Desenterrando Memórias.

Ele corria em conjunto com os robôs para poder chegar mais rápido lá fora. Não queria sobrar lá dentro, obviamente. Seu objetivo fora salvar à todos, mas se pudesse se salvar, também não iria deixar de tentar com todas as forças.
Seu coração que parecia estar em uma competição de velocidade contra suas pernas, batia tão freneticamente que, se tivesse alguns anos acima, provavelmente teria pontadas de ataque cardíaco.
Após chegar ao portão e a explosão desintegrar o shopping; seu suor, que escorria com ferocidade por seu corpo, reluziu o vermelho caótico que só não teve acompanhamento de seus olhos, pois a esclera preta tomou conta de sua expressão: os olhos arregalados pelo choque acompanhavam o sentimento geral, a amostra de poder dos terroristas era alarmante e a possibilidade da morte de milhões era ainda mais horripilante. Isto claramente iria deixar todos – e não somente os moradores de Gradopolis – inquietos.
Todo seu corpo imediatamente amoleceu. A tensão que percorria pelos seus músculos fora repentinamente "desligada" e Frederick se deixou cair nos braços robóticos dos seguranças. Era um misto de alívio e apreensão. Ele sabia que havia salvo um grande número de civis e que isto poderia aparentar em todo o shopping, mas sua experiência de soldado lhe dizia o contrário: ele sabia que poderia ter baixas e o pior, teria que lidar com elas sem poder fazer nada. Seu suor caía na mesma velocidade que sua respiração pesada (uma mescla do suspiro aliviado com o pensamento negativo) e isto era devido ao tempo que fazia fora de um batalhão. Havia ficado muito tempo numa prisão disciplinar e fazia ainda mais tempo que não ia para uma missão perigosa como essa. Este ataque terrorista, de escala gigantesca, foi um belo tapa em sua cara: não havia descanso.

— Com licença, seguranças; conseguem... Me dizer quantos estão vivos à nossa volta... E quantos estavam lá dentro? — ele perguntava. Esperava que neste momento os robôs já estariam um pouco menos agressivos à ele, já que estava retido e desarmado. Sendo assim, algumas perguntas respondidas não seriam tão difíceis de se acontecer.

A força na sua fala, no entanto, era mínima. Parecia que não era somente pela sua força física ter se desgastado, mas também sua mental. O que era um tanto estranho para um soldado. Contudo, a resposta era simples: ele havia, através de tudo isto, pensado em seu irmão. Ficou preocupado com sua segurança, ficou ainda mais preocupado na possibilidade de ele poder estar ajudando isso de alguma forma. Ele havia criado muitas teorias enquanto estava na prisão, então nada lhe era surpreendente.
Em seguida, com seu irmão em mente, pensou na família que havia lhe atendido há pouco. Portanto, girou sua cabeça com o máximo de força que conseguia reunir no momento, à procura da senhora e do jovem. Sua empatia havia apitado contra eles, mais principalmente com o jovem que lhe lembrava o seu irmão mais novo em sua infância: cheio de sonhos e poucas maneiras de se chegar até lá.

Não demorou muito pro homem chegar, caminhava de maneira lenta enquanto seus olhos, cobertos pelos óculos negros, analisavam toda a cena, a explosão realmente era de um impacto aparentemente parecido com o da última vez que trabalhou em um caso daqueles.

Quando os olhos por trás da lente negra encararam a figura que deveria conversar, se aproximou o suficiente para limpar a garganta em uma tosse para lhe chamar atenção, a mão direita se ergueu para próxima aos lábios.  — Com licença? Buck me enviou, mas parado aqui percebo que ele não me citou seu nome... Deselegante, desculpe-me por isso. — Não sorria ou demonstrava afeto, também não era grosseiro, a mão direita se abaixou enquanto canhota ergueu-se em direção a ele.

— Me chamo Ale'ek, sou o companheiro para a missão.

Ficou confuso com a forma que ele agia, nunca exigiu de nenhum soldado inferior aquele tipo de postura, sorriu em direção ao homem enquanto a mão que ofereceu para cumprimenta-lo voltava a se esconder de maneira tímida no bolso de seu sobretudo. O ar pesado da cidade foi inalado pelas narinas até o limite dos pulmões, pelo mesmo local que o ar entrou ele saiu de forma lenta.

— Tudo bem. — Sacou o distintivo do bolso, mostrando em direção a ele o simbolo da patente junto ao seu código de soldado da aliança. — Capitão. Não arriscaria que você me seguisse sem me conhecer, é claro, mas também sei que Buck lhe deu uma missão, fico feliz se nosso convívio for um pouco mais agradável e sem dúvidas... Você é terráqueo? Conheci poucos assim. — Guardou o distintivo após ele avaliar e tirar suas conclusões.

— Você sabe o que aconteceu aqui, certo? Entende quem fez isso? Ou até o explosivo? 

Enquanto ele relatava os acontecidos do local, o capitão vira o rosto em direção ao centro dos acontecimentos, seus olhos por trás das lentes negras pareciam perdidos, encaravam o máximo possível dos estragos que aquela bomba havia feito, sua mente não se passava nada além de - "Estão bem em baixo do seu nariz" - Virou o rosto em direção a Frederick novamente. 

— Eu sou responsável pela investigação da explosão no centro. — - "Porra de Bastião..." -  Pensou por um segundo da oportunidade perdida, respirou fundo enquanto procurava pela equipe que deveria estar próxima. — Na realidade, minha "equipe" está aqui, pelo menos deveria estar... Mas... Você se tornou um herói aqui, não é? Não cheguei a ver o por que, pode me explicar que ato heroico você fez? E antes de partirmos, poderíamos ir atrás de outra pessoa? Não é uma equipe se não tiver todos, não é?

Com a resposta de poder partir a qualquer momento, o albino com o tecnophone em mãos procura pelas coordenadas que Buck tinha que mandar, aproveita estar com o aparelho em mãos e envia duas mensagens, uma para uma pessoa que leu sobre o histórico na aliança e outra que era um amigo antigo. Queria partir o quanto antes, mas precisava das respostas. 

— Antes eu preciso de uma resposta, mas já seguimos para a missão. — Caminhou por entre a multidão de pessoas, evitando as pessoas ao redor que tentavam ver os acontecimentos, ignorava até mesmo as diversas câmeras que procuravam filma-lo, era como se não estivessem ali, o capitão seguia em direção a dupla que estaria investigando o local.

Procurou, procurou e procurou, não conseguiu achar a dupla de cientistas forenses, pouco antes de desistir de vez e seguir para algum lugar, tomar sorvete ou comer algum lanche, recebeu mensagem de Buck, mensagem essa que fez seu olhar ficar um tanto quanto sem reação por baixo do óculos.

— É do Buck. — Avisou o homem enquanto erguia o olhar para encara-lo. — Ele disse que a missão vai ser difícil pra você... — Não conseguiu esconder o teor sarcástico na voz, ignorou o vídeo enquanto seguia caminhando em direção a uma loja que vende armas de todos os tipos, precisava de algumas armas e aparentemente o companheiro também.

Quando questionado sobre seu nome, o oficial pausou a caminhada, por trás do óculos seus olhos ficaram um pouco pensativo, realmente, sobrenome é algo dado de família para família, porém, seus sequestradores, ou melhor, seus companheiros que lhe livraram da morte no vácuo. — Não... — Sussurrou para si mesmo, talvez chamando a atenção do companheiro. — Digo, não me lembro. Fui criado para servir a aliança, sobrenome é algo que famílias usam, é um significado de amor indireto.

Voltou a caminhar com certa velocidade, tentando recuperar completamente o tempo que perdeu ao pausar a caminhada. — Eu vivo para servir. — A mão direita foi em direção ao botão, tocando para abrir a porta, o local era realmente bonito e atraente para oficiais.  

— Oi, eu procuro diversos tipos de armas. — Disse logo que entrou, o albino retirou o sobretudo branco que utilizava colocando-o no cabide. — Tenho interesse em armas tecnológicas que buscam o visual e utilização medieval terráqueo, espadas, arco e flecha, lança, katana, enfim, esse tipo de coisas... Você teria algo para me mostrar?