Honra em sangue.

A nave por dentro é ainda mais silenciosa do que por fora. Ao mesmo tempo que ela é mais clara, é também bem mais espaçosa do que aparenta, do tamanho da sala de uma residência comum. Para aquilo ser possível, o maquinário do veículo deve ocupar muito pouco espaço, o que conflita com sua alta velocidade e potência.

Como não há divisões de cômodos como na nave de Heylel, ele pode ter uma noção de tudo ao seu redor. Ela praticamente não tem decoração alguma e conta apenas com uma larga mesa de centro e alguns computadores. Dentro dela se encontram duas pessoas, um piloto localizado no cockpit e um homem que se encontra sentado de costas para o ciborgue. Este segundo traja uma armadura e está sentado na posição de lótus, aparentemente meditando. O que importa é que nenhum dos dois se comunica.

*Naquele espaço o rapaz seguia vestindo sua armadura, normalmente ele revelava seu rosto ao lidar com qualquer um, mas em um ambiente tão desconhecido não podia se dar ao luxo de ceder essa cortesia. Deu alguns passos mais a dentro daquele veiculo e pelo clima parecia ser uma tipica reunião com outros cavaleiros, só que aquela nave... Bem, levando em conta a tecnologia e discrição poderiam ser eles, só que estando em dois e não em mais, a situação estaria no minimo critica embora duvidasse que algum dos "grandões" iria ali apenas resgata-lo*

-... *Ao observar melhor, Heylel percebeu a postura daquele a sua frente e dado os ensinamentos de seu mestre nas artes misticas, decidiu fazer como de costume não interrompendo uma possível meditação acabando por seguir em silencio se abaixando para sentar-se sobre seus próprios pés mantendo os joelhos unidos que serviram de encosto para suas mãos, apesar da postura ele seguia atento e pronto para reagir. Sua ação era um ato costumeiro ao encontrar o superior que normalmente se encontrava daquela forma, meditando, assim sendo, ficaria quieto até lhe ser dado algum tipo de permissão, de acordo com aquele que o treinou essa era a forma mais educada de se portar perante um mistico, naquele caso, um possível candidato desta classe vista por como nobre*

Em uma análise minuciosa, é visível a curiosa figura diante de Heylel. Bastião traja uma armadura tecnológica que cobre seu corpo quase que por inteiro, com exceção de seu rosto que conta com um visor ótico. Na parte traseira de sua cintura, no fim de suas coisas, está uma arma curiosa para a época: uma katana, aparentemente forjada com ferro comum.

Sua aura exala tranquilidade, por mais que algumas gotas de sangue estejam sendo despejadas no chão a partir de sua espada. Sua presença traz um misto estranho de letalidade e ao mesmo tempo, calmaria. 

— Você pediu por resgate. — Ele diz, ainda sentado com o rosto fixo no nada. — Qual o seu destino?


Não é possível ver a direção de seu olhar, uma vez que seus olhos são cobertos por um dispositivo desconhecido. Por vezes, algumas luzes piscam naquele apetrecho, mas ele não parece reagir a tal fato. Enquanto isso, o piloto mantém-se em silêncio.

*Observando o ser a sua frente ele acabava se lembrando de um dos membros de elite dos Cavaleiros Virtuosos, alguém cujo vantagem é justamente o uso de uma espada como aquela, assim sendo, Heylel tinha certo conhecimento do equipamento por mais que não tão profundo quanto o cavaleiro que o usa e isso o deixava mais familiarizado com a situação embora fosse curioso ver mais um espadachim além do que achava ser o único*

"-Um Samurai? Achei que essa classe estava totalmente extinta sobrando apenas o senhor Gabriel, interessante." *Pedido de resgate? Não tinha feito nenhum... Cody, novamente agindo pro seu bem mesmo que por suas costas, o androide sempre queria o melhor pro seu mestre e isso não restava duvida, só que bem que ele podia avisar das coisas, mas pera um momento...*

"-Esse homem pertence a Reconquista?" *Depois desses segundos dedicados a seus pensamentos, Heylel então decidiu responder sem tentar sondar aquele que havia supostamente o resgatado, afinal de contas, aquilo significava que ele estava devendo então devia ser no minimo grato e essa gratidão seria espelhada nisso, em não deixar tão evidente sua desconfiança*

-Tuntau. *Decidiu que iria para o local em busca de seu afilhado, Familiar de sua mãe e outros, não sabia se Llyani ainda estaria junto ao grupo, mas com certeza precisava reve-los o quanto antes já que aquele lugar não era lá um dos melhores*

Apesar de não responder a Heylel, o piloto assimila a mensagem. Com uma cabine aberta como aquela, é possível que o ciborgue observe enquanto ele abre alguns menus no painel de sua nave, que dá acesso a um mapa aonde ele indica o planeta dos Okros, destino selecionado pelo Kroyvisiano.

— Destino selecionado. Aperte os cintos e aproveite a viagem, Piloto. — Manifesta-se a voz característica da Ariete, inteligência artificial característica dos rebeldes.

Com o destino marcado e a nave tomando seu rumo, o samurai identificado em seu traje como Bastião retira a katana da bainha em sua cintura e limpa sua lâmina com um pequeno tecido vermelho ao seu lado. As cores intensas do pano confundem-se com o escarlate do sangue, que parece virar uma coisa só. Quando a vagarosa tarefa está concluída, porém, o fio da katana reluz novamente.

— Chegaremos em algumas horas. Pode descansar se quiser, Heylel. — O samurai diz enquanto apanha um instrumento ao seu lado a extremidade de sua arma.

Com a luz intensa que se espalha pela nave com o painel de HUD que o piloto abre, os logos nas roupas de ambos agora são visíveis.

*Sentado ali como se estivesse em um dojo, Heylel através da nanotecnologia de seu traje faz com que seu rosto passe a ficar visível depois que seu nome é anunciado por Bastião que até agora o albino não sabia ser quem era, inclusive, por estar ali e ter seu nome mencionado, tomou a liberdade de mostrar o rosto e ousar fazer uma pergunta mesmo que de forma "discreta"*

-Agradeço a oferta... Bem, vejo que sabe meu nome, então eu posso saber o nome daquele ao qual devo minha gratidão? *Começou a pensar no porque do silencio do piloto, talvez ele fosse sério ou talvez fosse um androide, era difícil saber já que o via muito pouco diferente do outro que estava ali mais próximo. Ao notar a logo nos uniformes, sentiu-se ainda melhor, realmente aqueles eram membros da Reconquista e de uma vertente dela que possivelmente estava ligada a sua, se é que no final das contas não eram a mesma já que Daniel sempre deixou claro nas entrelinhas que estava abaixo de alguém e esse alguém poderia muito bem ser o tal Starcaller*

O samurai demora mais tempo do que deveria ser necessário para responder uma pergunta tão simples. Mal sabe ele que aquele assunto é muito mais profundo e filosófico do que o comum para aquele diante de si, que divaga enquanto seu olhar permanece fixo num ponto neutro.

— Não há nomes, apenas funções. Quem somos nós quando fazemos parte do coletivo? — Ele filosofa enquanto permanece afiando a ponta de sua lâmina. Ele não parece olhá-la enquanto o faz. — É como formigas. Há a operária e a rainha, e é isso que elas são. Eu sou Bastião e ele é Piloto, e é assim porque é isso que nós somos.

Ele carrega tranquilidade na fala, mas aquele discurso já não é tão autêntico. Aquela é a segunda vez que explica isso no mesmo dia, e mal sabe Heylel que a primeira foi para aquele que o confrontou alguns minutos atrás.

*Se parássemos para pensar num todo, tudo e todos são apenas fração de algo onde juntos formam alguma coisa, seja ela boa, seja ela ruim, para criar ou destruir, Heylel já pensou muitas vezes sobre isso, sobre o que um soldado sozinho poderia fazer em prol de toda uma causa e se agindo dessa forma, solitariamente ele poderia ter algum valor individual que o destacasse dos demais, porém, de todas as missões até agora, por mais que muitos de seus feitos sejam isolados, eram pessoas como Bastião e o Piloto que o permitiam concluir isso, só que ao pensar nisso ele chegava a outro ponto... Por mais que não houvessem nomes e sim apenas funções, existem aqueles mais adequados para certas tarefas exigindo assim nomes, nem que sejam apenas letras, o Piloto A pode ser muito mais capaz que o Piloto B*

-Quem somos nós? Quem sabe? O numero 1, o numero 2, o Bastião A, o Bastião B, Bastião... Esse é o nome procurado pela Aliança, em particular por um membro andrógeno dela chamado Ale'ek, deve conheço-lo, afinal, ele foi até mim em busca de você, amigos? Rivais talvez? *Talvez estivesse se intrometendo demais, mas já que estava ali poderia saber mais sobre seu aliado de momento já que sua conduta poderia ser comum encontrada em membros da Datsu, claro que isso é só apenas um achismo, todavia, é comunal membros de uma mesma equipe escolhida a dedo terem semelhança comportamentais, bem, isso quando não estamos falando de grupos cinematográficos onde a diferença de personalidades muitas vezes bem agravante serve para diminuir uma possível monotonia dos espectadores ao acompanharem um grupo repleto de indivíduos semelhantes em conduta*

-Sendo você um Bastião, porque carrega uma espada e não um escudo? *Não era de seu feitio falar muito, só que saber mais sobre os membros da Datsu atiçava a curiosidade do albino que tinha vontade de fazer parte disso desde que viu o vídeo junto a Melroa, uma pena que ela havia o traído daquela forma, ao menos ao seu ver ela havia traído*

— Eu carrego. — Responde prontamente, de maneira seca porém não agressiva. — A espada está em minhas mãos, e o escudo... é meu próprio corpo.

É visível que o homem tem um jeito de falar curioso. Parece sempre estar pensativo e filosófico, como se as palavras viessem do fundo de sua alma. É como se estivesse em um eterno estado de meditação e tranquilidade, ao mesmo tempo que carrega um semblante assassino.

— Existem vários Pilotos, mas apenas um Bastião. Existem posições e tarefas, mas não nomes. Nomes implicam em um individual quando nós na realidade lutamos pelo todo. — Ele enfim termina de afiar sua espada, mas não vira seu rosto para a direção de Heylel ainda assim. — O seu corpo tem muitos glóbulos vermelhos, mas apenas um coração.

A viagem de Gradopolis até Tuntau demora um tempo, mas o ciborgue teve um dia cheio. Pode aproveitar a viagem para descansar, mas Bastião não parece preocupado em responder suas perguntas. Também é uma chance para que Heylel saiba mais sobre a misteriosa organização que enfim consegue amedrontar a Aliança.

O Kroyvisiano também pode perceber, ao conversar com o samurai, que seu visor pisca conforme algum som é produzido, e sua direção varia de acordo com a origem desse som.

*Aquela calma e aquele semblante, o moreno ali presente seria mais ou menos o resultado esperado de seus superiores sobre si mesmo, alguém cujo calma consegue dominar perfeitamente sua essência mistica sem mascarar totalmente o instinto assassino que é responsável por intimidar seus oponentes diminuindo suas forças, sem duvidas Bastião era um reflexo de Heylel caso o mesmo agisse seguindo a doutrina de Pirion, coisa que não faz já que em seu corpo habita uma certa raiva irracional que o impede de ser um verdadeiro mistico*

-Então você é a arma perfeita da Datsu? Entendo... Desculpe estar me intrometendo, mas, por que não deu um fim em Ale'ek? Eu não pude porque nossas habilidades estavam equiparadas, preciso me fortalecer para vence-lo em uma próxima vez, mas e você? Ele ficar o perseguindo pode ser um problema desastroso. *Levando em conta as informações dadas pelo visor, aquele androgeno era realmente bastante problemático nesse quesito e tendo ele ajuda de membros importantes da Aliança, seria sem duvida um pé chato no saco*

-Aquele que o empunha, aquele que você protege com o corpo sendo seu Bastião... Qual seu objetivo? Lutar por todos para libertar a todos? Porque se for esse o caso... *Lembrou-se do ataque em Gradopolis e depois do vídeo que viu e depois das lutas que teve com os aliados, matou alguns de fato, só que ficou em divida com outros, o Capitão Burnes e aquele Ale'ek, não conseguiu matar os dois, tinha falhado provisoriamente por pura falta de poder e controle de sua raiva latente*

-Eu gostaria de fazer parte disso. *Homem algum venceu guerras sozinho, sempre houve ajuda, um milagre vindo do divino, um auxilio proveniente de exércitos ou de técnicas aprimoradas com ajuda de terceiros, nada acontece do nada solitariamente, existe sempre uma causa e consequente um efeito por trás e Heylel sabia disso, de que se quisesse ser efetivo em seu sonho de igualdade Kroyvisiana, não conseguiria fazer tal sozinho e por isso sua fala soou com convicção e tremenda seriedade*

— Não há arma perfeita. — Ele responde, dessa vez dirigindo seu rosto a Heylel. — Mas eu sou útil, e por isso estou aqui. Não matei Ale'ek porque não era minha missão matar Ale'ek.

Seu tom parece mais ameno e depressivo na última frase. Sua missão não era matar Ale'ek, mas ele falhou nela de qualquer maneira. Sua "condição" uma vez mais o obrigou a recuar e em breve teria que dar notícias negativas a sua causa. Ainda assim, sua ida ao planeta não foi em vão, e o sangue no chão da nave á uma comprovação disso.

— O nosso objetivo é a união contra o mal. Em nossa mente já não há o individual e sim um senso do coletivo de que precisamos sobreviver àquilo que nos ameaça. Eu luto para que outros não precisem lutar; o Piloto pilota para que outros não precisem pilotar... o líder lidera para que outros não precisem liderar. — Bastião parece orgulhoso de suas palavras uma vez que as profere com emoção. Seu piloto parece ouvi-las em silêncio do cockpit. — Eu não sei muito sobre você, Heylel. Só sei que é bem-vindo.

*Embora nitidamente cego, Bastião parece ouvir tudo muito bem e deve ser provavelmente esse o segredo por trás de suas façanhas que por mais que o albino ali desconhecesse, já supunha existirem, inclusive aquele item ao qual detecta o som e sua direção, era um aparato bem útil e que talvez fosse um forte calcanhar de Aquiles daquele homem*

-Entendo seu ponto e acredito que não sabemos muito um do outro, mas sabemos o suficiente. *Se questionava se os óculos e visor de Gabriel também auxiliavam na visão, ou melhor, na falta dela, o que era irônico, os dois espadachins que conhece terem problemas na vista embora um provavelmente fosse bem mais grave que o outro*

-Bem, como se chamam por títulos e eu não tenho um por enquanto, será "Forasteiro" por razões obvias, se é que me permite. *Provavelmente agora era só esperar chegar no destino e pelo andar da carruagem seria primeiro que seus aliados já que aquela nave parecia ser bem mais veloz que ao qual herdou de Melroa, mas era puro achismo, então para ter certeza mandou mensagem para o Familiar para que ele o esperasse junto aos demais em uma parte especifica de Tuntau, lugar onde possivelmente o mesmo iria aterrizar levando em conta as coordenadas vistas no HUD*

— Falarei para meu líder sobre seu desejo, Heylel. Mas eu tenho certeza que, apesar de habilidoso, você não está pronto.

É tudo que o samurai diz antes de embainhar novamente sua espada e retornar para a posição anterior de meditação, forçando o recinto ao silêncio absoluto uma vez mais. Seu piloto, como sempre, não parece sequer respirar enquanto determina rotas no painel a sua frente.

A camuflagem potente da nave é faz com que esta passe despercebida quando sai de Gradopolis, mesmo deixando o planeta por uma rota comum que já a deixaria num caminho bom para Tuntau. A tecnologia da Datsu parece bem mais evoluída do que a da Reconquista, que por muitas vezes é sucateada e de baixa qualidade.

A partir disso é apenas uma questão de tempo até a chegada no planeta de destino, mas a trajetória é bem mais rápida do que deveria. O tal piloto parece bastante habilidoso, uma vez que aposta num caminho mais perigoso e rápido, e ainda assim é capaz de habilidosamente conduzir sua nave e superar os obstáculos. Em apenas duas horas, Tuntau já é visível.

— Tuntau tem apenas uma pista de pouso. Deseja que eu o deixe lá ou quer selecionar um outro destino? — Pronuncia-se o piloto, enfim falando num tom monótono e cansado.

*Sobre o fator de estar pronto ou não, Heylel sempre associava a sua dita raiva interna que seu mestre pegou no pé para convencer o albino, assim sendo, ele ainda não tinha completo domínio sobre seus poderes então por mais que seu potencial latente o tornasse um mistico poderoso, esse pequeno detalhe fez com que sua mãe foca-se em ensina-lo a ser um atirador já que tal classe não exige tanta calma boa parte das vezes, é necessário, porém não fundamental como no caso do caminho espiritualista, assim sendo, o Kroyvisiano recebeu aquele comentário de bom grado por já suspeitar que aquela sua falha era evidente*

-Eu entendo, perfeitamente. *A viagem então seguiu silenciosa com o rapaz ali trocando eventuais mensagens com C-06 para saber o estado de Llyani e os demais, aparentemente estava tudo bem, então o que diabos os Aliados estavam querendo em Gradapolis? Havia algo errado, mas não seria agora que iria descobrir sobre isso*

-Lá mesmo, irei encontrar com minha tripulação, muito obrigado. *Pela voz enfim o rebelde descobriu que aquele piloto não era um androide e não sabia como se sentir sobre isso, eram todos daquela forma? Centrados no que faziam? Provavelmente sim pelo visto. Enfim apenas esperava para chegar e reencontrar sua equipe*

A nave apenas desceu, pousando normalmente no planeta. Os Okros não são parte oficial do Conselho Galático, não são ligados a Aliança ainda que tenham bases militares nesse planeta. Por causa disso, o piloto pode aparecer no hangar sem qualquer tipo de risco.

Assim que a nave está em condição de equilíbrio, a porta simplesmente se abre. Nem Bastião e nem o piloto dizem uma palavra a Heylel, uma vez que seu serviço já está cumprido. A partir daí, ele estaria por conta própria novamente.

Tuntau:

Porto de Bainor:

Já no porto, que é uma das poucas instalações do planeta com cobertura (ainda que seja parcial), Heylel já pode sentir um pigarro se formando em sua garganta. Se trata de um minúsculo pó de ferro que paira na atmosfera tóxica naquele planeta e pode causar bastante irritação nas vias respiratórias a longo prazo.

A nave da Datsu também é uma das poucas localizadas no único porto do planeta, sendo as outras duas mercantes ou extrativistas. Ali mesmo na plataforma, que tem pouquíssima segurança, há um bar caindo aos pedaços e alguns Okros conversando em um canto. Uma bandeira com o nome "Gutaro", onipotente, tremula com os ventos fortes do local.

*Ao chegar ali ele simplesmente saiu da nave sem nada a dizer já que agradeceu de antemão e tudo mais, agora era só ficar por ali mesmo. Ao sentir a quase nada sutil contaminação do ar, puxou saliva para molhar a garganta e então cuspiu no chão antes de fazer seu elmo cobrir toda a cabeça utilizando como sempre da nanotecnologia, dessa forma conseguia respirar melhor*

-O que diabos Llyani está querendo em ficar justo aqui? Aquela mulher só pode ser louca. *Concluiu consigo mesmo novamente olhando aos arredores em busca da nave que emprestou para o Familiar de sua mãe para que ele levasse Miyano e os outros até ali, e bem, nenhum sinal, a nave de Bastião realmente chegou bem mais rapido tanto pela velocidade quanto pelo trajeto, nada mal, concluiu mais uma vez*

-Esse lugar é horrível e me traz lembranças tão horríveis quanto. *Naquele momento o rapaz se lembrava do ultimo conflito que teve com Ellaya, atrito esse que o custou um dos braços e os dois olhos junto a quase sua vida, aquele lugar sem duvida carregava cicatrizes em seu interior tal como ele que não gostava nenhum pouco de estar ali por remeter a tudo de ruim que passou envolvendo traições nas mãos das mulheres que amou por mais que no caso de ambas possa ser apenas um imenso mal entendido*

-...? *Ouviu então uma nave se aproximando e ao ve-la notou ser a que estava esperando, eles haviam saido primeiro, então mesmo que o Piloto da Datsu tenha sido agil, não seria tão inesperado a outra nave chegar pouco tempo depois. O ciborgue então seguia caminhando até a embarcação que pousou ali sem muitos problemas abrindo sua traseira para liberar seus passageiros e ali Heylel esperava por Llyani e companhia*

Durante os minutos que espera, Heylel pode sentir alguns olhares estranhos e, muitas vezes, mal-encarados. Os habitantes locais certamente não parecem aceitar bem os estrangeiros, e muitos deles carregam bandeiras ou pinturas com dizeres que ainda não estão claros.

A maior parte deles orgulhosamente ostenta a marca "GUTARO" em algum lugar do corpo, enquanto outros que são menos notáveis exibem o dizer "NAHIGI". Alguns até mesmo trocam xingamentos no idioma local quando se esbarram, denunciando que o planeta não é totalmente alfabetizado no idioma universal criado pelos Garesianos.

Não tarda até que a nave que trás os colegas de Heylel retorne e preencha um pouco mais aquele hangar tão vazio. Dentro dela, Llyani parece pressionar o piloto para que desça de uma vez, demonstrando impaciência como sempre.

*Na espera da nave, Heylel olhou para os lados ao perceber os olhares sobre si e ao ler aqueles nomes esquisitos e ouvir aquelas pronuncias ele sentiu uma ligeira saudade de Cody que podia muito bem traduzir tudo aquilo para si ou ao menos buscar alguma resposta mesmo que sem sucesso... Tinha que trazer seu amigo de volta, mas como? Durante esses questionamentos ele apenas entrou na nave encontrando de cara com o Familiar bigodudo de sua mãe ao qual pilotava a nave roboticamente, afinal, ele era isso, uma maquina, então não faria nada fora do padrão ou do esperado e claro, com isso acabou encontrando Llyani logo de cara*

-Seja bem vinda a Tuntau, não faço a menor ideia do que você espera conseguir aqui, mas desde já a agradeço e desejo boa sorte, parece que ambos cumprimos nossas partes no acordo, eu disse que não iria te deixar para trás e cá estamos nós. *Iria cumprimentar a barbara como uma pessoa qualquer oferecendo sua mão, só que dai lembrou que ela não era lá a pessoa mais sociavel do mundo, então deixou para lá se focando em algo mais importante*

-Onde está Miyano? *O grandalhão ali logo respondeu que o menino estava em seu quarto aguardando, foi então que apesar das diferenças, Heylel sabia que a partir dali havia a segunda parte do acordo que incluia que Llyani agora seria sua inimiga, então não poupou esforço para se despedir dela, apenas a olhou por instantes e desejou um singelo e sincero "Boa sorte, você agora é livre" e seguiu para o quarto do menor*

-Miya, tudo bem? Como está o conteúdo do downloading? *Até que foi mais fácil do que esperava conseguir aquilo, o que para o rebelde não era nem de longe um bom sinal, sim, ficou duas horas correndo e pulando igual um macaco para conseguir aquilo, tomou alguns socos, uns tiros e quase morreu, mas isso já é quase parte de sua rotina então não era algo considerado como inesperado, consequentemente achava a situação comum e relativamente fácil de lidar*

Miya não havia conseguido descansar enquanto Heylel havia teimosamente ficado para trás. Estava sentado em sua cama, com as pernas cruzadas, frequentemente checando os sites de notícias para certificar-se de que não havia um mau agouro se aproximando.

Abraçava Rex como forma de se confortar, tentando não pensar nem se preocupar demais. Quando a porta se abriu e Miya notou ser Heylel, se levantou da cama de imediato, praticamente arremessando o grifo para longe para saltar em direção do albino, prendendo-o em um longo abraço.

Quando finalmente decidiu que era hora de soltá-lo, juntou todas suas forças para pisar no pé de Heylel, inflando as bochechas e olhando para cima para encarar o homem. O que saiu dos lábios de Miya foi provavelmente a frase mais inesperada vinda dele, em um tom mais surpreendente ainda.

- VOCÊ ESTÁ TENTANDO SE MATAR, BOBÃO?! - Vociferou.

*Ao sentir o abraço do seu digamos... Filho? Mesmo aquele assassino teve seu momento coração mole, abraçando a criança e sorrindo de forma bem discreta com aquilo, não podia evitar de se sentir bem ao ser recebido daquela forma ao qual sempre o tranquilizava já que o passava a sensação de sempre estar voltando para casa, de sempre estar voltando para quem realmente se importa com ele, e claro, a ausencia das ofensas e mal humor de Melroa só tornava aquele momento ainda melhor e mais relaxante*

-Estou de volta... *Ousou parecer um pai cliche que voltou para sua casa cliche com seu filho cliche em um momento cliche, mas mesmo aquilo terminou breve com o pisão inesperado que recebeu no pé, bem no dedinho, puts grilo, quem diria que o homem que aguenta socos, tiros, chutes, explosões e uma barbara bombada no x1 sentiria tanta dor com algo tão simples vindo de uma criança... Realmente faltou treino de resistência naquele ponto ali*

-AI! Claro que não! Eu tinha absolutamente tudo sob controle! Você precisa confiar mais em mim. *Saltou num pé só segurando o outro como se isso fosse resolver alguma coisa... E estranhamente resolveu, após alguns segundinhos daquilo ele voltou a ficar sobre as duas pernas respirando fundo voltando a colocar a mão sobre a cabeça do menor bagunçando seus cabelos*

-Vai ficar tudo bem, ok? Principalmente quando sairmos daqui, a proposito, comeu bem? Tudo direitinho? O C-06 cuidou bem de você, da sua irmã e do Rex? *Agora tinha que fazer aquilo sozinho, ser praticamente um pai solteiro já que a mãe o abandonou para fugir com o Ricardão da Aliança e ainda por cima os pais verdadeiros da criança haviam sumido, assim sendo, Miyano e sua irmã eram tecnicamente seus filhos, então tinha que fazer uma média com base no que sabia por mais que isso se resumisse a agir parecido com sua mãe, sua unica referencia em cuidados com crianças*

A criança cruzou os braços, erguendo uma das sobrancelhas em gesto de descrença com o tal "controle" que Heylel tinha sobre as coisas.

Miya achava que o homem se arriscava demais com coisas fúteis, e temia que isso fosse trazer consequências maiores. Miya gostava de Heylel, e depois de perder os pais e a Melroa, não suportaria perder Heylel também.

Com a enchente de perguntas do albino, a criança apenas começou a freneticamente assentir com a cabeça, quase no automático.

*Já fazia um tempo que ela acompanhava Syga para cima e para baixo, fosse em missões, fosse apenas em conversas as vezes produtivas e outras vezes talvez porque a mais velha só queria uma companhia para jogar algumas palavras fora. Ellora se perguntava de vez em quando se a vida como capitã era entediante em alguns pontos, além de parecer bem agitada e perigosa, especialmente levando em conta a condição em que se encontravam em relação à aliança.
Mesmo assim, ela se sentia satisfeita de poder ajudar como podia, além de conseguir tempo para meditar e ir se fortalecendo, compreendendo cada vez mais sua energia mística e claro, as vezes recebendo treinamento com seus disparos.
Mas se era assim, então por que agora a mestiça podia ser vista sentada em uma pequena nave, viajando em alta velocidade como se fosse de extrema importância chegar ao destino planejado?
A resposta era simples, em uma tarde em que aproveitava o tempo livre para meditar, o momento tinha sido interrompido por Syga e sem maiores explicações, a capitã tinha entregado nas mãos de Ellora uma espécie de chip retangular, lhe informando que agora a jovem deveria partir ao encontro de Heylel, se juntando a ele novamente e lhe entregar o chip, não permitindo que mais ninguém além dele visse o que tinha gravado ali.
Contando a senha para Ellora transmitir a mensagem sem erros ao filho, Syga se despediu da meio Zathriana com a promessa de que ainda voltariam a se ver, e fornecera a nave que agora conduzia a Cyber até onde Heylel estava.
Em silêncio enquanto viajava, ela olhava para seu arco e mantinha a face coberta, caso fosse atacada de surpresa ou interceptada, já que não possuía uma boa fama e estando acostumada com o que acontecia com ela por causa disso, passou a ser cautelosa e ter a certeza de que todo cuidado é pouco.
Assim que era comunicada que faltava pouco para chegar ao seu destino, mordia o lábio pensativa por um breve momento e balançava a cabeça positivamente, respondendo ao próprio pensamento de que se fosse chegando assim de repente, na certa iriam considerar de que se tratava de uma inimiga e como naquela situação em que viviam valia mais a pena a coisa de atire primeiro, pergunte depois, Ellora não precisou de muito tempo para se decidir.
Erguendo o pulso direito, dizia com o tom de voz calmo, agora deixando o rosto descoberto para que pudesse se comunicar com Heylel sem mais rodeios, tendo urgência em entregar a mensagem de Syga, não querendo quebrar a confiança da capitã e amiga.*

- Me comunique com Heylel Fahrenheit...

*Após essas palavras, o tele comunicador era ativado e ela aguardava a resposta, enquanto a nave ia se aproximando cada vez mais de onde Heylel estava, com Ellora arriscando até uma espiada pelas janelas da nave para ver onde tinha sido levada.*

*Pelo visto o garoto se preocupava embora confiasse no maior ali presente e conseguia entender bem o motivo, afinal, quer gostasse ou não, ele era tudo o que o menor tinha naquele momento, a unica coisa proxima suficiente de ser familia e para uma criança tão nova deve ser assustador sempre passar por situações onde pode perder o resto que tem.... Tinha que melhorar, ser mais prudente, precisava de meios mais eficientes em suas missões e seguir elas em campo solo já não era a opção mais viavel, precisava de ajuda, não por si mesmo, mas por seu... Filho? Tinha que deixa-lo menos preocupado e assegurar a ele de alguma forma que sempre voltaria são e salvo*

-Olha Miya, eu sei que estamos passando por uma situação... Complicada, agora somos apenas eu, você e o Cody, o C-06 vai voltar pra casa e sua irmã vai ficar com ele, ela precisa de cuidados especiais, então seremos só nós três e o Rex, um grupo só de meninos, não acha legal? *Tentava alguma coisa naquela frase meio idiota para tentar consolar o garoto, sabia que não era bom nisso já que nunca teve experiencia alguma, mas ao menos tentava. Se ajoelhou frente o pequeno e pousou a mão sobre sua cabeça oferecendo a ele também um sorriso morno, era sincero e tudo o que tinha para oferecer pro momento*

-Ok, eu não sou tão bom nisso, estarei aprendendo coisas novas ao cuidar de você, então tudo que peço é que seja paciente, eu prometo me esforçar para não te deixar tão preocupado, e a proposito, sobre o downloading... *A manopla então emitiu algumas luzes e ruídos em partículas devido uma ligação estar em andamento, o albino então se levantou sem saber exatamente quem era já que aquele toque era isso mesmo, referente a números desconhecidos já que dos conhecidos cada um tinha seu próprio toque*

-Espera só um pouco Miya... *Ativou então o sistema de comunicação atendendo prontamente aquela ligação estando sério e de capacete... Só se lembrou disso ao ver a própria imagem naquele HUD, então tratou de desativar aquela função do traje para expor seu rosto enquanto o corpo seguia de armadura*

-Heylel Fahrenheit na escuta, quem é? *Por mais que estivesse vendo aquela com quem conversava, já fazia MUITO tempo que não havia, ainda mais agora que ela não usava o uniforme antigo mistico e sim um espacial de fato, tendo os cabelos menores na altura um pouco acima do busto e não até a cintura, eram detalhes e muito tempo de diferença que o albino demorou para associar de imediato*

-Ah, claro, para ter acesso a essa linha só podia ser alguém da Reconquista, desculpe não lembrar de imediato, é que já faz muito tempo não é mesmo? Aconteceu alguma coisa? *Questionou devido sua mãe de acordo com Mora estar desaparecida e sendo Ellora uma conhecida proxima da mais velha e estava o ligando naquele momento, algo pode ter acontecido e algo grave, não podia evitar de ficar apreensivo com aquilo*

Era óbvio que Miya não gostava da ideia de ser separado da irmã, mas dadas as condições... seria melhor assim. Maya correria riscos demais se fosse envolvida naquilo.

Miyano buscaria os pais em nome de ambos, não precisava que Maya arriscasse sua vida procurando também.

Sem responder com palavras, a criança apenas assentiu com a cabeça, ainda parecendo um pouco desconfortável com a ideia, mas já tendo aceitado-a.

- Deu certo, mas seria como procurar agulha em um palheiro. - Deixou os ombros cair, lentamente caminhando até a cama. - São fichas demais, e eu preciso descansar um pouco...

Miyano tinha uma clara expressão de cansaço no rosto, que já perdurava dias. Além disso, parecia mais magro.

*Ela tamborilava os dedos na própria perna enquanto esperava a resposta, torcendo para que não demorasse muito e de fato, seus pensamentos eram atendidos quando podia ver a imagem de Heylel.. bem, depois que ele revelava o rosto é claro.
Não podia deixar de dar um sorriso singelo ao revê-lo, mesmo que inicialmente não tivesse sido reconhecida, porque afinal realmente tinha amadurecido um pouco mais e feito mudanças no próprio visual.
Percebendo que já se preparavam para pousar perto da nave em que Heylel estava, ela tratava de ser o mais breve possível nas informações.*

- Já faz um tempo Heylel, não se preocupe, eu fiz algumas mudanças.. ahn.. bem..

*Ela abaixava um pouco a cabeça e pigarreava, tornando a encarar o tele comunicador e se recompondo.*

- Tenho uma mensagem de sua mãe, mas só posso entregar a você pessoalmente. Ela não me informou muita coisa, só disse que devo me juntar a você a partir de agora, então... permissão para subir à bordo?

*A última frase era dita de uma forma mais leve, embora por um lado ela estivesse realmente perguntando se poderia entrar na nave em que ele se encontrava, mas não conseguindo conter o humor e tranquilidade nas palavras.*