um mexicano escroto, um pouco atrapalhado mas ainda assim corajoso quando se trata de sua tarefa. Por vezes, é até mesmo inocente. Com qual dos três você se identifica e por quê? Precisa ser sincero.

Ele parece pensativo por alguns instantes, mordiscando o lábio inferior que está ressecado pelo uso de tabaco. Finalmente, ergue o braço pela mesa de centro e apanha as algemas apenas para guardá-las no bolso de sua calça. Resta agora o documento.

— Não têm bem uma resposta certa pra essa pergunta, afinal os três têm o mesmo objetivo. O que importa é quem faz o trabalho melhor. — Ele divaga, contente pela escolhe de Ale'ek. — E nesse caso é você.

Dentro da pasta destacada no centro da mesa, há um contrato e uma dog tag parecida com a de Buck. O sargento abre o documento e dispõe ambos os itens em frente ao pirata.

— Eu sou parte de um grupo de soldados de elite que responde diretamente ao Conselho. Nós fazemos a parte feia e importante do trabalho e não temos direito de questionar ou hesitar; apenas de fazer. O pagamento é bom, mas pode custar a sua vida se pisar na bola. Quero te apadrinhar como um membro em progresso dessa equipe. Isso significa que você estará em observação e ainda não será considerado um integrante essencial, mas terá privilégios e realizará tarefa de gente grande. É como um estagiário.

No contrato, cláusulas explicam a alta periculosidade do trabalho. Trair a Aliança sendo uma Sombra traz consequências muito piores do que um puxão de orelha de Buck, afinal você não está regido pela brigada militar e sim pelo Conselho, seguindo as suas próprias regras.

— Não vou mentir, apesar de você ser um soldado habilidoso e capaz, sua nomeação tem um fundo político. Sua ascendência, que inclui genes de raças politicamente tretadas, representa uma temporária união. Talvez você não tenha se antenado nas últimas notícias por estar em missão, mas a Aliança está se preparando para uma guerra. Claro, você não é obrigado a aceitar e vou continuar te convocando para missões periódicas, mas saiba que esse convite não se faz a qualquer um. Nos muitos anos de existência desse grupo, jamais houveram mais do que cinco membros.

Buck dá um sorriso de canto, claramente satisfeito com a decisão de Ale'ek. Ele então puxa o technophone de dentro de um dos bolsos de sua calça, verificando alguns arquivos.

— Fico feliz que tenha aceitado, até porque são poucas as pessoas que sabem da existência de nosso grupo. Mas também espero que todo esse seu interesse por missões aí seja verdadeiro, porque logo mais vai ter que partir pra uma importante. Não sozinho, claro. Mas se fizer tudo direito, o que é essencial para obtermos sucesso, tá aí uma boa chance pra ser "promovido".

Ele larga o aparelho após desligar a tela e une suas mãos sobre a mesa, aproveitando para apoiar parte de seu peso sobre os braços e olhando diretamente para o mestiço.

— É o seguinte, não posso te contar detalhes no momento, mas recentemente descobrimos a localização de uma base da Reconquista. Vamos precisar que você e mais dois agentes nossos partam amanhã cedo para lá e deem um jeito de invadi-la. Entendeu? — Questiona, encarando-o por um breve momento enquanto dá uma pausa. — E não se preocupe, os outros agentes são experientes. Quer dizer, um deles é, pelo menos. — Ele não deixa claro se está brincando ou não, apenas dá de ombros ao final.

Buck estreita os olhos e puxa um cigarro de um dos bolsos frontais de seu uniforme, acendendo-o em seguida. Enquanto dá uma longa tragada, ele vira a cadeira ativa um grande painel de HUD atrás de si. Neste, há uma lista imensa contendo nomes com a foto e seus respectivos contatos de agentes da aliança, além de algumas informações adicionais sobre cada um. Ele faz uma breve pesquisa, e assim que verifica a presença de Amy na lista, volta-se para Ale'ek mais uma vez.

— Ah, essa Amy... Ou melhor, Kate Amélia Anvil. Os pais dela são renomados dentro da Aliança, e ela parece ser capaz e confiável, embora mimadinha. Além disso, um parceiro meu cuida dela desde que começou a fazer missões pra nós. Parece uma boa escolha, se você tá disposto a lidar com ela. Pode ser difícil, mas é uma menina bonita e parece ser o estilo dela de trabalho, pelo histórico. — Ele dá de ombros.

O homem dá mais alguns tragos no tabaco e continua olhando informações mais detalhadas sobre a garota, mais por diversão do que por necessidade. Ele então solta a fumaça e vira a cadeira na direção do mestiço mais uma vez.

— Mas as musiquinhas que ela faz... Bom, já não se fazem mais músicas como antigamente, né? Bom mesmo é Johnny Cash, aquele cara sim era foda. — Ri e balança a cabeça negativamente, enquanto mexe no technophone apenas para colocar uma música do mesmo artista para tocar, apreciando-a. — Mas e aí, quer o contato dela ou já tem?