Desenterrando Memórias.

— Ah, obrigado pela oferta, haha — dizia ele com seu charme natural — Mas, vou ter que recusar. Estou aqui apenas acompanhando meu capitão, não tenho dinheiro sobrando e nem muita habilidade com armas arcaicas, haha

Ele, no entanto, dava um estalo de ideia, se aproximando um pouco do HUD e do balcão.

—Mas, posso ficar curioso se tiver novos modelos de pistolas, diferente da Hemeor. Assim posso fazer uma reservinha do salário e encher meu porquinho pra poder comprar, hahaha! — ele ria. Tentava ser o mais carismático possível, mas não na tentativa de conseguir descontos e sim porque ele realmente era daquele jeito.
Os descontos sempre vinham naturalmente, principalmente porque ele tem mania de ser comprador assíduo de lojas.

A voz suave de Frederick encanta a vendedora, que temporariamente desvia o olhar do atraente pirata diante de si e foca-se inteiramente no negro robusto ao seu lado. Claramente interessada em conversar e não mais só em vender, ela debruça-se no balcão e apoia o rosto entre as palmas das mãos enquanto observa-o com um olhar de puro fascínio.

— Oh, eu comprreendo. Um homem tão elegante prrecisa de uma arma mais poderrosa que uma simples Hemeor. Tenho certeza que você salva pessoas todos os dias com esses brraços fortes, não é? Prrecisa do melhor que há disponível.

Sem tirar os olhos de seu príncipe núbio, ela desliza a tela do HUD para a seção de pistolas e deixa que Frederick as observe. Enquanto Ale'ek não a chamar a atenção, manterá-se ocupada com o sua nova paixão platônica.

— Tenho modelos que variam de acordo com a sua prreferrência: combate a curta distância com maior dano, combate a longa distância com mais prrecisão, ou até mesmo uma pistola automática. Posso fazer um prreço especial parra você.

Pistolas:

Fora as pistolas apresentadas, a boa e velha Hemeor está também presente.

— Ah, haha — começava ele, encarando seus braços de forma lisonjeada — É um dever de um soldado, né. Não posso fazer diferente! Haha!

Então ele encarava fixamente o HUD. Seus olhos amarelos passeavam pelos textos totalmente concentrados, aparentando estar pensando em milhões de planos e situações que cada uma daquelas pistolas poderiam ser usadas.
Depois de um tempo encarando ele vira-se para a vendedora e diz:

— Me interessei pela pistola de íons e a Cold Python, quais seriam os preços dela? — seus olhos encaravam diretamente a vendedora.

Pode até ser meio assustadora a maneira com a qual a Iormashiana observa o soldado incessantemente, até mesmo enquanto ele verifica os produtos da loja. Quando ele não a olha, ela toma um tempo para observar seu corpo de cima a baixo discretamente.

— A pistola Garesiana é feita com tecnologia de ponta e você não a encontra por menos de dois mil créditos. Ela pode não ser muito letal mas acertar tiros com ela é mais fácil do que com outras armas, então é sempre bom de ter. Principalmente se quiser ensinar alguém, como eu mesma. — Ela não deixa escapar a chance de um pequeno flerte. — Quanto à Cold Python, é muito cara por ser preciosa para muitos colecionadores. Vendi uma ontem por três mil créditos.

Ela sorrateiramente desliza os dedos pelo balcão e posiciona sua mão acima da de Frederick, com um toque terno e suave. Pode até ser confortável por seus pelos macios.

— Posso fazer a metade do preço nas duas para você e depois me acerto com meu chefe.

— A espada de ferro é mil e a tecnológica é mil e quinhentos. Tá bom para o senhor?! — Respondeu, fechando um pouco a cara. Imediatamente, porém, percebe o que está fazendo e corrige sua postura e seu semblante. — Caham, desculpa... o Blastech é mil e oitocentos e a barreira depende da potência. Tenho de dois mil, quatro mil e seis mil. Espero que algum te agrade, hihihi...

Ela parece um pouco desconfortável por se ver naquela situação e frustrada por ter sido tirada de seu sonho lúcido. Apesar disso, é inegável que Ale'ek também é atraente. De repente havia adquirido fetiche por fardas? Talvez tanto tempo na indústria bélica tenha mexido com ela.

[justify]— Hmm... — Recuou a mão enquanto em direção ao queixo para tentar fazer uma matemática doida em sua cabeça. — Você tem dinheiro para o que quer? — Olhou de canto de olho pro companheiro ao seu lado.

— Qual a tecnologia da espada e seu potencial em batalha?[/justify]

Ainda que ruborizada e envergonhada, a Iormashiana tenta ser o mais formal e útil possível para seus compradores. Precisava vender as armas para ter direito a sua comissão e ao seu dinheiro, afinal, e uma viagem para os parques de Kasna não se financiaria sozinha.

— As armas corpo-a-corpo contam primariamente com a força do usuário para atingir a máxima capacidade de dano. Algumas, porém, são reforçadas tecnologicamente com calor, eletricidade ou energia para que consigam causar ferimentos ainda que o golpe não carregue muita força. — Ela diz o texto todo de uma vez, como se estivesse decorado.

Enfim colocara em prática seu treinamento recente sobre aquele tipo de item. Não saiu tão ruim quanto imaginava afinal.

Ele iniciante estranha o passar dos dedos, mas era como fazer carinho num cachorro com a parte de trás da mão, então deixou. Também, não era bobo de estragar tudo agora e perder todo o descontão.

— Ah, desculpe, senhor. Não acho que tenho para ambas, tenho apenas 1990 créditos — ele então virava-se para a moça, cortando todo o fluxo de conversa — Desculpe cortar a conversa, mas, se a gente comprar todo esse armamento junto, não tem como fazer um descontão completo? Assim a gente consegue dividir melhor os preços, não concorda, capitão?

Por fim, ele virava seus olhos para o homem e a mulher. Esperava que ele ajudasse com esse pacote de descontão, se não ele não teria como levar as duas armas que queria.

— Ahm... eu imagino que sim. Semana passada um moço levou isso aí porque achou estiloso e voltou reclamando com os dentes quebrados. Eu sugeriria que mãos fortes a segurassem... como a desse moço vistoso aqui. — Ela uma vez mais flerta com Frederick, dessa vez seguindo com uma piscadela.

Atrás da dupla, alguns clientes formam uma pequena fila para serem atendidos. São um grupo de rapazes humanos que não aparentam muito mais do que vinte anos, mas que estão vestidos com roupas bastante caras a julgar pela marca que ostentam.

— Quanto ao desconto geral... depende. O que vão levar?

Ele respondeu os ombros com um aceno de cabeça. Antes de continuar suas compras ele olhou para os jovens procurando saber mais sobre eles.

Havia acabado de acontecer um ataque terrorista, então não ia arriscar.

— Certo. — Ela realiza contas mentalmente, mas não parece ser muito boa nisso. Por vezes perde-se com o número e precisa retomar a contagem. — Eu acho que fica sete mil setecentos e cinquenta créditos.

Os garotos parecem impacientes. Pelo que Frederick pode ouvir da conversa, eles parecem morar em bairros nobres e falam sobre fotos para postar nas redes sociais.

— Podemos fazer por sete mil e quinhentos, que tal? — Ela dá um sorriso amarelo para a dupla. Aquele desconto já incluía o desconto de 50% que oferecera inconscientemente para o humano, e não esperava que no final das contas a compra saísse tão cara. Teria que justificar mais de sete mil créditos a seu chefe, justamente o valor de sua viagem.

— Muito obrigado! — dizia ele pegando a mão que era esfregada nele antes. Ele segurava com ambas as mãos enquanto encarava para ela, já transferindo o dinheiro.
Ela podia ver que no caixa dava um "bip!" de transferência enquanto seus olhos brilhavam como uma gema.

— Sério mesmo, obrigado demais! Acabei de perder minha pistola na explosão do shopping e estas duas armas vão ser muito bem utilizadas, obrigado mesmo! — ele continuava. Estava realmente feliz, sempre gostava de ganhar desconto (até porque, quem não gosta?).

Em seguida, virou-se para o capitão com um sorriso. Estava agradecido pelo pagamento de seis mil e com certeza iria agradecer verbalmente quando saíssem. Por fim, enquanto pegava as armas que ela logo alcançaria, olhou para os garotos.

— Desculpem-me, senhores. Não queríamos fazê-los esperar tanto, mas estamos indo à uma missão logo, logo e temos que nos armar um pouco mais. Desculpa de verdade.

Suas desculpas poderia logo irritar Ale'ek, mas isso dava de cara para ele que Frederick era realmente gentil e se preocupava com sua alcunha de servente civil.

— He... hehehe... claro, explosão do shopping. — Ela acena e se despede, ainda confusa quanto ao que fez.

Pelo jeito teria que trabalhar mais um ano ali para sua tão sonhada viagem. Todo aquele valou oferecido e nem mesmo uma bitoca no fim das contas a deixava decepcionada, mas a culpa talvez tenha sido sua por não ser interessante o suficiente para o soldado.

Os garotos olham feio para os militares, impacientes por sua vez. Um deles até parece realizar um comentário ofensivo ou caçoar em sussurros.

— É, claro. Pensei que iam acampar aqui. — Comenta o que aparenta ser mais velho, e logo é bajulado com risos falsos pelos outros.

Nesse ponto, é quase noite em Gradopolis e os ventos intensos carregam a umidade de uma chuva eminente. As ruas estão bastante vazias para os padrões da metrópole, principalmente pelo medo causado por um novo ataque, dessa vez em maior escala.

— Ei, capitão, se acalme. Esquece isso — dizia ele, chegando apressadamente até o homem enquanto guardava as pistolas — Ignora eles, todo mundo sabe que balde vazio faz mais barulho quando pinga — dizia ele, naturalmente. Sua frase era um pouco mais travada, principalmente em palavras mais brutas. Certamente mostrando sotaque.

Ele tentava passar de lado pelos garotos, ignorando-os.

— Hm. Foi nada não, tio. — Murmurou agora o líder do pequeno grupo, dessa vez mais defensivo. — Eu tô na minha e você tá enchendo.

Os outros dois parecem ainda mais intimidados, mas um deles está ainda mais nervoso com a situação. Suas pernas chegam a tremer diante do capitão, e seu primeiro reflexo é esconder-se atrás do amigo para evitar olhar o outro diretamente.

Atrás destes e do balcão, a Iormashiana apenas sinaliza para que os militares deixem passar com as mãos, abanando-as num sinal típico.

Frederick não gostou de ter um capitão impulsivo daquele jeito. Nunca gostou de devolver xingamentos ou má-educação, então aquela situação deixou o negro um pouco incomodado.
Contudo, ele logo lembrou de quando a recém havia sido liberto – situação que parecia ser de segundos atrás – e teve que enfrentar preconceitos logo de cara. Preconceito que devolveu com preconceito. Foi uma situação que lembrou-o de nunca mais se rebaixar ao ponto do seu "xingador".

Também com esta lembrança, notou que poderia tentar convidar os seus amigos soldados para a missão.

— Senhor, conheço dois soldados que poderiam ser de alguma ajuda para a missão. Se não for muitos para o senhor comandar, eu poderia contatá-los. Com certeza eles viriam, já que aparentemente apenas fazem ronda pela cidade; e isso é chato pra caramba! — ele falava, mas, assim que terminou a fala, lembrou que não havia agradecido pelas armas — Ah! E obrigado pela ajuda na compra das armas. Vou provar que seu investimento não foi em vão, haha!

Não entendia porque Buck pegara e, provavelmente, dera patentes altas para um problemático deste. Recusar trabalhar com desconhecidos era a forma mais básica do comodismo e através do comodismo a gente nunca evolui.
Era realmente triste, mas, não podia reclamar. No entanto, sabia que isso era negligência com a dificuldade da missão, então, não iria dar seu coração à ela, somente o seu sangue.

Continuou a seguir o homem em silêncio.