Buraco negro - Vumihe Boik

— Ahn, okay, vou te levar até ela - Liandry pegou na mão da garota e começou a arrastar até o local onde Mora estava.
Mas, derrepente tudo aquilo começou a acontecer, a nave e depois as luzes, Liandry imaginou que poderia ser um ataque terrorista ou talvez a nave fosse de alguma forma uma aliada e... As luzes foram uma coincidência? Não, não pode ser e Liandry desejava que não fosse.
— Uauu, acho que vamos ser atacadas por terroristas. Eu vou ir ver mais de perto, se tiver medo de ficar sozinha me siga. - em meio a tanta escuridão, ela ligou o seu dispositivo, que apesar de não liberar muita luz, era o suficiente para que ela visse onde estava indo e não esbarrasse em ninguém. Ela também imaginou que Melroa veria a luz e assim saberia onde ela estava indo.
Logo ela estava de volta a garagem, se escondeu atrás de uma nave e ficou observando o que sucederia. Sabia que existiam enormes chances de jogarem um míssel na garagem, na verdade, isso era até obvio, mas ela não se importou muito com isso.

Eis então que a garagem externa se abre. As garotas podem ouvir um burburinho por parte dos agentes que antes trabalhavam na estação e que agora estão claramente inquietos. Um ou outro, porém, parece contente com a chegada dos visitantes.

— Quem abriu a porra da garagem?! — Indagou alguém, furioso em meio a escuridão.

— Pois está muito certo. Vumihe Boik precisa mostrar-se pronta! Sua covardia não vai nos salvar. — Responde outro, decidido e confiante com a chegada daquela espaçonave.

A garagem externa fecha seus grandes portões após a chegada dos visitantes e a sala é despressurizada antes de abrir os portões que dão acesso ao local onde todos estão. Do lado de fora, uma grande nave negra com design característico de um modelo militar abre suas portas.



Conforme as portas se abrem, uma atmosfera tensa se mostra entre os presentes. É possível notar movimentos nas sombras de oficiais que tentam se esconder, ao mesmo passo que outros timidamente se aproximam.

Um único símbolo é visível em meio à baixa luz que parte exatamente da garagem exterior. Ele pode ser familiar para as duas garotas através de noticiários ou até algum conhecimento além sobre seu significado.

Um único homem deixa a nave ainda ligada que emite um baixo ruído de maquinário. Seus passos vagarosos ecoam nos largos corredores da garagem e sua silhueta firme é destacada na baixa luz da garagem.

— Não entendemos porquê se escondem.

É tudo o que diz enquanto caminha até Liandry, que é a pessoa mais próxima ao local de aterrisagem. Agora debaixo de uma pequena fonte de iluminação, que no caso é o dispositivo que ela ligou, seu rosto torna-se visível ao mesmo passo que alguns traços curiosos de sua fisionomia são revelados. O mais curioso provavelmente é o visor que cobre completamente os seus olhos.

— Agradecemos a sua recepção. Eu sou Bastião, e nós somos a Datsu.

Liandry, diretamente a frente do homem, pode ver que seu visor pisca em cores diferentes conforme ele fala. Essas luzes parecem orientar-se na direção dos sons que faz e varia em intensidade conforme o volume de sua fala. Somando isso com o fato de Bastião não olhá-la diretamente, é fácil deduzir que ele é cego. Apesar disso, sua movimentação e noção de espaço não parecem ser debilitadas.

Meu primeiro instinto foi me agachar e preparar para correr de volta para minha nave. Fiquei observando tudo em silêncio, atônita e tensa demais para tirar meus olhos da cena. Quando reconheci o símbolo quase cuspi e praguejei em voz alta.

Ainda mais quando vi o monitor do dispositivo acesso e, talvez por conta disso, um dos membros da nave vir em nossa direção. Fuzilei-o com os olhos, sem medo de esconder o nojo que estampava em meu rosto, fingir não era meu forte. Mas até mesmo eu sabia me controlar. As vezes.


¬ Cheio demais. Liandry, agradeço a ajuda, mas preciso ir.

Toquei o ombro da garota num gesto rápido de despedida e parti a passos largos e rápidos até minha nave, sentindo meu coração bombear freneticamente em meu peito. Tudo me antigia como uma pancada na cabeça. Os ataques em Gradopolis, o guarda morto, as pessoas feridas na rua, o hospital cheio, o soldado noivo morto e um avô que quase não retorna com vida. Senti um enjoo tão grande que parei no meio da caminho e me curvei, levando a mão até a boca para impedir que o bile continuasse subindo.

— Oh meu Deus, olha aquele símbolo, é uma nave da Datsu - a garota disse num tom animado quando olhou bem para nave, depois ela começou a procurar algo em seus bolsos — Ahh, aqui, - ela disse encontrando um canetão que sabe sei lá porque ela estava levando consigo — Vem, vamos pedir um autógrafo - ignorando a despedida da outra garota, ela segurou em sua mão e a arrastou para próxima do visitando.

— Nossaa, você é da Datsu mesmo - ela disse analisando de perto o sujeito — Aqui, autógrafa minha testa, não, minha barriga - ela colocou a caneta na mão do visitante e levantou a camisa.
— Aliás, a que devemos a honra da sua visita? Veio ajudar com a nave mãe? Acho que temos muita gente trabalhando com isso já, mas toda ajuda é bem vinda, é só falar com a tia Mora e ela te encaixa em alguma coisa.

O oriental não esboça muita reação diante da atitude de Liandry. É fato que poucos são tão receptivos com a ordem da qual ele faz parte, mas definitivamente não se surpreende quando alguém admira os feitos da Datsu. Ele mesmo, afinal, o faz.

— Nossa presença não será breve, então não precisa se sentir tão emocionada. Estamos aqui por vocês agora para conversar, exatamente porquê tentamos ajudar com a nave-mãe ao deixarmos nossas tropas á postos para revidar o ataque e também liberamos uma quantidade monetária para cobrir os gastos de Vumihe Boik. A líder dessa estação, Mora, ignorou nossos reforços e devolveu nosso dinheiro.

Ele aperta as sobrancelhas, incomodado com o que acaba de dizer. É notável também que ele sempre usa a primeira pessoa do plural ainda que esteja ali completamente sozinho.

— E quanto a você? — Ele ergue-se em direção a Melroa, ainda que apenas possa ouvir seus passos e respiração. — Por que foge de nós?

¬ Mas puta merda! Faz isso não!

Tentei me soltar, mas a garota tinha mais força do que parecia. Me senti um animal sendo puxado para o abate, o que piorou meu enjoo. Senti um frio na espinha quando o escutei falando como se tivessem mais pessoas. Meu cu trancou de uma maneira como se fosse um antivírus tentando bloquear pop-up.

¬ Fugir? Eu? Não, não. Impressão tua, tem ninguém fugindo aqui não! Eu só quero ir ao banheiro. Desculpe não estar emocionada.

"Da maneira que pensa." Deixa o complemento da frase apenas pra mim mesma. Puxei minha mão para perto enquanto me afastava a passos largos mais uma vez, dessa vez andando de costas até certo ponto para que Liandry não me pegasse de novo.

¬ Então é isso. Eu lembrei que preciso ir ajudar um colega de equipe. Eu pensei em abastecer a nave aqui antes de ir, sabe como é. Mas agora eu tenho que ir. Bom, foi bom conhecer vocês hein. Falou!

Mais uma vez me virei e disparei em direção a nave.

-- Ahh, entendi. - Liandry respondeu ao que Bastião disse sobre o motivo de estar ali, ela não conhecia muito bem a Mora ainda, mas achou bem a cara dela fazer isso mesmo, e então presumiu que a Datsu queria mostrar que podia ajudar Vumihe Boik ou que ela queria criar uma relação de dependência com a base e dizer que ajudaram eles quando precisaram e que ... hm... ficaram devendo um favor? Deveria isso. Ela ficou pensando e pensando em muitas possibilidades do objetivo da Datsu ali e nem notou que a Melroa se afastou dela, quando viu já estava bem longe, então se virou para ela, usou suas mãos para ampliar o som e falou a um tom que ela pudesse ouvir.
-- Já vai Melroa??? Você não precisava falar com a Srta. Mora? - mas ela já tinha ido embora.
-- Ahh, você quer que eu te leve até ela também, Sr. Bastião? Aliás, você não poderia ascender as luzes? é que... eu já tropeço em tudo enxergando onde estou pisando, imagina sem enxergar.

— Nós não podemos acender as luzes dessa estação. Só quem pode é a sua líder que teme a nossa presença, assim como "Melroa" que desvencilha-se da conversa. — Ele dispara, já acostumado com aquele tipo de situação. — Há pessoas que, diferentemente de você, renegam aqueles que as protegem.

A líder da estação obedece o rumo da conversa e digita um comando em seu dispositivo para que as luzes se ascendam. Frustrada com a presença do oriental, ela está do outro lado da sala com um semblante claramente desconfortável.

— Não aceito ajuda de assassinos. — Diz uma voz robótica proveniente de seu bracelete tecnológico. Aquela é a maneira que a agente muda têm de se comunicar. — Essa base aqui não compactua com a Datsu e tampouco aceita a sua presença.

Um clima tenso se forma no pátio. Por mais que a maior parte esteja com medo dos visitantes, há aqueles que assim como Liandry parecem tomar o lado de Bastião. Não são poucas as pessoas que fazem parte da ordem rebelde e que concordam com uma doutrina mais impositora e firme comandando a causa.

— Você se engana. Temos aqui do nosso lado uma garota que admira os esforços da Datsu, diferentemente daqueles como você e Melroa que renegam aqueles que lutam para protegê-los. Estamos aqui não apenas para questionar sua infantilidade ao negar nossos auxílios mas também para recrutar novos soldados para a causa. Planejamos algo maior e mais benéfico, e precisamos de pessoas corajosas e fortes para lutar por vocês, assim como nós fazemos.

Respirei fundo. Bem fundo. Aquela menina estava com algum defeito no cérebro para falar tanto. Assim que ouvi a provocação, revirei os olhos e segui meu rumo. Então ouvi o posicionamento da tal Mora, só podia ser ela. E em seguida o bestalhão. Respirei fundo mais uma vez, sentindo meu estômago repuxar pela besteira que estava prestes a fazer.

¬ Oh Bostalhão, seguinte. Eu estava na minha. Seguindo o rumo da minha ordinária vida, tentando descobrir o que aconteceu comigo, já que minha tão amada organização não mexeu um pauzinho pra saber o que diabos rolou comigo. Aliás, fui raptada por 3 dias, vê acredita?

Enquanto falava, voltava caminhando para onde os dois líderes estavam.

¬ Mas a melhor parte não é essa. Eu estava em Gradopolis quando a sua organização atacou a praça pública. Onde inocentes morreram. Crianças que não carregavam o símbolo da aliança ou reconquista. Sabe o engraçado? É que o cenário me lembrou muito quando a aliança invadiu planetas dando uma desculpa qualquer sobre idealismo. Alguém aqui tem filhos? Esposa? Ou bem melhor, alguém aqui teve algo perdido para a aliança? Hm? Pois é. Agora Grandopolis nos enxerga como terroristas sanguinários! Excelente!

Bati palmas, sentindo certo prazer com o silêncio que se seguia. Mas então eu me toquei no que tinha feito, e voltei a passar mal com a possibilidade de ser levada e torturada.

¬ Mas aí, nada contra. Só nada a favor. Quem quiser se manchar de sangue e seguir os passos da aliança, vai em frente! Só que o nome deveria mudar para Hipócritas.

Pude sentir uma gota de suor seguir o incrível trajeto da minha nuca até meu rego. Fiquei alternando meu peso de um pé para o outro, pronta pra saltar fora.

Liandry só ficou observando aquilo que ela julgou como problema familiar, ela também levantou sua camisa para verificar uma coisa e ficou chateada ao notar que o Bastião não tinha dado o autografo dela, ela não tinha sentido nada, mas talvez ele tivesse poderes ninjas que fizeram ele assinar tão rápido que ela nem sentiu, também notou que ele não devolveu a caneta para ela, mas tudo bem.

A medida que Melroa fala, o samurai se aproxima em passos vagarosos e cadenciados. É visível que ser semblante agora é bem mais tenso e volátil do que a calma que ele vinha demonstrando segundos atrás. Teria continuado sua aproximação se não fosse por Mora posicionando-se entre ambos com os braços cruzados.

Ela não deu qualquer comando para que a voz robótica dissesse algo. Apenas manteve-se ali, firme, como um muro humano que protege alguém que nem ao menos conhece de outra pessoa que conhece menos ainda. Apenas o fato de Melroa se opor à Datsu, porém, já é motivo o suficiente para que a líder a proteja.

— Irrita-nos a maneira que você nem mesmo permite que contatemos as pessoas. Nós conhecemos, porém, o motivo de seu temor. — Ele começa enquanto fica cara a cara com a loira. Seu visor pisca incessantemente diante dela. — Você teme que seus agentes agreguem à nossa luta, que concordem conosco. Não se preocupe, Mora, nós estamos aqui lutando para que vocês não precisem lutar. O simples fato de censurar nossas ideias, porém, a aproxima mais e mais dos doutrinadores que trabalhamos para destruir.

Uma multidão se une ao redor deles. Um conflito direto entre representantes importantes de dois polos de uma mesma causa acontece. No meio daquela confusão, um oficial se aproxima de Liandry.

— Você... gosta deles? — Pergunta timidamente sem tirar os olhos da dupla.

— Nós matamos aqueles que não podemos salvar. A doutrina imposta pelos alienígenas já está intrínseca a algumas pessoas, e elas só hão de atrapalhar a criação de uma nova sociedade sem regras abusivas. Você é uma dessas pessoas, Melroa?

Achei que fosse me borrar quando o vi se aproximar, mas ao ver Mora se limpo entre nós dois pude relaxar meu corpo. No entendo a tensão voltou quando percebi as pessoas se juntando. Não podia deixar que ele vencesse.

¬ Ser um deles? Eles queimaram meus irmãos e irmãs. Levaram parte de mim naquele dia. Eu nunca seria uma deles. Mas também não sou assassina! Não matarei inocentes por causa nenhuma. Eu os protejos para serem livres!

Me virei para a multidão, olhando para os rostos desconhecidos.

¬ Seja aliança ou qualquer um, não deixem que eles lhes transformem em assassinos! Vocês são fortes, são corajosos, livres! Eu já vi muitas vidas serem perdidas, por uma guerra que não pedimos e nem queremos lutar!

Então voltei a olhar para o projeto de samurai.

¬ Ao que parece a Datsu mata o que não pode controlar, isso me soa familiar. Nós os salvamos e os guiamos para a verdade. Está é a reconquista!

Senti uma adrenalina correr em minhas veias de forma que eu me sentisse eletricidade pura. Conhecia a sensação, quando eu pilotava ficava assim. Me sentia viva, com um propósito.

¬ Apesar de tudo, Datsu ainda são nossos irmãos de causa. Vocês não precisam lutar por nós, mas sim conosco.

✵
Bastião recua. Não é de seu feitio e tampouco do feitio da Datsu participar de disputas diplomáticas como aquela. A causa ganha as guerras através da força, e ganha as disputas ideológicas através dos corações feridos e cansados da exploração. Em outras palavras, não precisam disputar. O simples fato de tornar público a existência de um grupo que não mais se baseia na fraqueza e na covardia já traz membros o suficientes para a causa.

— Não somos uma espada, Melroa. Somos um escudo para vocês, e quem ousar tocar esse escudo será ferido de volta. Jamais, atacaremos, somente revidaremos. — É tudo que diz antes de recuar alguns passos e dar espaço para Mora. — Está convidada para visitar o local onde operamos e ver com seus próprios olhos se não for como esta líder, que prefere olhar para o outro lado enquanto seus irmãos morrem.

Aquele parece o fim da discussão. Mora, porém, mantém-se firma. Seu silêncio não é mais como o usual que se deve a sua deficiência. É um silêncio completo que cessa até mesmo seus movimentos musculares. Ela não têm uma palavra para dizer a Bastião.

— Ficaremos aqui por alguns dias, e você só há de nos tirar a força. Pessoas que integram a Datsu ajudaram a fundar este local, e você não têm autoridade para me proibir de permanecer.
✵

Revirei os olhos, vendo a atitude evasiva dele. No fundo eu sabia que não adiantava. Sempre existia pessoas como Heylel. E eu já tinha aprendido minha lição, não existia espaços para pessoas como eu. Quando percebi já estava amargurada, presa num passado que não voltaria. Voltei meu foco para Mora, curvando levemente o corpo num gesto de culpa.

¬ Desculpe por causar problemas, mas preciso ir.

Ir para onde? Eu não tinha para onde ir, mas ficar rodeada de pessoas nunca foi meu forte. Nem sei onque tinha me dado. Cocei minha cabeça até meus cabelos ficarem desarrumados. No final não consegui descobrir nada do que aconteceu comigo. E ainda arrumei briga com a Datsu. Andei em direção a nave, cambaleando como um fantasma. Eles certamente me marcariam e descobriram que fui eu quem interrompeu seu ataque glorioso.

¬ O que foi que eu fiz...? - Murmurei comigo mesma.

Mora parece nervosa com a presença de Bastião, mas é obrigada a aceitar sua estadia. Antes de guiá-lo para dentro do complexo, porém, toma um tempo para interromper Melroa. De início, apenas fica entre ela e a nave. Após digitar algo em seu bracelete, porém, uma voz robótica se pronuncia.

— Muito obrigado por falar o que eu não posso. Certa vez fui uma diplomata, mas hoje já não consigo expor rapidamente meus pensamentos. — Diz o programa num tom bastante sintético, demonstrando que a tecnologia da qual a muda dispõe é bastante ultrapassada. — Representou não só a mim mas a maioria. Não deixe o tom alto destes homens te intimidar. É a verdadeira heroína e Vumihe Boik está em débito com você. Será difícil conviver esse tempo com este homem, mas as pessoas aqui se sentirão seguras pelo seu discurso.

A comunicação é difícil, visto que o tempo entre a digitação, o processamento do programa e a frase pronunciada é bastante longo. Ainda assim, Mora faz questão de abrir um sorriso singelo, no mesmo canto de seu rosto que é arruinado por queimaduras intensas. Seu sentimento, apesar de ser transmitido por uma voz que não pertence a ela, é sincero.

Senti meu rosto queimar com as palavras de Mora. Fazia muito tempo que não recebia algo assim. Passei tanto tempo preocupada em sobreviver w manter os gêmeos em segurança que me esqueci o quão vulnerável e insegura eu era. Abaixei o olhar, sem conseguir encara-la por constrangimento. Apontei para o seu bracelete, mesmo que meu olhar alternador entre ele e o chão.

¬ Bem, acho que posso ficar mais um pouco. E posso ajudar com o seu dispositivo, ao menos melhor alguns pontos... E também...

Olhei rapidamente por cima do ombro da mulher, observando o membro da Datsu ao longe. Mesmo assim diminui meu tom.

¬ Preciso de ajuda. No tempo que fui raptada... Eu não sei, não me lembro de nada do que aconteceu. Mas alguém, ou algo, mexeu com a minha cabeça. E eu não sei o fazer.

"Você... Gosta deles" - O oficial tinha perguntado a Liandry.
— Siiimm, eles não são lindos, cheirosos, engraçados e tudo mais? Tanto o Bastião quanto o outro carinha que apareceu na televisão esses dias, ain, só de ver eles já faz meu coração borbulhar. Eu nem me importaria em ser vendida como escrava para eles, ahnn, pera, você não quis dizer nesse sentido, ahh, sim, a Datsu tem uma boa causa. - Liandry respondeu para o oficial que se aproximou dela.

Depois continuou observando e quando aquela confusão meio que acabou e a Sra. Mora foi parabenizar Melroa, Liandry se aproximou de Bastião e tentou lhe dar um beijo na bochecha.
— É assim que meu povo costuma dizer "Boas vindas" - isso era mentira, ela só queria dar um beijo nele mesmo.

A líder aumentou o singelo sorriso e fez uma breve reverência, claramente contente com a decisão de Melroa de ficar. Precisaria de pessoas fortes como ela se quisesse que sua base sobrevivesse a presença da Datsu que ela vinha a tanto tempo evitar. Os relatos gerais são que a maior parte dos quarteis que a organização visita, são desmanchados pois a maior parte dos soldados é convencida e integra a causa extremista. Mora dedica-se de corpo e alma a Vumihe Boik, e claramente não quer que isso aconteça.

— Meu modelo é antigo, a tecnologia da Reconquista é sucateada. Acho difícil que consiga melhorar muito mais do que isso, mas ele já é melhor do que nada. — Diz a voz robótica após um rápido comando no bracelete. Com sua proficiência naquilo, Mora já é capaz de digitar no aparelho sem olhá-lo.

Depois disso, ela realiza alguns rápidos toques na ferramente que sempre usa para controlar tudo na estação. Para a operação mais complicada, uma tela digital abre-se a sua frente.

— Acionarei uma equipe médica para verificar se está tudo bem com você. Se quiser vê-los imediatamente, basta seguir as direções no corredor principal.

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O soldado que perguntou a Liandry fica abismado e de queixo caído com a resposta. É estranho ver alguém que admira tanto uma pessoa que ele vê como monstro. Depois da explicação da garota, ele simplesmente não tem resposta alguma além de gaguejar até que ela parta.

Bastião parece alerta à aproximação de Liandry e chega a discretamente tocar o cabo de sua espada presa horizontalmente na parte de trás de sua cintura. Ao reconhecê-la como a garota que anteriormente o recebeu na garagem, porém, ele relaxa.

Não demonstra reação ao gesto de carinho da garota simplesmente por não compreendê-lo. Sua única resposta é virar-se em direção a esta e curvar levemente o tronco para saudá-la de maneira respeitosa. Apesar de conhecê-la a pouco tempo, já reconhece sua coragem.

— Agradecemos. — Em seguida, ergue uma vez mais o corpo e vira seu rosto em direção ao dela. Ainda que não tenha visão, parece encará-la diretamente. — Diga-me, Liandry, por que está aqui? Pretendemos ficar por alguns dias nessa estação e é bom começar conhecendo as pessoas que a integram.

Estava me sentindo uma criança que recebia a tão disputada atenção da mãe, mas pelo menos por aquele momento me permiti aproveitar a pequena sensação. Concordei com cabeça enquanto recebia as instruções.

¬ Certo. Obrigada, assim que eu terminar volto para ajudar.

Pelo canto do olho observei Liandry conversar com Bastião. Apenas pude balançar a cabeça em desgosto, afinal estava além da minha capacidade influenciar tanto alguém. Fiz um breve gesto para Mora, me retirando e seguindo o caminho que ela tinha me mostrado.

-- Hmmm, eu não tenho nenhum motivo especial, não tenho rixa com a Aliança e nem com ninguém, só com uns tiras que tinham levado meus amigos, mas já cuidei disso, então, hmmm, acho que só achei que seria divertido participar da Reconquista e aqui estou eu - Ela disse coçando a cabeça, não se lembrava se tinha mesmo algum motivo real para estar ali, apesar de não fazer tanto tempo que tinha tomado essa decisão.

As sobrancelhas do espadachim se apertam um pouco, demonstrando sua clara insatisfação com a resposta de Liandry. Agora um pouco confuso e decepcionado, ele reflete por alguns segundos antes de tornar a falar.

— Então... você não luta por nada? — Ele pergunta, pela primeira vez demonstrando o mínimo de emoção. Não consegue compreender como alguém vive sem um propósito.

Fazia tempo que alguma coisa se fazia incompreensível para Bastião. Ele se sente estranho por não carregar a sabedoria necessária para entender alguém que luta sem uma razão.

Vumihe Boik não têm atmosfera habitável, e por isso todo o complexo é fechado e artificialmente oxigenado. Apesar de toda essa estrutura, ele é bastante pequeno em comparação com outros quartéis da Aliança. Isso se deve a sua proximidade com Marmihn, um dos planetas mais ligados à Aliança, e que não pode de maneira alguma descobrir a existência daquela base.

Os longos corredores luminosos estão bem cuidados e sinalizados, indicando que Mora faz um ótimo trabalho como líder do local. Apesar disso, estão todos vazios uma vez que aqueles que não estão na garagem presenciando a chegada da Datsu, estão se escondendo deles. O caminho até a ala médica é silencioso e vazio.

Lá dentro, uma coisa estranha veste o avental de um médico. Não parece muito com qualquer raça conhecida do universo. Na verdade, parece uma mistura estranha de Iormashiano, Okro e humano, tudo junto.

— Oi. —  Ele diz, claramente emburrado enquanto se olha no espelho. —  Tô aqui pra te atender. Meu nome é Jubo. O que cê tem?

Caminhei em silêncio, observando a estrutura a cada passo. Procurei também memorizar os caminhos, afinal nunca se sabe quando vou precisar sair correndo pela minha vida. A ideia me arrancou um sorriso murcho, mas foi o melhor que consegui. Só chegar no local, apenas encarei o que parecia ser o médico dali e balanceio a cabeça num cumprimento curto.

¬ Meu nome é Melroa. Eu estive desaparecida nesses últimos 3 dias. E eu não consigo me lembrar de nada do que fiz. Sinto que tem alguém manipulando minha cabeça, só não sei como.

Sei de ombros, tento doar o mais normal possível enquanto mudava o peso de uma perna pra outra.