Honra em sangue.

*Agradecida por pelo menos deixarem ela ficar junto da criança, Ellora não demonstrava sinais que iria resistir à prisão, não só pelos motivos de estar em total desvantagem mas também, porque assim com sorte, seria levada para o mesmo local que Heylel e a criança, torcendo para que sua dedução estivesse certa e eles não fossem separados.
Se deixava amarrar e caminhava sempre mantendo a atenção no que fariam, especialmente em relação ao pequeno ao lado dela, mas logo sentia sua consciência começar a abandoná-la, com ela ainda fazendo força para permanecer acordada querendo pelo menos ver para onde estavam indo.
Mesmo assim era como tentar lutar com areia em seus olhos que iam ficando pesados, e a sonolência a vencia completamente. Ellora se sentia em uma espécie de escuridão e não sabia muito bem por quanto tempo tinha permanecido assim, até que algo na face a fazia despertar lentamente, além de ouvir a voz de Heylel vindo de algum lugar muito longe.
Aos poucos ela abria os olhos e tossia, com uma sensação de dormência a dominando ainda, deixando ela ainda meio atordoada e o corpo estranho, algo que ela realmente não gostava nem um pouco de sentir. Ao ver e ouvir o rosto e as palavras de Heylel, ela abaixava a cabeça, murmurando.*

- Heylel.. desculpa, não consegui te ajudar... e não te curei o suficiente...

*Ela suspirava e encarava as próprias mãos agora, tornando a falar mas em um tom baixo.*

- Se tivessem te ferido mais.. ou te matado... eu teria falahdo de novo...

*Ela murmurava e por um momnto, uma expressão realmente triste passava pelo rosto da mestiça. No entanto ela logo se recuperava e erguia a cabeça, fitando os companheiros com uma nova determinação, olhando em volta realmente surpresa e confusa, mas perguntando com preocupação.*

- Vocês estão bem? E.. ahn.. estamos em um deserto ou o que? Espero que não tenham nos colocado em um forno, eu não sou boa pra ser uma refeição...

*Vendo que os dois estavam bem, Heylel deu um cara de cu, por momento acreditava que aquele imbecil que o jogou ali não era tão ruim assim, todavia, o dito de Miyano o chamou a atenção, então voltou a olhar ao redor buscando perceber alguma coisa que deixou passar batido, bem, pelo cenário não parecia ser uma prisão, faltavam muros altos e talvez grandes no céu para impedir a fuga, ou talvez os tais muros estavam mais longe do que podiam ver devido tantas construções ao redor*

-Acredito que sim, mas devemos dar uma olhada, até agora só parece uma favela mesmo. *O murmuro de Ellora o chamou a atenção, colocou então a mão sobre a cabeça dela e começou a afagar, queria mesmo dar uma bronca sobre ela não ter atirado quando ordenou, só que agora pensando com mais calma isso nem faria sentido*

-Vai ficar tudo bem, agora que está tudo mais calmo você pode terminar de me curar, né? Sem pressa, se aqueles bárbaros não tiraram nossos equipamentos é porque de alguma forma acreditaram que somos aliados, apenas nos deixaram aqui para não mancharem a reputação com os nativos, então por enquanto não iremos fazer nada, apenas estudar o local e esperar, afinal, se eles quisessem ter feito algo ruim, teriam feito enquanto dormíamos, só que tudo indica não houve nenhum abuso, ao que parece eles não são tão selvagens assim. *Por estar calor ele retirou a camisa ficando só com a calça mesmo e se sentou de costas para a Zathriana para que ela pudesse fazer a cura que talvez fosse mais eficiente com ela fazendo de perto mesmo e não a distancia como antes. Nessa posição ele seguia observando usando a própria mão de viseira para proteger os olhos com uma sombra sutil*

*Ela ainda fitava Heylel como se esperasse algum tipo de bronca ou palavras descontentes, com uma expressão resignada na face, mas que logo se tornava surpresa ao sentir os cabelos sendo afagados e a resposta do capitão, não conseguindo evitar e deixando a pergunta escapar antes que pudesse impedir.*

- V..você não está bravo? Sabe.. do tipo.. “essa mestiça não faz nada direito!”...

*Ela fazia as “ na mão, e dizia como se estivesse imitando qualquer pessoa que talvez tivesse falado algo parecido no passado para ela, mas acabando por balançar a cabeça e logo mudando de assunto, tornando a dizer agora mais calma e confiante.*

- Isso é um pouco estranho, nos cercarem daquela maneira, ameaçarem e agora só nos deixarem aqui nesse lugar? Será que possuem armadilhas tão perigosas que nem precisam de outra coisa pra manterem os prisioneiros aqui?

*Ela lançava um olhar em volta outra vez, realmente pensativa e confusa com aquela prisão, não se parecendo nada de outras que o pai uma vez tinha contado para ela como eram.
Por enquanto, ficava refletindo sobre o assunto e ao ver Heylel de costas para ela, logo erguia uma das mãos e com cuidado a pousava na região em que o albino tinha sido atingido.
Se concentrando na própria energia mística, Ellora agradecia o fato de ter conseguido tempo para se recuperar e como antes, fazia uso de sua cura, torcendo para que dessa vez ela fosse o suficiente para terminar de recuperar Heylel.*

- Vamos lá...

*O albino ergueu o cenho em sinal de interrogação com aquela fala da mestiça sobre dar bronca, sim, era de seu desejo inicial antes de cair desmaiado, agora, como já mencionado, não havia sentido algum nisso. Ficou olhando para frente tentando pensar em algo para dizer, sem duvida Cody era muito melhor do que ele nisso só que tinha que falar algo, então após alguns segundos respondeu*

-Não, não estou... Bem, é uma possibilidade que faz sentido, teremos que ir para um lugar alto para observamos melhor, mas antes, como está indo a cura? *Prendeu então sua própria camisa como uma especie de bandana sobre a cabeça cobrindo seus cabelos brancos mais por causa da conveniência do que para se proteger do calor de fato. Seguia olhando em frente com os olhos protegidos pelos dedos que ainda formavam a sombra*

- Você é engraçado Heylel... desde quando te conheci, nunca achou ruim que eu ficasse perto, e agora até me deixou te tocar pra te curar... e ele também me deixou abraçar ele...

*Ellora apontava na direção da criança, tendo uma expressão realmente pensativa e um olhar surpreso, embora continuasse com a outra mão encostada na região em que curava o ferimento de Heylel, mas demonstrando estar de certa forma admirada com as atitudes dele e do menino.*

- Está indo tudo bem, consegue sentir alguma melhora?

*Ela logo se forçava a voltar para a cura novamente, se concentrando e tornando a utilizar sua energia mística em Heylel, com o curar entrando em ação outra vez enquanto a mestiça também refletia sobre as palavras do albino, mordendo o lábio pensando sobre irem para um local mais alto e se perguntando onde seria o lugar mais próximo que daria a eles uma visão de onde estavam e se conseguiriam um jeito de sair dali.*

- Hm... não é estranho? Com tudo tão futurístico, aqui parecer algo... sabe, parece que pararam um pouco no tempo por aqui...

*Sentado ali observando as coisas, Heylel sentia seu corpo totalmente revigorado a ponto de não restar uma unica cicatriz nele como sempre, tratou então de colocar os dedos no local restaurado e confirmar por si só, aquilo o fez dar um sorriso simples de satisfação e na sequencia ele logo se levantou*

-Por que eu acharia essas ruim e não te deixaria me tocar? E Miyano é um bom menino, vou trabalhar para que em próximas vezes ele não fique tão exposto, e sim, estou ótimo, e obrigado por aquela hora, se você não tivesse agido eu provavelmente teria morrido. *Começou a supor que ela poderia estar cansada depois de tanto usar sua energia mistica como suporte, então em vez de arrasta-la consigo para o lugar mais alto que encontrassem para saberem melhor como se situar, decidiu dar uma pausa e esperar que a mesma descansasse, afinal de contas, não estava com pressa por supor que os Okros haviam, no fundo, acreditado em sua história já que os deixaram ali até que em bom estado*

-Falando em melhora você também precisa descansar, e não se surpreenda, alguns povos insistem em se manterem primitivos, é dai que vem o preconceito com ciborgues como eu, alguns seres simplesmente odeiam tecnologia e isso infelizmente não são casos raros. *Não sabia que Ellora também era uma Cyber então por isso não mencionou "nos" e sim "eu". Sentiu um formigamento estranho onde novamente anunciava a aproximação de um cavaleiro ou de algum usuário da nanosuit da Reconquista; olhou para os lados buscando algo ou alguém só que não conseguia identificar, estava perto, só que fora do seu campo de visão e já supunha ser quem era, só que se ela estava ali, era escondida, então não podia simplesmente expô-la tendo que ter no minimo um plano antes*

-Quando recuperar toda sua mana me avise, você já foi uma caçadora não é mesmo? Se eu conseguir te deixar em um lugar alto você consegue usar a Visão de Águia? *Visão de Águia é basicamente marcar todo o perímetro, pontos de interesse, possíveis inimigos e etc, uma estratégica básica usada na Reconquista geralmente por franco-atiradores ou por pessoas de forte percepção que conseguem enxergar além do que os olhos podem ver*

- É que geralmente.. bom, era o que acontecia. As pessoas me mandavam sair de perto delas, ou não deixavam eu me aproximar nem pra apertarem minha mão.. mas até que isso era o mais leve que costumavam fazer e...

*Ellora percebia que havia começado a falar, mordendo o lábio surpresa consigo mesma e pigarreando, desviando o olhar para o lado e afastando a mão que ainda tocava o local do ferimento de Heylel, o observando conferir se a cura tinha sido completa e acabando por dar um sorriso, se sentindo satisfeita e feliz com ela mesma.
Não tinha conseguido evitar que fossem capturados, mas pelo menos de alguma forma utilizava cada vez melhor sua habilidade de cura, se virando para a criança e murmurando, antes de se voltar para Heylel.*

- Ah, Miyano, então esse é o seu nome? É um prazer, sou a Ellora. E.. Imagine Heylel, fico feliz que tenha funcionado. Prometo me esforçar mais para melhorar minha habilidade cada vez mais...

Quando ele se levantava, ela fazia o mesmo e suspirava, logo se concentrando e dando até para Heylel perceber a mudança na expressão dela, como se a mestiça o ouvisse e ao mesmo tempo não estivesse ali, embora ela já soubesse como meditar para recuperar sua energia, mantendo a atenção no que era dito a ela.
Aos poucos ela ia se recuperando, fitando o albino e não conseguindo deixar de se surpreender com as palavras dele, não se contendo e acabando por falar animada.*

- Oh, você também é um Cyber então? Que incrível! Eu também...

*Voltando a se calar, ela tornava a se concentrar e pensar em sua energia mística, adorando como podia senti-la circulando por todo o corpo dela, a envolvendo como uma onda e dando o equilíbrio que ela precisava naqueles momentos.*

- Na verdade já estou me recuperando enquanto conversamos.. e sim, consigo sim. Mas onde será que tem um lugar alto para isso funcionar?

Havia ficado calado enquanto observava o arredor com uma expressão confusa, porém curiosa. Nesse meio tempo, Ellora e Heylel pareciam ter se engajado numa conversa, então a criança preferiu não interromper. Além disso, Miyano parecia distraído em pensamentos, a maioria se perguntando que local era aquele e o que estava acontecendo.

Só veio a prestar atenção nos companheiros quando ouviu seu nome ser citado, quase que encarando os dois com uma interrogação em cima da cabeça. Havia perdido grande parte do contexto, então apenas ouviu os elogios, um tanto sem jeito.

- Também podemos tentar extrair informação dos habitantes e mercadores por aqui. - Sugeriu, não sentindo sinais de hostilidade por perto, então talvez fosse uma ideia válida.

Seu primeiro passo foi buscar por algum sinal, tentando entrar em contato com a IA.

*Pensando no que deveria fazer tanto para sair dali tanto em algum plano para seguir até a aliada que sentia estar por perto, Heylel seguia ouvindo Ellora sem entender muito o que ela havia passado, afinal, tudo o que ele passou foi merecido tendo em vista que atirou no próprio pai e traiu o próprio povo, assim sendo, ser perseguido, quase morto e algumas vezes excluído fazia parte, agora algo envolvendo preconceito realmente era fora de seu mundo já que nasceu e cresceu dentro de um ambiente confortável de uma família riquíssima*

-Não entendo bem o que deve ter passado, mas pode contar comigo para qualquer coisa, e sim, é sempre bom trabalhar no melhorar das habilidades, ainda mais uma tão unica quanto a sua. *A mão direita ficava abaixo do cotovelo esquerdo enquanto o palmo também canhoto ficava abaixo do queixo o segurando, o albino estava mesmo tentando pensar em um bom plano*

-Hm? Que discreta, mal percebi seu implante, deve ser camuflado como o meu, e bem, sobre o lugar, eu notei uma construção bem ali... *Olhou na direção da dita torre e acabou ouvindo seu... Filho? Acho que já pode chamar dessa forma, não, afilhado soa melhor, dando uma sugestão até que boa, só que... Bem*

-Extrair informações, é? *Comentou pensativo e se lembrava de uma vez onde teve que fazer isso onde por falta de diplomacia e excesso de intimidação ele perguntava a um homem enquanto o deixava pendurado de ponta cabeça em cima de um prédio segurado por uma corda prestes a arrebentar, nessa situação Cody ficava segurando a roupa do Kroyvisiano o sacudindo o pedindo para soltar o pobre individuo tornando a situação uma lembrança cômica que ilustra bem o quão sem noção Heylel é na arte de abordar os outros*

- Hm.. as pessoas geralmente não gostam que eu seja verde.. e não aceitavam a relação dos meus pais. Por isso, normalmente.. bem.. sabe, não foi nada agradável

*Ellora se calava novamente antes que começasse a tagarelar ou revelar mais coisas, pensando que na certa Heylel tinha outras coisas para se preocupar naquele momento, e ela não ajudaria em nada falando sobre o que tinha passado ou parecendo uma garotinha assustada.
Guardava o resto das palavras para ela mesma, voltando a se concentrar e se preocupando em recuperar mais da própria energia, se aproveitando do momento em que Heylel tirava para pensar e quando Miya também oferecia uma sugestão.
A mestiça agora fitava a construção que o albino tinha apontado, permanecendo ainda muito quieta e mantendo a meditação de antes, sabendo que por via das dúvidas, era necessário manter sua energia o mais alto possível, especialmente se entrassem em novos confrontos, embora não pudesse deixar de dizer em um tom brincalhão.*

- Sim, meu pai achou melhor disfarçar bem os implantes, será que você conseguiria descobrir onde ficam?

*Ela ria um pouco, embora logo recuperasse a expressão séria e a forma mais silenciosa e calma de ser, tornando a olhar para a construção e mordia o lábio pensativa, murmurando após alguns minutos em que tinha retornado para sua breve mas suficiente meditação.*

- Bom.. podemos tentar subir na construção e no caso das informações, Miyano pode estar certo mas..
O pessoal daqui não parece ser muito amigável; será que nos diriam alguma coisa?

Acima de uma torre de observação, localizada num dos extremos do vilarejo, um Okro chama a atenção de Nelai com o dialeto local. Ele traja uma armadura tecnológica que contrasta com o ambiente retrógrado e ostenta um rifle potente em sua mão destra.

— Oyu, bese. EH wo ocgá huxomjeh meh noyueh jec klyucyuemoyulec? — Ele exclama, com uma feição desconfiada. Em sua mão canhota é visível também um comunicador que ele segura com firmeza.

Miyano, apesar de tentar, não encontrará sinal algum por ali. Enquanto isso, muitos transeuntes continuam andando e parecem realizar atividades banais ali como carregar sacas com alimentos, ocasionalmente conversar e até mesmo encontrar-se com pares. Eles estão de fato em uma sociedade.

*Ignorando os sinais de cansaço de parte daquele pessoal, os demais pareciam estar no minimo satisfeitos ou contentados com a situação já que até mesmo casais se encontrando e interagindo era possível ver, aquilo deixava Heylel reflexivo sobre onde realmente estava, então acabou abordando casal sinalizando para Ellora que iria responde-la em breve sobre a questão, pois sim, iria testar na pratica*

-Oi, desculpa incomodar, mas... Poderiam me dizer onde estamos e oque está acontecendo? *Não tocou em ninguém, apenas sinalizou com a mão para chamar a atenção para si e então perguntar, usar métodos de intimidação não seria uma boa ideia e ser educado auxiliaria para quem não entende quase nada de diplomacia*

No porto, Kitty chega em uma tarde ensolarada. Já com a presença assustadora dos Gutaro no porto, os nativos que vivem nos arredores caminham livremente e trabalham para recepcionar espécies estrangeiras, ao contrário do que a gangue prega.

A Okro talvez conheça a facção. Trata-se de uma milícia popular agressiva que prega o afastamento máximo de Tuntau em relação a qualquer tipo de organização estrangeira, principalmente a Aliança. Apesar disso, não são como alguns que alia-se com a Reconquista, pois veem qualquer espécie alienígena como mal-intencionada e acreditam que a raça é capaz de ascender por mérito próprio.

Depois de sua chegada, não tarde até que seja abordada por um nativo. Ela não o reconhece, mas ele orgulhosamente ostenta o símbolo da ordem rebelde como uma tatuagem em seu braço esquerdo.

— Tuloogotc, Khty A'isath. — Ele diz com uma expressão séria no idioma nativo, mas logo desfaz a postura. — Eu enviei uma mensagem no canal da ordem porque vi um dos nossos sendo capturado pela Gutaro. Você atente a esse chamado?


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O Okro posicionado no posto de observação aperta os olhos ao olhar para Nelai disfarçada. Como aquela gangue se recusa a interagir com alienígenas, muitos deles sequer sabem que há uma raça capaz de alterar a própria aparência - e isso o mantém distante de sequer suspeitar que não se trata de uma nativa.

Não muito inteligente, ele insiste na comunicação por uns instantes e tenta sinalizar com a garota para que venha até ele, sinalizando uma pequena escada que dá na torre de observação. Ele parece estar sozinho, e nenhum outro desses postos é visível por ali.

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O casal interrompe suas carícias quando Heylel se aproxima. Ao ouvir o que ele tem a dizer, ambos se entreolham e parecem pensativos por alguns instantes, mas subitamente seguram as mãos um do outro e correm na outra direção, olhando para trás apenas para ter certeza que o ciborgue não os seguiria.

— Deixem prra lá, esses dois nunca vão te entender. Já estão aqui faz muito muito tempo, sim. — Pronuncia-se um Iormashiano que está sentado em um barril, logo ao lado do trio. — A maior parrte esquece depois de trrês anos, mas não eu, não.

Apesar do jeito estranho de se falar e de algumas palavras desconexas, o Iormashiano parece lúcido. Ele encara o pequeno grupo com um sorriso largo, e não tarda a levantar num pulo ágil para cumprimentá-los.

— Perrmitam-me me aprresentar: sou Nakir, sim. E vocês estão em Kakhaluto, a casa dos que são capturados pela Gutarro. Vão passar os próximos dez anos aqui então esperro que se acostumem com o cheiro engrraçado e com as pessoas um pouco malucas. Você, mirradinho do cabelo brranco. —  Ele se interrompe para apontar com sua garra afiada para Heylel. — Você vai passar vinte, eu ouvi eles falando. Tenho uma audição muito boa, sim.

*Em todos esses anos, foi a primeira vez que correram de si sem que ele fizesse nada além de simplesmente existir, e bem, supos então que não era sua fama já que aqueles que normalmente corriam dele mencionavam seu nome e traços de antemão, ou seja, se haviam fugido, era por outra coisa*

-Mas o que diabos... *Ouviu então uma voz peculiar vindo de seu lado e ao olhar ali viu sobre o barril um ser tão peculiar quanto. Aquele ali parecia querer cooperar e isso era bom, pelo menos alguém naquele cu de mundo não era um completo idiota*

-Prazer Nakir, obrigado por nos ajudar, eu sou Heylel, Heylel Fahrenheit, cavaleiro da... Ah, esqueça. *Imaginou que aquele Iormashiano não entenderia nada do que falaria sobre sua facção, nem mesmo reconheceria seu sobrenome, então deixou para lá*

-Então isso aqui é mesmo uma prisão, maravilha... Bem, pelo visto você já está aqui a um bom tempo, o que diabos você fez para esses otários? Se é que posso saber, inclusive, você por acaso não viu uma mulher de cabelos negros, pálida como eu, musculosa de olhos azuis e bunda e peito grande por ai não né?*Por mais que aquela figura fosse educada e até simpática, não quis correr o risco e ficou na frente de Miyano e Ellora para protege-los de qualquer gracinha, só que claro, fez isso sem deixar tão explicito seu senso de proteção por aqueles dois, inclusive, foi esse mesmo senso que o manteve preocupado com Llyani, se ela tivesse sido pressa como eles teria que dar um jeito de liberta-la*

Miyano não pode evitar desviar o olhar quando o assunto tratado se tornou os pais da garota verde. Preferiu ficar de fora daquela conversa, já que não tinha nada positivo para acrescentar, e provavelmente era uma zona desconfortável para a criança.

Quando o felino se aproximou respondendo pelo casal, Miya quase gritou um "Gatinho!" , mas seu senso de moral o segurou. Não conhecia tantas raças assim, apenas aquelas que teve o prazer - ou desprazer - de conhecer durante a viagem. De qualquer forma, acabou não tendo a chance de interagir com o Iormashiano, já que a postura adotada por Heylel praticamente dizia para que não abaixassem a guarda. Rex também não era exatamente amigável com desconhecidos, especialmente os que agiam de forma hostil, então preferia evitar que o grifo atacasse qualquer pessoa ali dentro sem nenhum motivo plausível.

*Ellora permanecia calada e ao ver que Heylel sinalizava para ela, apenas o seguia e ficava alguns passos atrás do albino, observando tudo em volta, como se procurasse alguma coisa. Enquanto o ouvia perguntar para o casal, logo uma expressão de dúvida surgia na face da mestiça, com ela dizendo em voz baixa quando a dupla saía correndo.*

- Ahn? Será que fui eu que me aproximei demais?

*Ela até chegava a dar alguns passos para trás, porém, ainda dando para escutar o que o homem explicava para Heylel e arregalava os olhos ao saber o que pretendiam fazer, especialmente em relação ao tempo que planejavam deixa-los presos naquele lugar estranho.
Percebendo que talvez o homem também havia sofrido uma sentença parecida, e vendo que ele era outro que não mostrava se incomodar com a presença dela, Ellora voltava a se aproximar e o fitava calmamente, se virando para Heylel após um breve momento e murmurando.*

- Prazer Nakir, sou a Ellora... Ei, Heylel, não podemos levar ele junto? Caso a gente consiga dar um jeito de sair daqui...

*Por ter conhecido um lado cruel das pessoas em volta dela, Ellora sempre ficava animada de encontrar alguém que não agisse com hostilidade perto dela, ou a rejeitasse. Por isso, geralmente ela acabava pensando que essas pessoas fora seus amigos de agora, também mereciam ser ouvidas e quem sabe, ajudadas, como tinha acontecido com ela.
No entanto, ela lançava um olhar em volta e outra vez seus olhos paravam na construção que o albino tinha apontado antes, com ela se demorando novamente com o olhar fixo naquela direção.
Chamava Miyano com um gesto discreto da destra, indicando que a criança chegasse mais perto pra ouvir o que ela tinha a dizer agora, mas se mantendo atrás de Heylel mas perto de seu ombro.*

- Heylel.. tem um grandalhão naquela torre... acho que é assim que eles mantêm a segurança; na certa, quem tenta fugir leva um belo de um tiro.

— Heylel, Ellorra... e a pequeninha, quem é? Vamos, não se acanhe! Eu sou muito divertido, sim. — Ele força uma careta para Miyano, que ainda está atrás do ciborgue. — E não prrecisa se incomodar, senhorrita Ellorra. Se quiserrem cometer suicídio tentando fugir daqui, eu não quero fazer parte disso, não. Prrefirro cumprir o resto dos meus três anos.

Alguns dos que passam por ali olham torto para o pequeno grupo e comentam algo baixo entre si. Nakir, reparando na ação, aproxima-se mais dos recém-chegados e passa a sussurrar para eles.

— As pessoas aqui prrecisam aprender o idioma Okro se quiserrem sobreviver. Alimentos, placas, mapas: tudo está escrrito no dialeto nativo. É por isso que muitos se esquecem de como falar a língua padrrão depois de alguns anos.

A observação de Ellora está de fato correta. Um Okro, sozinho em uma torre de comando, se comunica com um outro que está em meio ao vilarejo. Este segundo é o único nativo presente naquele vilarejo.

—  Mas bom, chega de enrrolação. Nakir Malandrão é o maiorr ladrrão de toda a galáxia! Uma vez eu até mesmo rroubei uma das perucas do membrro humano do conselho, sim! Infelizmente, tentei rroubar o corração de uma nativa desse planeta terrível e fui aprisionado. Quanto a moça que você mencionou, eu não vi, não. Mas parrece a descrrição de uma atriz pornô, sim.

*Verdade, Miyano realmente parecia uma menina, nem mesmo Heylel teria descoberto isso senão fosse por C-06 ter dado banho na criança e ter descoberto esse pequeno detalhe, o albino até mesmo olhou pro menino buscando ver qual era a reação dele perante aquilo, seria um tanto comico e por isso nem fez questão de corrigir voltando sua atenção a Nakir*

-Se chama Miya, é minha afilhada. *Depois da resposta ele olhou para uma das torres de observação e viu mais um daqueles malditos Okros usando os rifles daquele mesmo lugar, é, realmente não seria uma boa subir as torres em busca de localização, poderia dar muito ruim, ainda mais se pedissem reforços*

-Então ela deve estar bem, menos mal... E ainda bem que ela não está aqui para ouvir isso, você estaria bem morto, e ladrão você diz? Parece promissor, você trabalhava por conta? *Queria saber mais sobre aquele Iormashiano porque dependendo da conduta dele, se ele aceitasse fazer parte de um time em prol de uma facção, de uma causa considera por ele, Heylel, nobre, poderia quem sabe leva-lo junto dali sem problema nenhum embora já estivesse a 7 anos ali*

- Ah.. entendo.. uau.. você deve ter feito coisas impressionantes Sr. Nakir


*A ruiva sorria para o homem, o escutando falar e contar sobre as coisas que havia feito e tendo que reconhecer que ele tinha feito coisas surpreendentes, mesmo que fossem crimes.
Não obtendo resposta direta de Heylel, ela dava alguns passos para trás, mas ficando perto querendo ouvir mais histórias de Nakir, e esperando o que o albino decidiria fazer, já que ele era o capitão.
Ela ficava do lado de Miyano e olhava para Nakir, dizendo após um tempo em silêncio.*

- Sr. Nakir, como conseguiu fazer tudo isso que nos contou?

*No meio daquele dialogo ele simplesmente sentia algo bater em si antes mesmo de Nakir o responder, nisto o albino arregalou os olhos já que o arrepiar de sua pele foi intenso demais para uma mera batida. Olhou o, ou melhor, a responsável por aquilo e logo já percebeu quem era apesar da transformação já que senão bastasse a reação do nanosuit, ainda tinha o fato de que aquela Okro era bem mais chamativa que os demais justificando o porque o guarda estava a chamando para um lugar mais reservado sem muita vigilância, aquele era um momento oportuno, só que precisava sinaliza-la sobre isso então teve uma ideia*

-Ei você! Está pensando o que?! *Um passo brusco para frente e a pegou firme pelo braço a puxando para perto, perto até demais a ponto de ficarem muito juntos, o suficiente para sussurrarem um para o outro sem serem devidamente ouvidos por terceiros*

-O que você está fazendo aqui? Devia ter esperado na nave, o pessoal daqui é bem xenofóbico, vão tentar fazer algo comigo para proteger você, fica esperta. *Deu uma dica clara de que ele e ela não podiam se "misturar" ali, pois mesmo que tentasse usa-la para algo tipo "OLHA SÓ, EU TENHO UM CASO COM UMA NATIVA, LIBERA NOIS" não ia dar certo, a Gutaro está disposta a ferir e até mesmo matar aqueles envolvidos com estrangeiros e Nelai, mesmo transformada, não seria exceção*