Buraco negro - Vumihe Boik

*Percebia o quanto ela estava aflita e isso apenas fazia seu coração apertasse mais, nunca em sua vida imaginou que teria tanta dificuldade em lidar com alguém daquela forma, era como se não quisesse expor sua verdadeira opinião, como se talvez a raiva, a decepção de Mora fosse uma das piores coisas que pudesse receber, porém, ele também acreditava em sacrificios e se precisasse fazer isso com sua própria imagem, assim deveria ser feito*

-Vumihe Boik nunca esteve tão segura, Mora. *Cody ficou ligeiramente chateado por não poder ajudar aquele ser esquisito, mas não havia muito o que fazer a respeito senão tentar traze-lo numa proxima vez, quase como uma sub-quest aceita sem perguntas*

-Nem sempre nossa mensagem será escutada de forma pacifica. *O albino então retirou seu sobretudo branco, gravata e demais partes de seu traje superior deixando apenas a camisa do qual ergueu para mostrar a cicatriz que ficou ali graças a cura que Ellora que restaurou o ferimento feito por 14 durante a batalha em Tuntau e mesmo com a cura a marca estava bem grande, bem evidente e profunda*

-Cody é a favor da diplomacia, de conversar antes de partimos para qualquer batalha, e sabe, nunca tivemos sucesso, no fim sempre tivemos que lutar, cada marca no meu corpo é um sinal das nossas tentativas de dialogar para no final quase morrermos. *Abaixou a roupa de novo e começou a vestir novamente as peças que retirou tendo um certo trabalho com a gravata, para colocar ela de volta no lugar e nisso seu androide seguiu para ajudar*

-Sem recursos a se doar para os demais, não existe forma de convence-los pacificamente, todos querem algo em troca, apenas convicção e falas bonitas não convencem um povo que segue oprimido por anos a fio pela Aliança, eu posso garantir que a maioria daqui teve algo ganho em troca de servir a causa da Reconquista como moradia, proteção, quem sabe até mesmo justiça, nós precisamos dar algo aos outros para termos sua simpatia e conseguir novos membros, mas como faremos? Usando sucata como principal fonte de recurso? Mora, se você se permitisse, a Datsu, os Cavaleiros, eles podem te devolver tudo o que perdeu assim como fizeram comigo, meus olhos, meu braço, sua voz... Tudo, então por que não se permitir?*Levou ambas as mãos até os ombros da loira, buscava falar com ela olho no olho sem nunca ser agressivo, não era capaz de ser daquela forma com ela, na verdade, era notável o quanto ele estava receoso em dizer tudo aquilo. O medo de ter uma amiga tão próxima contra si era um peso muito maior do que achou que fosse, chegava a hesitar, a tremular, só que no fim seguiu por não ser de seu feitio recuar daquela forma, não poderia, não podia*

-Porque seguir estagnado? Viver aqui escondidos nesse solo instável quando nosso lugar é ali, naquele planeta, junto aos de nossa raça, por que temos que viver a margem da sociedade enquanto eles desfrutam de banquetes e de tudo que a tecnologia moderna tem de melhor? Por paz sem luta? Por uma suposta vitoria sem guerra? Mora, isso é utópico demais, não funciona, nós precisamos lutar, nunca teremos o que é realmente nosso por direito apenas conversando, os Zathrianos tentaram muito antes de nós e tiveram Phax tomada de si, seu lar natal assim como vocês aqui que se tivessem poder para combater... Poderiam ter impedido Bastião e tudo estaria como sempre, sem mais lagrimas...*Sua respiração chegava a ficar pesada, estava sendo muito mais dificil do que imaginou se expor daquela forma a ex-lider por mais que desconfiasse que no fundo ela sabia de sua má fama como um assassino, como aquele que foi responsável por tirar várias vidas para usurpar tecnologia e muitas outras coisas, porém, nunca havia sido julgado por aquela mulher, nunca havia se exposto tanto para ela acabando por sofrer puramente por antecedencia sem nem mesmo saber o como ela reagiria a tudo aquilo e por isso acabou até mesmo abaixando a cabeça já podendo sentir a dor que seria te-la irada ou até mesmo magoada consigo*

Conforme Heylel fala, os olhos de Mora parecem perder o brilho. Ainda que em seu estado mais frágil, a agente ainda mantém as esperanças e a garra de uma verdadeira líder - até ouvir um dos seus conhecidos mais antigos.

Seus lábios tremem não apenas por conta do semblante choroso. É quase como se quisessem dizer algo, relembrando o âmago dos instintos naturais da ex-diplomata. É quase como se quisesse gritar com o desespero de ver-se rodeada por pessoas como a Datsu, que ameaçam o seu maior ideal: a paz. De uma hora para a outra, Mora parece quebrada. A fortaleza imponente que ela costumava representar se deteriora conforme sua pupila tremula.

Ela lentamente começa a digitar algo em sua manopla, mas não têm forças para continuar. No fim das contas, apenas deixa que a voz robótica diga a única palavra que ela chegou a digitar.

— Bryphis...

Depois disso, ela apenas assente com a cabeça, como se desistisse do diálogo. O único que permanece é Jubo, que não se abala tanto quanto a colega. Talvez por não conhecer Heylel ou talvez por não carregar todo o peso nas costas que ela carrega.

— Ahm... vocês dois precisam de alguma coisa? — Ele pergunta timidamente.

*Percebendo que os dois haviam cedido de certa forma, Cody se aproximou de Heylel colocando a mão em seu ombro buscando dar algum tipo de força e amparo para seu mestre já que ele não podia simplesmente cair, por mais que doesse, por mais que fosse dificil, ele tinha que fazer aquilo já que não era apenas por ele, era por todos. Ergueu então a cabeça olhando por cima do ombro para o androide que moveu a face em positivo para o albino que voltou seu olhar para frente, para Mora com as mãos ainda nos ombros dela*

-Mora... *Mantendo-se em silencio, o robô sinalizou para Jubo com a mão pedindo meio que para ele dar um tempo, até mesmo colocou o braço na frente e deu um passo para trás, achou que naquele momento aqueles dois precisavam de um momento deles*

-Como você definiria o amor? *Sua noção sobre aquilo era muito rasa, quase inexistente já que o pouco que teve disso de forma explicita foi de sua mãe, o resto foram meras suposições, então precisava entender de alguma forma o que era aquilo antes de prosseguir com aquela conversa*

Mora já não têm o mesmo olhar terno de sempre. Seu semblante angustiado e cabisbaixo agora é resoluto, e não parece mudar muito com a aproximação de Heylel. O que viria a seguir apenas abalaria mais a sua determinação.

— Ei. — Chamou a atenção um homem de meia idade que antes estava recostado observando a conversa. — Você está certo. Estávamos vendo a Datsu como invasores e não paramos para considerar se seus meios justificam seus fins.

— Sim, tem sentido. Perdemos nosso único filho e já não faz sentido ficar resguardando o resto de nossa vida com medo. — Toma a frente uma mulher que ostenta no dedo uma aliança igual a daquele ao seu lado. — Talvez devamos nos juntar a essa luta.

Cada vez mais, Mora se torna uma líder sem ninguém para liderar. Com a dupla agora ao lado de Heylel e interessados em ajudar no trabalho do outro lado, restam apenas quatro pessoas, incluindo Jubo.

*Parece que não obteria respostas, Mora havia desistido? Não aceitava a verdadeira realidade sobre o atual mundo em que vivem? Não conseguia saber, sua unica certeza é de que ela se sentia mal com aquele choque a ponto de não mais reagir as coisas direito*

-Somos todos irmãos, apenas buscamos o melhor uns para os outros, Bastião não fechou as portas de Vumihe para quem precisa de ajuda, ele as fechou para invasores não entrarem e jogarem todos nossos esforços no lixo, afinal, se os Aliados viessem para cá, todos nós sabemos o resultado, Ghil é a prova absoluta disso, privado totalmente de sua liberdade, só deus sabe se ele segue vivo ainda... *Soltou os ombros de Mora, não podia mais se dar ao luxo de lamentar por ela e com ela, tinha que seguir sua luta, tinha que seguir com aquela guerra para vencer começando por Tuntau, assim quem sabe, um dia, ela poderia desfrutar de todo seu esforço junto aos demais, sem mais lagrimas como ele mesmo havia dito*

-Você pode lutar junto conosco Mora, não é intenção de ninguém aqui ferir uns aos outros, do contrário todos aqui já estariam mortos, entenda, a Datsu não quer sacrificar vocês ou simplesmente matar sem nenhum proposito, eles sabem, assim como eu, que todos esses anos parados apenas dialogando vão se estender pelos seculos e nossos filhos e os filhos deles e os filhos dos filhos sempre estarão assim, pressos em bases sem direito de ir ao shopping, de caminhar sob a luz do sol em um parque enquanto se divertem com seus semelhantes sem medo... Uma regalia que por enquanto é exclusiva da Aliança que nos priva de ter fé, que nos priva de ter um lar ao sol. *Era inevitável, sabia que aquela mulher não seguiria consigo e por isso seus olhos lagrimejavam, perde-la daquela forma, mesmo que ela estivesse viva, era como perder parte de si e ve-la daquele jeito, tão desacreditada, isso apenas fazia tudo doer ainda mais*

-Não lutamos por que achamos que vamos vencer, nos lutamos porque temos que vencer, pela liberdade, pelo direito de termos fé, por muito tempo ficamos inertes, mas agora... Agora é hora de mover-se, de lutarmos pelo o que acreditamos, só dessa forma a paz que tanto queremos irá chegar, chega de assistir nossos suprimentos se esgotando, nossa tecnologia defasando, você merece um aparelho melhor, você merece ter sua voz de volta, todos aqui merecem serem livres para crescer e se desenvolver sem medo de serem pressos, caçados e até mesmo mortos, eu lutarei por isso, nisso que acredito, pois para mim amar é querer proteger, é por a felicidade daquele que ama até mesmo acima da sua, pois a felicidade de quem você ama também é a sua, então mesmo que hoje você esteja triste, eu amo você Mora e vou lutar por isso, por mais que não acredite mais em mim, por mais que me odeie por isso, eu vou libertar nossos irmãos e finalmente teremos nosso lugar ao sol, você vai ver.*Serrou os punhos e fechou os olhos, pela primeira vez se permitiu chorar mesmo que por curtos segundos que foram cessados em boa parte com o passar da manga do sobretudo nos olhos, e claro, o lenço que o androide o entregava também ajudava bastante. Depois disso respirou fundo, seus cabelos brancos estavam sobre os olhos os escondendo*

-Estou partindo agora, irei libertar Tuntau agora com ou sem você... Quem estiver comigo e quiser se unir a Datsu me acompanhem. *Virou-se esvoaçando o sobretudo branco e seguiu para sair daquele lugar, suas lagrimas ainda teimavam em cair e seguiu a limpando com o polegar da mesma mão até que enfim parou com um respirar mais fundo onde seu olhar se fixou adiante com tremenda seriedade, daquele momento em diante, não iria permitir que nada ficasse em seu caminho*

✵
O discurso de Heylel parece inspirar bem mais ou aliados do que a própria Mora. Com sua convivência, ele provavelmente sabe bem que ela jamais seria capaz de participar nada que machuque alguém direta ou indiretamente. Mesmo após tantas oportunidades, jamais sequer quis aprender como se segura uma pistola - e ainda assim ascendeu ao ponto de se tornar líder da própria base, sobre a qual parece ter cada vez menos direito.

As pessoas do outro lado da porta perderam seu foco para ver Mora porquê preocupam-se com a loira. Durante esse tempo todo, ela sempre agiu como uma irmã mais velha para todos e doou cem por cento do seu tempo para aqueles sob seus cuidados. Muitos dizem que ela sequer teve um relacionamento em seus vinte e seis anos por estar ocupada demais com seus entes queridos.

Um a um, porém, eles o abandonam. Alguns por seduzirem-se com os ideais da Datsu, outros por medo dela. Sua esperança, porém, só chega ao fim no momento em que é deixada por Heylel - e agora o terceiro daqueles que ainda a acompanhavam junta-se ao casal, mais por não acreditar mais naquela resistência interna (que agora contaria apenas com Mora, Jubo e um terceiro elemento) do que por de fato concordar com aquele discurso.

Ela já não têm a voz e nem o ânimo para responder a todo aquele discurso. A única coisa que faz é pressionar um comando em sua manopla, o que era hábito enquanto ainda era líder, e liberar a porta para que Heylel parta.
✵

*Seguindo como se estivesse marchando até seu destino final, Heylel deixa para trás uma grande amiga como já, aparentemente, fez em outro momento, era como se o albino não pudesse aceitar pessoas que se recusam a lutar, que se recusam a fazer a diferença com suas próprias mãos por não querer mancha-las de terra e sangue. Retornando para onde veio, seguia até Bastião acompanhado daquele pequeno grupo*

-Bastião, trouxe mais membros para a causa, espero que cuide bem da vida de cada um deles, como família, sacrifícios atoa são inaceitáveis, se você segue de alguma forma o Bushido deve saber bem disso, até melhor do que eu, só vou precisar de um favor... Acha que consegue para mim balas de rifle e de lança-foguetes de mão? *Sinalizou com a cabeça para aqueles que o acompanhavam e começou a se mover para se retirar dali já que sua missão ali, em tese, estava cumprida. Para Cody, ainda restavam pelo menos dois para conversão*

-Boss, ainda ficaram faltando dois, quer que eu tente convence-los? *O albino olhou por cima do ombro para o androide e depois voltou seu olhar para o homem que seguia ali meditando, por sorte não ficou muito tempo falando com Mora, então o periodo de duas horas ainda não havia acabado, mas poderia estar proximo*

-Não, ela precisa de companhia, pessoas podem morrer de solidão, sabia? Enfim, Bastião, quais os planos? Pretende ficar para sempre aqui em Vumihe?*Queria saber, talvez a liderança de Mora retornasse... Provavelmente não, seu jeito pacifista demais iria ruir tudo aquilo construido até agora, é, parecia não haver jeito sobre aquela situação*

名

— Nós agradecemos o seu auxílio, e gostaríamos de recompensá-lo. Como qualquer um, têm acesso ao arsenal de Vumihe Boik. —  Ele responde sem deixar sua posição de meditação, contente pelo ciborgue não ter se iludido pelos ideais irreais de Mora. — Lembre-se, porém, que estamos á beira de uma guerra. Como a líder anterior desta base está com a estufa e o armazém, tudo o que conseguimos é saqueado de naves da Aliança que passam por perto rumando Kasna. Uma hora ou outra seremos descobertos, e qualquer coisa que você levar dos arsenais significa menos potencial bélico para essa batalha.

Os três novos membros trazidos por Heylel tentam acostumar-se com o ambiente e compreender como ele agora funciona. O relógio de parede marca poucos minutos para o fim do período de trabalho e eles certamente poderão conversar melhor com seus antigos colegas sobre a nova vida na estação.

— Nós vamos deixar Vumihe Boik quando nós tivermos a salvado; quando for uma potência. Essa não é a primeira vez que me instalo em uma base, apesar de essa não ser minha função primária. O trabalho é recompensador.

誉

*Estufa e armazém, logo, os recursos dos quais ele falava provavelmente eram comida e com isso pode chegar a conclusão de que não, Bastião não teria pó de pimenta. Seguindo com aqueles disseres e advertências, Heylel pensou no assunto concluindo que de nada valia diminuir o potencial de seus irmãos a próprio beneficio já que qualquer bala, nem que fosse uma, poderia ser decisiva em uma grande batalha*

-Mora é uma diplomata totalmente pacifista do qual nunca pegou em uma arma na vida por opção, ela realmente tem muita convicção no que acredita e não seremos nós que iremos muda-la, porém, seremos nós que iremos protege-la.*Olhou para trás na direção de onde havia vindo deixando aquela mulher para trás, as coisas podiam ter sido mais fáceis, tinha fé nisso. Voltou sua atenção para Bastião em seguida*

-Minha recompensa é a segurança, saúde e bem estar de todos aqui, apenas solicitei as munições como um favor e não uma regalia, mas você tem razão, eu já tenho uma certa experiencia em roubar dos Aliados, me lembra dos velhos tempos... Só que já chega dessa vida, de viver de restos, de sobras, de furtos e roubos, precisamos garantir o nosso e para isso a reconquista precisa ser feita ao pé da letra. *Pensou sobre aquilo, ele também tinha que "salvar" o povo de Tuntau os libertando totalmente da Sede da Aliança que se encontra lá, logo, tinha que voltar, porém, era sempre bom ter no que ajudar mesmo que de forma secundária a seu objetivo principal atual*

-Entendo, no que eu puder ser útil basta me chamar, seja para roubar mantimentos, mais armas ou munições, estarei a disposição, obrigado pelo tempo cedido e pela oportunidade, Bastião.*Fez um aceno de despedida muito comum entre os asiáticos e então tratou de se retirar dali de "mãos abanando" não recarregando seus suprimentos nem nada, só que ao menos, tinha a certeza de que havia feito a coisa certa e agora era só aguardar por possíveis mensagens de Bastião sobre missões para auxilio de Vumihe*

*Seguindo pilotando a nave enquanto seu mestre dormia, Cody enfim retornava até aquele lugar sombrio ao qual, bem, já estava se acostumando ao clima apesar de não gostar muito dele... Não via a hora de toda aquela guerra terminar e todos poderem viver em paz*

-Irmãozinho, terminou ai? Dizia sem tirar o olho da direção. Cody 47 seguia mexendo na prótese de Heylel a tornando nova em folha, até mesmo tinha dado um jeito nos dedos quebrados do albino deixando tudo em ordem e ao ouvir o chamado ele apenas respondeu:

-Só mais um pouco.... Prontinho, mestre Alcatraz, pode levantar. Heylel já estava acordado a algum tempo então o chamado foi ouvido de imediato. Trajando apenas sua calça, o albino expunha seu físico atlético tendo seus braços cobertos por tatuagens escuras, os ditos pergaminhos misticos

-Aqui é o capitão Heylel Fahrenheit, codinome Alcatraz, solicitando pouso. Comentou caso novamente alguém perguntasse via rádio quem ele era. Tirou seu braço esquerdo daquele suporte e ficou abrindo e fechando os dedos, sentia a prótese bem mais pesada que antes então movimentou também o ombro como se estivesse tentando se acostumar com aquilo

A viagem do meteorito distante onde a Datsu têm sua sede até a base de Vumihe Boik é longa a ponto de consumir um dia ou dois. Somando-se com o período de ida até o local e com o tempo que Heylel passou em T-340, quase uma semana se passou desde que o ciborgue visitou a base e alguns dias desde que Mora sabotou o sistema bélico.

Isso bastou para que o ambiente mudasse completamente. As armas antes posicionadas de maneira imponente agora são resumidos a destroços ao redor do ambiente. Ninguém está lá para atender o visitante, mas a porta é aberta para ele ainda assim.

Uma outra grande nave está posicionada na garagem, pronta para partir. A julgar pela concentração de pessoas no hall externo de Vumihe Boik, o lugar está sendo evacuado. Quase todos estão ali reunidos, mas a maior parte - incluindo Bastião - está insatisfeita.

名

— Você chegou em má hora. —  Diz o samurai, claramente insatisfeito. — Somos obrigados a partir. A atitude da antiga líder dessa estação comprometeu sua segurança, e nós chamamos a atenção de Kasna ao saquear naves da Aliança. Se tiverem ciência de nossa localização, é uma questão de tempo até virem até nós.

Poucos parecem preparados para partir a julgar por sua proximidade com a nave de extração. Ao que aparenta, apenas dez decidiram juntar-se a Bastião na retirada enquanto o resto ainda pretendia permanecer em Vumihe Boik.

— Eu desejo ficar e lutar caso aconteça, mas ninguém mais se sente inspirado para fazer isso.

誉

*Percebendo que não haviam mais obstaculos para que pudesse entrar, Heylel apenas usou de sua nanotecnologia para revestir-se totalmente com seu novo traje ao qual como já de costume seguia suas vontades. Ele então saiu da nave deixando o androide auxiliar ali dentro caminhando apenas com o "Cody original" para fora dali*

-Onde está C-06 e minha filha? C-06 é um androide grande, robusto de bigode metálico que está carregando consigo uma criança albina, parecida comigo, os viu em algum lugar? *Perguntou direto sem se importar muito com o que está havendo, mas logo em seguida pensou no que Bastião havia dito... Aquilo não fazia sentido*

-Ficar e lutar? No que isso adiantaria? Vamos supor que eles venham e os derrotemos, e depois? Eles saberão da nossa localização e vão seguir mandando homens mais bem preparados, talvez até mesmo números maiores,  podemos vencer, mas por quanto tempo? Se tiver alguma ideia do como nossa vitória se torne permanente, eu conheço uma forma de virar esse jogo, do contrário, não valera a pena, apenas perderíamos tempo e recursos para hordas e mais hordas de aliados em nosso encalço. *Sua voz estava alterada por causa do modulador de voz do traje. Mesmo vestindo toda a roupa, por enquanto ele ainda mostrava seu rosto para Bastião para poderem falar "olho no olho" por mais que o outro fosse cego*

名

— Não é do meu feitio virar as costas para o combate. — Responde, ligeiramente incomodado por Heylel concordar com a extração. — Tenho confiança em mim mesmo, e todos aqui deveriam ter. Estamos lutando uma guerra contra todo o universo e desvantagem numérica não deveria ser um problema.

Apesar da insatisfação, ele já está convencido a partir. Se encontra ao lado da nave e não se dispõe a defender a base que os próprios habitantes desejam abandonar. Após duas batidas na porta da nave, esta se abre e os antes operários de Vumihe Boik a adentram disciplinadamente um por um.

— Eles provavelmente estão onde você deixou.

誉

*Seguia ouvindo os ditos de Bastião e concordava com cada linha como já era esperado, os dois eram de fato muito parecidos em conduta e ideais, todavia, Heylel buscava ser mais realista e prudente já que em seu treinamento com a Sacerdotisa ele aprendeu que de nada adianta lutar algo que não renderá devida proteção daqueles a sua volta*

-O ponto não é esse Bas, eu também confio em minhas habilidades, nas suas e dos demais daqui e acredito piamente que ter menor numero não significa nada, afinal, já venci batalhas onde meu time possuía menor numero, no final o que importa é a qualidade da estratégia, porém, como eu disse, mesmo que vencemos a batalha, a guerra seria infinita, mais e mais hordas de Aliados viriam para nos destruir, então irmão, eu pediria para que você se reunisse com o pessoal de Tuntau, estamos planejando tomar uma base Aliada lá, você e os demais seriam de grande ajuda e assim, tomando essa Sede a confiança que eles tem vai se abalar os deixando vulneráveis e o fim seria em Nasod, seu coração, o golpe final e triunfal. *Seguiu caminhando até Bastião colocando a mão em seu ombro estando meio que de costas para ele por estar seguindo para a direção oposta onde iria até sua antiga casa buscar Maya e C-06. Cody seguia observando seu mestre estando surpreso com sua atitude começando a questionar internamente o que ele havia passado dentro daquela caverna*

-Se utilizas o inimigo para abater ele mesmo, serás poderoso em qualquer lugar onde fores, assim, pois o mais importante em uma operação militar é a vitória e não a persistência já que está ultima não nos beneficia porque todo o exercito é como o fogo onde bem cuidado dizima teus alvos, mas senão o apagas devidamente este se consumirá por si mesmo... Arte da Guerra, uma obra terráquea de séculos atrás, recomendo a leitura, acredito que vai adora-la e que ela irá expandir ainda mais sua visão, Bas. *Deu tapas sutis no ombro do Samurai e seguiu em frente para poder encontrar o Familiar de sua mãe que provavelmente ainda estava "aprisionado" na moradia seguindo as ordens de permanecer ali junto a criança independente do que acontecesse ali*

名

O samurai não mais discorda ou discute com Heylel quando percebe a maneira como fala. Suas palavras, suas ações e até mesmo a maneira que respira estão diferentes da última vez em que o encontrou, e Bastião conhece bem o motivo para tal.

— Se encontrou com "ela". — Ele murmura enquanto o companheiro parte. — Desse modo, confio em seu julgamento.

Quando finaliza, curva levemente o torso para reverenciar o colega. Não num sinal de submissão mas de respeito, algo que ele demonstra para poucos.

誉

Ao andar pelos corredores de Vumihe Boik, Heylel percebe que nem todos estavam partindo. Muitos ainda estão lá, inclusive os dois que pareciam estar a comando de Bastião e que escoltaram o ciborgue durante sua primeira visita. Aparentemente, alguns decidiram ficar e assegurar a base ainda que correndo um risco.

O quarto onde Maya repousava está claro e uma música pode ser ouvida a medida que se aproxima. A porta está aberta, e o robô não atende Heylel.

Dentro do quarto, há apenas um sujeito: o médico que solicitou pimenta em pó para Cody e que permaneceu com Mora até sua morte. Ele está com uma seringa ao lado da jovem garota, e pula num susto quando o ciborgue se aproxima.

— Puta merda, mas o que diabos está fazendo aqui?! — Ele exclama, com seus olhos arregalados e a pelagem arrepiada.

*Heylel seguiu caminhando com Cody o acompanhando, este ultimo que encarou Bastião que dizia aquelas palavras misteriosas e fazia a reverencia respeitosa a seu mestre... Algo havia acontecido, quem era ela? Porque aquele que sempre resolveu tudo brigando agora parecia mais amistoso e com mente no lugar? Não que fosse ruim, mas era estranho, não parecia mais o mesmo homem*

-Almas que lutam desnecessariamente geram pestilencia. *Comentou ao notar aquele pessoal ainda ali sem seguir para nave, ao que tudo indicava Bastião realmente agia como um escudo, uma proteção, sem nunca falar ou agir, só segue defendendo restando então para si e seu Familiar tentar resolver isso, mas antes, prioridades. Ouvindo aquela musica peculiar, Alcatraz estranhava a situação então apertou o passo para chegar mais rápido*

-Eita, é o cara da pimenta em pó! Ue, meu irmãozão ta desligado? *Comentou o androide ficando parado na porta observando o robo maior que parecia estar inativo enquanto seu mestre seguia para dentro do local sem cessar seus passos indo em direção ao outro*

-Vim buscar minha afilhada, o que estava fazendo com ela? Não vou perguntar duas vezes. *Comentou com o tom alterado por causa do modulador parecendo um demônio enraivecido. O outro poderia notar mesmo sem instinto animal que Heylel estava agressivo então o melhor seria não provocar ainda mais para seu próprio bem, afinal, a sensação de perigo é algo inato de todo o ser*

— C-Calma lá, não precisa falar de novo não! E-Eu já entendi. — Ele coloca as mãos em frente ao corpo e recua até ver-se encurralado pela parede da sala. — Eu estou apenas cuidando dela, não se preocupe.

Lentamente e mantendo contato visual, ele apanha em uma mesa ao seu lado o líquido que injetou nela com a seringa que segura. É transparente e está devidamente embalado como um item médico.

— É um suplemento de vitaminas. Ela está em coma e precisa de auxílio pra se manter viva, sabe? L-Lamento dizer, mas não pode tirá-la daqui sem causar sua morte no processo.

Seu nervosismo revela verdade em sua fala. Além de tudo, um detalhe em seu janelo chama a atenção: por baixo da manga deste está a manopla de Mora, que aparentemente foi passada para ele como segundo em comando. As bandagens que curam a cicatriz de tiro em sua perna ainda estão lá, mas não mais ensanguentadas.

— Agora preciso perguntar... — Ele estica a cabeça para poder olhar para Cody logo atrás. — Conseguiu o que eu precisava?

*Com aquela reação alheia, Alcatraz cessou seus passos e ficou parado o encarando e ao ver aquele recipiente transparente onde estava o liquido que até então para si era um misterio já que não podia confiar totalmente no outro, apenas sinalizou com a cabeça e murmurou um "Cody"*

-Ok, ok, vejamos. *O androide se aproximou e escaneou o alvo com seus olhos robóticos podendo ver a composição daquilo que estava sendo usado e ao ver a veracidade das palavras daquele... Enfermeiro? Acenou positivamente com a cabeça*

-Ele está falando a verdade Boss, esse liquido é mesmo um suplemento vitamínico. *Falou e deu passos para trás para que seu mestre seguisse em sua frente. Heylel deu apenas mais um murmuro dizendo "Muito bem" e voltou seu olhar a criança que estava ali em coma*

-Agradeço sua ajuda por ter cuidado dela em minha ausência, posso saber seu nome, jovem? E a estação está sendo evacuada, realmente não existem formas de transporta-la? Aqui não é mais seguro. *Com a pergunta, o albino por debaixo de toda aquela roupa ficou confuso... Do que aquele homem estava falando? Ao notar que não era consigo voltou seu olhar sobre o ombro fitando seu parceiro sintético*

-Ei! Não fiquem olhando assim pra mim! Mas sim, eu meio que trouxe e não trouxe, meu irmão é um faz e vende tudo então antes dele vir para cá, ou melhor, lá, sabendo que viríamos aqui eu pedi a encomenda, só que o maldito sovina não quis me dar e sim deixou a venda, então se tiver créditos sobrando ele pode te vender, agora se quiser que eu pague vai ter que desembuchar o porque raio quer esse trecho, acho bem justo. *Cody cruzou os braços e se apoiou numa parede aproveitando por dobrar uma das pernas e encostar seu pé também na parede. Sem entender aquela negociação o mascarado sussurrou um "Que trecho?" e voltou seu olhar para o enfermeiro como se estivesse em busca de resposta*

Quando Heylel desvia o olhar, Jubo aproveita para respirar por um segundo. Ele é um médico e não está acostumado a lidar com aquele tipo de situação, então é natural que suas pernas estejam trêmulas daquele jeito.

— I-Infelizmente não dotamos da tecnologia aqui para levá-lo junto, e não sabemos por quanto tempo a estação se manterá segura. Se formos encontrados, nossa única alternativa é tentar se passar por um grupo de cientistas ou nos render. Esse sempre foi o plano de Mora afinal. — Ele dá de ombros, desviando o olhar para a manopla que já pertenceu à loira. — De um jeito ou de outro, essa pequenina é uma criança. Se alguma coisa der errado, ela vai estar melhor lá do que aqui. Não é culpada de nada, sabe? Dizem que seus pais já estão mortos.

Seus olhos brilham imediatamente quando Cody menciona ter o item e sua angústia passa para euforia em uma fração de segundos. Imediatamente ele passa por Heylel e alcança o androide, vidrado com a possibilidade de obter pimenta.

— C-Claro, claro... bom, é meio constrangedor. — Ele esfrega uma mão peluda na outra, encabulado com a situação. — Bem... eu não sou um Iormashiano, nem um Huun e nem um Okro, como minha aparência sugere. Na verdade, os raros membros da minha raça têm uma genética muito curiosa que permite-se mudar de forma... mas eu não consigo controlar livremente. Meio que... só acontece quando eu espirro, e eu estou horrível atualmente.

*Uma pontada de decepção acertou Alcatraz ao ouvir sobre os planos de Mora... Era esse o grande plano? Se entregar com base numa desculpinha esfarrapada? Aquilo o encheu de desgostos e até cuspiria no chão se não estivesse de capacete, sem duvida naquele momento sentiu que a morte dela havia sido um mal extremamente necessário*

-Tecnologia para leva-la a um lugar seguro, entendo... *Seguiu ouvindo aquele médico seguindo até a pequena onde se abaixou ao lado da cama dela para quem sabe ve-la mais de perto e ali começou a afaga-la o topo da cabeça*

-Se estão mortos, pais e madrinha, então eu assumo como padrinho, serei o pai e responsável único dela e do Miyano então é meu dever resgata-lo também.*Seu tom ainda que alterado pelo modulador deixava claro que ele estava bastante pensativo. Quando Jubo se aproximava de Cody, a primeira reação do androide colocar suas mãos na altura do peito como um pedido indireto para manter distancia*

-Pera, calma ai garotão! *Por ser um robo cujo conhecimentos eram bem avançados, ele sabia e entendia o que aquele homem... Homem? Era, bem, agora não tinha como saber exatamente já que até de sexo os Kaarteonianos podem mudar se assim for sua vontade embora agora, aparentemente, era preciso certo controle também*

-Que foda! Você é um Kaarteoniano?! Tipo, de verdade?! Vocês são mesmo muito raros! Cara, muito incrível conhecer um, tipo, pessoalmente entende? Alguns estudiosos até teorizam que vocês estavam extintos, caralho mano, isso é muito maneiro!... Tu é mano né? Sei lá, vai que trocou de sexo durante uma espirrada ou outra. *O outro poderia estranhar um ser sintético agindo de forma tão expressiva quase como se fosse um ser orgânico que vibrava ao ver uma figura tão rara a sua frente. Apesar de focado no estado de Maya, Heylel seguia escutando seus arredores e ouvindo que havia um irmão de uma certa conhecida sua ali, acabou se intrometendo na conversa*

-Se sua transformação ocorre de forma aleatória a cada espirro, o que o garante que sua próxima forma não seja pior do que essa? Sugiro controlar isso e eu conheço alguém da sua raça que pode ajuda-lo nisso, a ter controle sobre suas transformações. *Aquela fala mexeu com o Familiar, como assim seu mestre conhecia outro Kaarteoniano? Apesar de que ele já meio que tinha feito um harém sem que soubesse... Realmente aquele Kroyvisiano é cheio de surpresas*

— Sim, eu sou, mas eu nunca consegui acertar. Simplesmente fico ansioso, penso em milhares de coisas e no fim não acabo virando nada. E não se preocupe, essa não foi nem a minha aparência mais esquisita! Um dia acordei com alergia e, quando fui ver, tinha as partes íntimas de um Garesiano...

Ele lamenta profundamente, demonstrando que aquele seu drama pessoal é bem mais marcante para si do que pode parecer. Apesar de bobo, aquilo sempre afetou profundamente sua relação pessoal com os outros ao seu redor e por isso a personalidade acolhedora e terna de Mora os fez tão próximos a ponto dele se tornar o novo portador da manopla que controla Vumihe Boik em seu lugar.

— E eu não encontrei prontuários ou fichas dessa garota, por isso é difícil controlar o seu quadro clínico. Por causa disso eu não sei o nome de nenhum responsável e não pude te contatar. Têm alguma ideia do que pode ter causado tudo isso ou como ajudar?

*Heylel permanecia ao lado de Maya afagando seus cabelos alvos como os dele que seguia pensando com muito cuidado sobre a decisão que tomaria onde quanto mais pensava, mais notava que estava ficando sem escolhas, aquele parecia ser o único jeito*

-Não sabia que Garesianos tinham partes... Urgh! E caraca, quem diria que algo como ansiedade poderia afetar um talento inato como esse, e bem, não virando um ouriço azul antropomórfico gigante de luvas e tênis esportivos acho que já ta muito bom! *Enquanto Jubo e Cody conversavam entre si, Alcatraz terminou sua linha de raciocínio e após um pesado suspirou decidiu coloca-la em pratica*

-A menina assim como seu irmão não possui registro algum sendo necessário faze-lo, também é preciso leva-la a um lugar mais bem estruturado onde o tratamento dela possa ser intensificado descobrindo as causas e arrumando um jeito de tratar e eu só conheço uma pessoa capaz de fazer tudo isso por mim... Cody, compre a pimenta em pó com seu irmão e mande uma mensagem ao líder, diga a ele que quero fazer um contrato. *O capitão se levantou, pegou uma cadeira e puxou para poder sentar-se ainda proximo da menina adormecida. Apesar de estar totalmente armadurado era perceptível no clima que havia pesar em seu semblante*

-Um contrato com o Big Boss?! Você ta doido? Isso é tipo vender a alma pro diabo, não, não! Isso não é nada bom! Tem que ter outro jeito! *Mais uma vez, apesar de ser apenas uma maquina, Cody demonstrava muito mais emoção do que muitos humanos por ai, chegava até mesmo a gesticular durante a fala*

-Minha alma já foi vendida a muito tempo, eu pensei cuidadosamente na situação e com certeza essa é a unica maneira então a faça, Vumihe não é mais segura para ela, Maya precisa ser transportada e registrada no banco de dados da SIDA para receber tratamento médico adequado e dentro de todas as normas que apenas os Aliados podem oferecer, infelizmente. *Percebendo que não haveria conversa e que seu mestre estava inflexível sobre aquela decisão, o androide já sabia o que seria feito a partir dali então enviou uma mensagem para Bhailin confirmando que ele iria com ela até a casa de Renard, afinal, depois de Maya, seria a vez de Miya de ser resgatado e esse estava justamente em Gradopolis. O androide seguiu até seu irmão para fazer o que foi pedido*

— E-Espera, eu não faço ideia de quem seja Big Boss! Desculpem, m-mas como médico e l-líder temporário dessa base, eu não posso deixar que coloquem a vida dessa criança em risco para ser tratada por alguém que desconheço.

Apesar de inseguro, ele tenta tomar alguma frente em defesa de Maya. Como um dos últimos médicos de Vumihe Boik e o único que decidiu ficar, ele vê-se obrigado a fazer algo pela pequena garota.

— Eu não posso salvá-la, mas posso mantê-la viva até que a situação toda se acalme e uma equipe possa ser designada para me ajudar. Até lá, não posso deixar que saia. Ainda mais sem uma ficha.