Gayláxia Rosa

A mensagem de Uriel mal é enviada e as respostas já chegam rapidamente, fazendo que seu techonophone vibre e toque uma musiquinha repetidamente, acompanhado de uma explosão de novas notificações na tela do aparelho. Quase como as mensagens de Tanid, mas ainda não chegando ao nível da garesiana. Conhecendo a personalidade um tanto peculiar de Allen, não lhe parece nada estranho a frequência frenética das mensagens enviadas pelo Huun.

All escreveu:

MU-LHER!;
Ai bi, tava morrendo de preocupação;
Tá ficando famosa e esquecendo das amigas!;
Tô aqui em Gradopolis, depois daquele atentado tá um inferno sair daqui, sabia?;
Eu vi mona, fiquei boladíssima;
Aff, tava louca pra ir no show de estréia de vocês;
Mas vocês vão arrasar, gatas;
Vou ver tudo daqui;
BARRACO?;
Cê sabe que eu não me aguento!;
Barraco com quem, amiga? Conta tudo A-GO-RA!

Allen:

Amy a encarou por alguns segundos ao ouvir o relato, notando as suas mudanças de comportamento. Não foi preciso muito esforço para que ela decidisse que não deveria mais tocar no assunto, dando de ombros e indo fazer alguma outra coisa, pegando o seu technophone antes de sair dançando pelo camarim sem nem mesmo colocar uma música para tocar, sem se importar em parecer uma louca ou qualquer outra coisa do tipo, imersa em sua própria apresentação pessoal.

— Are you fucking with the team? — Deixou a voz escapar em meio a dançaria, cruzando os braços na direção das outras duas como se estivesse em stage, a cara de "bad girl" que fazia explicando tudo.
Não conseguiu evitar de rir em meio ao seu próprio ataque de loucura, indo mexer no cabide de roupas antes de colocar uma música em seu celular. Era uma melodia terráquea antiga, conhecida pelo nome de Your Body, dos Cat Dealers. A garota era uma grande fã deles, e não deixava de apreciar a música sempre que tinha a oportunidade.

Além de estar animada, estava fazendo seu trabalho como líder em tentar aliviar o clima. Não queria que suas garotas ficassem nervosas antes da grande hora, onde várias pessoas estariam olhando cada errinho que elas cometessem, sendo de perto ou de longe, em suas TVs. E, caso falhassem em alguma coisa, seriam conhecidas por toda a galáxia como um grupo falho que sequer treinou o suficiente para ter uma boa estr-
Amy foi interrompida pelo barulho de algo se quebrando, que, por acaso, veio de sua mão. Encarou as outras duas com um sorriso de "Ora, como isso aconteceu?", colocando uma de suas mãos em sua bochecha ao encarar o technophone quebrado em seus dedos, rindo, boba. — Oops...

Não pôde esconder que estava curiosa pelo o que acabara de acontecer entre U-Nee e o tal do homem engasgado com a fumaça, mas era visível o desconforto sobre o assunto na feição de sua amiga, então preferiu ignorar o assunto e voltar à se maquiar, virando-se novamente para o espelho, vez ou outra observava ambas pelo reflexo do espelho.

— Não faço ideia do que causou aquela bagunça toda. Os rebeldes são... assim, né. E aquela oficial que estava desaparecida? Nossa, que fase.

Amarrou o cabelo em um coque alto, enquanto dedilhava a diversidade de pincéis sobre a mesas, mal podia imaginar a verdadeira função de cada um.
Ängie ao fitar a dança esquisita de Amy pelo espelho deixou uma risada boba escapar, balançando a cabeça em negação.
— Ai ai.

Enquanto as garotas conversam entre si e Amy tenta animar a companheira, a porta do camarim se abre para revelar o que parece ser uma montanha de roupas e cabides com pés. Pés esses que saem tropeçando por tudo que vêem - ou não vêem - pela frente, antes de enfim encontrar uma mesa para enfim largar as coisas que carregava, relevando então o rosto de Tanid. A garesiana puxa um pacote de lenços higiênicos para limpar o rosto ligeiramente molhado de suor, descartando-o logo em seguida em um lixo próximo.

— Só consegui recuperar as roupas que a figurinista tinha sumido agora... Ahmaseunãoacreditoaquelainútil! — Dispara, quase sem ar. — Bom, e aí, como foi lá com o Roni? Eu avisei que ele gritava muito! Bom, vamos logo com isso, certo? Vocês tem meia hora para ficarem prontas, mas se formos rápidas dá tempo. Escolham aí suas roupas porque vou ter que encontrar agora a infeliz da maquiadora, ela sumiu de novo! Argh, não aguento mais isso. — Todas as palavras ditas por ela em seu monólogo são ditas tão rápido que ela nem sequer tem tempo para respirar, mas seu rosto revela que ela já está um pouco cansada.

Amy continuou encarando o technophone em suas mãos, alheia a qualquer coisa até que Tanid irrompeu no camarim, assustando a garota morena. A fúria para com a garesiana era visível somente ao bater um olhar no rosto de Amy, que a encarava como se fosse atrair cinco mil estrelas somente para destruir a mulher; mas, é claro que ela disfarçou o fato com tanta rapidez quanto demonstrou, um sorriso suave em seu rosto. — Tanid! O motorista que você enviou, dá o mínimo de estrelas nele. É um grosso, chato que não sabe como tratar pessoas. — Disparou assim que ela entrou e começou a andar pelo camarim, tentando desviar sua atenção de Tanid antes que começasse a esganá-la ali mesmo.

Desistiu depois de mexer nos itens de sua penteadeira, jogando-se na cadeira giratória e se virando para as mulheres, encarando uma por uma enquanto prestava atenção na conversa da figurinista, dando atenção especial a Uriel e seu comportamento... exótico.
— Você consegue descobrir onde a maquiadora foi rápido, Tanid? Sou péssima em fazer maquiagem — Reclamou, pegando uma fita roxa que estava no bolso de sua calça de couro para prender o seu cabelo em um rabo de cavalo.

Enquanto seu olhar confuso fitava cada um dos objetos para maquiagem, fora surpreendida por Uriel que fizera uma bolinha no centro do seu nariz, fazendo com que parecesse algum tipo de animalzinho fofo, e gargalhou consigo mesma ao notar seu reflexo.
Pegou um dos pincéis e o deslizou continuadamente pelas bochechas da mesma, piscando um dos olhos como se estivesse criando uma verdadeira obra de arte.
— Que bochechinhas macias e fofinhas, Uri!
Novamente fora surpreendida, mas dessa vez por pés agitados por trás de cabides e que imediatamente revelou o seu rosto inconfundível, Tanid, metralhando mil palavras por segundo.
— Roubaram a nossa figurinista? Ah, poxa. Eu sorte que sou muito boa em escolher minhas roupas, vamos ser rápidas.

Ergueu-se da cadeira, rodopiando e dirigindo-se até as roupas emolduradas, dedilhando os tecidos cuidadosamente.

A garesiana continua um pouco sem ar, mas rapidamente vasculha seus bolsos à procura de seu technophone. A procura demora um pouco, mas antes que ela se assuste, ela o encontra e digita palavras com uma rapidez jamais vista por aqueles que não a conhecem. Ela faz um sinal com os dedos ao ouvir a reclamação de Amy, como quem diz "é pra já". Alguns segundos depois ela volta sua atenção às garotas novamente, já pensando no que em diria e em tudo que faria em seguida ao mesmo tempo.

— É claro que dei 1 estrela pro Roni, que cara insuportável, fala demais! Como dizia minha tatatatatatatatataravó, não se fazem mais Ubers como antigamente. Onde já se viu? FALANDO NISSO, vocês trouxeram minhas roupas? Espero que não tenham esquecido, também mereço ficar linda depois desse inferno! Vai ser o melhor agradecimento possível. — Ela reclama, disparando as palavras como já é usual. — Odeio esses shows planejados de última hora, todo mundo sabe que não funciona bem assim, é demorado pra organizar tudo, e argh! Estão me mandando uma mensagem aqui, acho que talvez eu consiga encontrar a maquiadora logo, Amy. Aquela vaca vai se ver comigo se furar dessa vez de novo, vai sim! Eu já volto garotas, se arrumem logo. — Ela balança a mão direita para apressá-las, já se dirigindo à porta novamente.

Ela sai tão rápido quanto fala, e as garotas são deixadas sozinhas novamente. É claro, desta vez as roupas estão ali, mas o tempo continua correndo. Nos cabides deixados por Tanid, estão as mais variadas roupas dos mais diversos estilos e materiais, grande parte delas podendo ser combinadas entre si para complementarem o visual uma das outras.

Uma música, junto com milhares de vibrações seguidas, vem do technophone de Uriel, anunciando que novas mensagens foram respondidas. Como é esperado, são as respostas de seu amigo Allen finalmente chegando.

All escreveu:

Não acredito!;
Faz tanto tempo que não vemos;
Você não se machucou, né?;
Por pouco eu não estava lá no momento do ataque, acredita?;
Tive que sair mais cedo;
No dia fiquei putíssima, mas ainda bem que fui embora enquanto tive tempo;
A-DO-RO lembrancinhas;
Me fala que é aquele perfume que eu tava querendo;
Ih, foi com a Chloe D que brigou é?;
Claro que não mulher;
Ela é toda filhinha de papai, nunca precisou dessas coisas;
Não se engana não, é só pose isso aí;
Mas não fala que eu te contei!;
Ai miga, ADOREI;
O que pretende mandar pra ela?;
Só cuidado com os fãs malucos, não duvido de mais nada vindo deles.

Uriel riu e encheu as bochechas de ar após os desenhos serem concluídos, fazendo algumas caretas embora nem soubesse como tinha ficado o tal desenho de Ängie.

Uma vez que Tanid estava longe, jogou as roupas que segurava anteriormente de volta nos lugares, visto que as que foram trazidas por Tanid eram inquestionavelmente mais apropriadas. Passou a escolher combinando entre elas rapidamente e logo trocava-as atrás de um vestiário qualquer.

Já saia de lá com a escova em mãos e dando uns retoques no próprio cabelo. O rosto, é claro, ainda estava pintado e a mensagem prontamente respondida.

Código:

Tá tudo bem!;
Eu só perdi um sapato, po;

"Perdeu" quando jogou ele por aí.

Código:

QUE SEM GRAÇA;
ADIVINHOU DE PRIMEIRA;
Mas você terá que busca-lo;
Eu não ia deixar nada maldoso lá não;
Ao menos nenhum deles podem provar nada contra minhas intenções puras.......;
Mas vou deixar pra lá por hora;
Até mais Ally! E boa estadia!;

Ängie parecia se perder dentro daquelas roupas tão diversificadas e com tantas possibilidades de combinação, parecia um paraíso apesar de sentir falta de uma figurinista no momento, ela sim seria mais rápida.
— Ok, ok. Vamos ver o que temos aqui... Nossa! — Poderia jurar que seus olhos castanhos brilharam quando passaram por uma blusa azul clara que havia no amontoado com detalhes em brilhante, que certamente combinaria com a calça preta que tinha algumas listras em transparente nas laterais, não demorou para que se enfiasse atrás dos cabides e os vestisse, tropeçando — nervosamente, com o tempo restante que tinha até o início do show — nas botas em que calçava até se acomodar na penteadeira e soltar seu cabelo, retocando-o apressadamente.
— Se depois de tudo que aconteceu hoje a gente não fazer uma abertura melhor que o show da Chloe, eu vou ficar muito chateada.

As mensagens de Uriel são respondidas quase de imediato, fazendo a mesma música que anuncia o recebimento das mensagens tocar mais algumas vezes. Provavelmente Allen não está fazendo nada demais já que está preso em Gradopolis, e conhecendo-o, ela pode imaginar que ele está ansioso em um quarto de hotel mais caro do que deveria, aguardando o início do show do Queendom.

Allen escreveu:

Eba! Eu sabia;
Pode deixar, amore;
Assim que conseguir sair desse planeta marcamos um encontro;
A-DO-RO;
Arrasa, viada;
Vou estar assistindo seu show daqui;
Valeu, Uri! Beijinhos;
Ah, quebre as pernas!

O tempo parece estar passando particularmente mais rápido dentro do camarim, principalmente enquanto Tanid não retorna com a maquiadora desaparecida. Faltando quinze minutos apenas para o início do show, quando o trio já está todo vestido e quase preparado para subir no palco, a porta é aberta sem aviso prévio.

A primeira imagem que as garotas vêem é a de uma humana morena e com a expressão assustada, enquanto é praticamente empurrada por Tanid, que segue atrás dela a pressionando para ir logo. A garota parece jovem, e seu rosto de pele clara está mais vermelho do que nunca, provavelmente de constrangimento. Ela carrega uma maleta grande de maquiagem em suas mãos. Tanid finalmente a solta quando adentram a sala e fecha a porta em seguida.

— Encontrei a menina, me disseram que ela estava lá fora trocando saliva com um dos técnicos de som... Acreditam? — Ela diz, fazendo uma cara de nojo e puxando um pequeno pote de álcool em gel da bolsa para limpar as mãos com o mesmo em seguida. — O pior é que além de estar atrasando o show de vocês, foi pra fazer algo tão nojento. E, eca, gotículas de exsudação humana! Querem também? — Reclama, enquanto oferece a embalagem para as meninas. — O que está esperando, Caitlin? Comece logo! O show começa em 15 minutos! Meninas, cadê minhas roupas?

A maquiadora cujo rosto não parecia poder ficar ainda mais vermelho, já parecia a ponto de explodir de vergonha. Ela permanece calada por alguns minutos, encolhida, e tampa seu rosto por um tempo para evitar ser encarada pelas cantoras com olhares julgadores. Quando decide tentar dizer algo para se explicar, a voz sai rouca e falha de sua garganta.

— Eu... Desculpe, eu recebi uma mensagem anônima dizendo que ele queria encontrar comigo e... Acho que perdi a noção do tempo, me desculpem. Por favor, eu preciso desse emprego... Prometo que vou tentar acabar logo.

Caitlin se desculpa, abaixando a cabeça e se dirigindo na direção das garotas. Ela deixa a maleta em cima da penteadeira e a abre, mantendo seus olhos presos na mesma. No momento, ela não parece ter coragem alguma de olhar diretamente para qualquer pessoa na sala.

— Quem prefere ir primeiro? — Pergunta, ainda evitando o contato visual.

Caitlin:

Ao ouvir o abrir da porta, imediatamente virou-se em direção da mesma, fitando a figura de rosto enrubescido que nem sequer conseguira olhar em seus olhos, Tanid estava a envergonhando demais, apesar de ter sido uma falta de responsabilidade, mas nenhuma das garotas poderiam dar espaço pra reclamações agora, pelo resto de tempo que ainda lhe sobravam.
Ergueu as mãos de maneira animada, para quebrar o clima.
— Eu, eu!

Amy somente riu ao ver a maquiadora entrar no lugar daquele jeito, provavelmente a primeira vez naquele dia. Já estava praticamente pronta, a calça de couro de sempre parecendo tão justa quanto todos se lembravam, um cropped roxo, preto e dourado complementando o visual. Não era muito espalhafatoso, mas o seu rosto já era extravagante o suficiente para que as suas roupas fossem também, ou ao menos isso era o que haviam lhe dito.
— Não envergonha a moça, Tanid — Ela disse, um certo deboche podendo ser notado lá no fundo da sua voz, embora muito bem maquiado. Kate caminhou na direção da moça, pousando uma das mãos em seu braço. — Pessoas tem necessidades, eu entendo. Agora vamos logo com isso!

Três dias se passaram após o show beneficente e, é claro, a estreia das Queendom. Apesar de todos os problemas, felizmente acabou dando certo. Mais do que certo, já que o público realmente adorou tanto as garotas, como a música e a audiência bateu recorde já na abertura do primeiro show. Acumulou-se, portanto, um bom dinheiro para a reconstrução do centro de Gradopolis, profundamente afetado pelo ataque da Datsu.

Como prometido por Tanid, abrir o show de Chloe D em um evento tão relevante realmente fez com que suas carreiras melhorassem muito. A quantidade de fãs e seguidores das garotas aumentou também, fazendo com que as redes sociais de cada uma delas se agitassem novamente. Ainda assim, tiveram um tempo para descansar e retornar aos seus lares com tranquilidade, dentro do possível, é claro.

Um suspiro saiu dos lábios da garota — agora novamente morena — que batucava na madeira da mesa em que seu corpo estava praticamente jogado, no ritmo de alguma música cujo não havia um alguém por ali que lhe perguntasse qual era, embora esse fosse o seu único desejo naquele momento. Voltar pra casa depois de tudo aquilo era tanto uma bênção quanto uma maldição, uma vez que Amy morava numa casa que parecia ser grande demais para uma só pessoa e tudo naquele lugar sempre parecia ser mais monótono e triste do que parecia. Seus olhos encaravam o technophone desligado em cima da mesa, mais longe de si do que deveria. Havia passado os últimos tempos mexendo nele e aquilo não lhe parecia nada certo ver tantas pessoas lhe dando apoio e querendo estar perto de si mas, ainda assim, se sentir terrivelmente sozinha; talvez fossem as paredes negras do apartamento, o silêncio insuportável ou a decoração exageradamente branca, mas havia algo naquele lugar que a fazia se sentir... sufocada.

— Já chega! — Ela gritou consigo mesma, levantando-se em um salto. Sentia que não podia viver daquele jeito e que deveria sair para algum lugar logo ou acabaria morrendo de tanto tédio, então se apoiou na mesa de madeira e começou a pensar: O que será que uma estrela famosa e ainda não rica podia fazer que a deixaria instantaneamente feliz? Começou a andar de um lado para o outro no que eu esqueci de mencionar que era uma espécie de escritório, com as mãos na cintura.

Depois de algum tempo repetindo a mesma coisa, um sorriso quase macabro cresceu no rosto de Amy. Faria compras!  Mas, antes de fazer compras, precisava de dinheiro, então... encontraria o seu dinheiro, nem que precisasse quebrar a cara de algumas pessoas para isso. Pegou o technophone em cima da mesa e apertou na tela algumas vezes aqui e ali, digitando uma mensagem para o seu querido chefe e pedindo um uber antes de sair saltitando na direção do banheiro para se arrumar para mais um dia que ela tentaria parar de não fazer nada.

Amy escreveu:

As mensagens de fãs que a mencionam no twitter simplesmente não deixam seu technophone ficar quieto por um segundo sequer, emitindo sons que anunciam a chegada das notificações a todo o tempo. O aplicativo que ela utiliza para chamar motoristas logo encontra uma nave, e de acordo com o mapa 3D de Kasna exibido na tela, ela logo chegaria em sua casa. Pouco tempo depois a resposta de sua mensagem é recebida, como ela já poderia esperar.

Owl escreveu:

Bom dia Kate, conseguiu arrumar uma brecha na vida agitada de estrela do pop? Haha. Bom trabalho no show, ouvi dizer que o centro de Gradopolis logo estará perfeito mais uma vez. Bom... Tenho alguns trabalhos pra você, como sempre. Prefere algo mais rápido e simples ou mais longo e recompensador?

Owl é um homem humano, de idade próxima a do pai de Amy. Ele serviu como militar por muitos anos, e foi por lá que recebeu o apelido. Desde o começo da carreira de Kate dentro da Aliança, aquela fora dos palcos, foi ele quem lhe acompanhou e lhe deu a maior parte das missões.

Ele se afastou das obrigações militares há muito tempo, justamente por conta de suas habilidades como observador e sua inteligência muito elevada. Quando desconfia de algo suspeito, costuma contatar Kate ele mesmo. Mas quando ela deseja alguma missão qualquer, ele também sempre tem alguma tarefa para a garota. Apesar de parecer um pouco assustador para as pessoas de fora, trata a garota como sua própria sobrinha.

Owl:

Amy escreveu:

Kate segurava o technophone enquanto penteava o seu cabelo com uma escova cujo um tipo de vapor quente — e perturbadoramente visível — saia e grudava em seu cabelo, deixando-o com um tom brilhante e vívido. Não demorou que ela já estivesse vestida com a roupa mais simples que havia encontrado, suas bugigangas escondidas em cantos estratégicos dela.

— Vamos lá... — Ela disse, checando a proximidade da nave uma última vez antes de colocar os óculos de sol, apanhar a sua bolsa e apagar as luzes do apartamento, o trancando antes de sair. O condomínio estava quase vazio, o que fazia com que o barulho das botas de salto no chão se propagassem por todo o corredor enquanto a super-estrela rumava na direção das escadas, os dedos deslizando com rapidez pelo technophone enquanto silenciava os seus aplicativos de mensagens.

Owl escreveu:

Ok, ok! Desculpa, haha.
Se vai ser curta ou não você é quem vai definir, minha querida. E isso você consegue fácil com suas habilidades. Mas garanto que será recompensadora, viu?
Sabe, ainda não saíram notícias sobre isso porque a família da menina impediu que a imprensa divulgasse de algum jeitinho, então você vai ficar sabendo de primeira mão.
Ela é uma estrela igual você, é cantora, esqueci o nome dela agora... Acho que tô ficando velho mesmo hein. Haha
Bom, a questão é que a pirralha tá sumida faz uns dias e os pais disseram que ela nunca fez isso antes. Ficaram desesperados, principalmente porque agora a pouco receberam uma mensagem pedindo uma grana absurda deles em troca da filhinha sair viva... e talvez inteira.
Aí me ligaram e pediram pra mandar alguém bom e experiente pra salvar a menininha deles sem que ela corra riscos e blá, blá, blá. Enfim, minha equipe tá rastreando o tal número pra ver se a gente consegue uma localização pra você. E aí, aceita a missão né?

Um bipe é emitido pelo technophone de Amy assim que a nave chega na frente de sua casa, como também é mostrado pelo mapa em 3D que a garota pode visualizar através do aplicativo. Uma nave média, de modelo bem atual e coloração escura e brilhante está estacionada na frente de seu prédio, aguardando a chegada da jovem.

O cansaço lhe tomou nos últimos dias, já que as informações vinham fuzilando em sua cabeça e o seu desejo não era outro a não ser: ficar deitada na sua única e confortável cama comendo até não poder mais.
Mas claro, como uma artista, tinha suas obrigações como cuidar de sua agenda e trabalhar para conseguir se manter ali.
No momento, se encontrava deitada sobre seus lençóis de tom diferentes do rosa, com um amontoado de comida sobre a estante ao lado, apenas a luz nos mesmos tons do abaju iluminava o quarto.
— Acho que cansei de ficar deitada sozinha nessa cama... Digo, tenho que fazer algo.
Levantou subitamente da cama, pegando seu Ä-phone e checando o email lotado de coisas inúteis, as lindas mensagens dos fãs ou coisas de compra. Desejava achar pelo menos um passatempo, algum pedido de ajuda com conserto de dispositivos, ou um show particular, qualquer coisa que lhe tirasse dali.

As redes sociais de Ängie estão lotadas de menções e mensagens amorosas, além de seu show recente de estreia ter sido um sucesso e todos estarem falando disso agora. Na verdade, todos estavam falando disso nos últimos dias. Algumas pessoas permanecem falando desse assunto, mas grande parte comenta sobre o mais recente atentado ocorrido em Gradopolis.

Desde que aconteceu, todos os sites só falam disso, assim como os noticiários da televisão. Uma bomba atingiu um shopping em pleno final de semana, com várias famílias tranquilas aproveitando o dia. Felizmente, um soldado estava por lá e conseguiu evacuar a todos do local antes que houvessem baixas ou feridos. Muito se discute sobre isso, desde a segurança na sede da Aliança que precisa urgentemente de reforços, a covardia da Reconquista e, é claro, toda a coragem e determinação do novo herói.

Alguns fãs da garota pedem constantemente para que ela comente algo sobre o novo ataque, já que até então ela não se pronunciou. Dentre milhares de e-mails recentes e fúteis, um em especial pode parecer relevante para Ängie. O remetente é algum funcionário do departamento de segurança da Aliança, de acordo com o endereço de e-mail.

Zohai escreveu:

Boa tarde, Ängie! Espero que esteja bem.
Primeiramente, gostaria de agradecer agradecemos imensamente pela grande arrecadação de fundos através do show. Sem sua contribuição não estaríamos conseguindo reconstruir o centro de nossa cidade!
O principal assunto que devo tratar, entretanto, é também de crucial importância. Acredito que tenha ouvido sobre o último ataque a Gradopolis, em um de nossos shoppings. Sabemos que a senhorita deve ser muito ocupada e deve ter suas obrigações, mas sabendo de suas habilidades pensamos que chamá-la pode ser sem dúvidas nossa melhor opção!

Acontece que estamos precisando muito de ajuda com tanto com nossa segurança, quanto para encontrar brechas nela e a repararmos devidamente. Além disso, muitos de nossos robôs seguranças foram completamente destruídos, assim como a base operacional dos mesmos, no ataque ao shopping. Eles são de extrema importância para a proteção de áreas comuns e das pessoas, e já que não os temos mais, precisamos aperfeiçoá-los!
Muito obrigado pela atenção e espero que possa vir a nosso encontro para negociarmos em breve!

Arqueou as sobrancelhas conforme lia a mensagem enviada pelo seu chefe. Aquilo era certamente estranho, mas infelizmente precisava de dinheiro — e de ocupar o seu tempo.

Amy escreveu:

Claro!
Tô chegando logo logo, envia a localização.
Beijos.

Finalmente fora do prédio, Amy sentiu o sol forte bater em seu rosto, respirando fundo antes de prosseguir.
Estando meio pensativa com o que estava acontecendo e com quem será que poderia ser a tal cantora, Amy prosseguiu totalmente aérea na direção da nave estacionada na frente do prédio, acenando para o porteiro que lhe olhava de longe desconfiado. Sequer deu atenção ao modelo da nave — que com certeza a faria morrer se visse — antes de se jogar para dentro, dando uma breve olhada ao motorista.

— Bom dia — Ela disse, retirando os óculos de sol e o guardando em sua bolsa mais uma vez.

Owl escreveu:

Opa, valeu querida! Sabia que poderia contar com você.
Já tô te enviando a localização, meus garotos aqui são muito bons!
Boa sorte, se precisar de alguma coisa avisa!

Após alguns minutos, o technophone de Amy emite uma música que anuncia a chegada da mensagem. Pouco tempo depois, o mesmo barulho retorna, dessa vez para anunciar que as coordenadas que Owl lhe prometeu foram recebidas. Ela facilmente pode mover a mensagem para o aplicativo recentemente usado para procurar uma nave, definindo assim o destino.

O interior da nave é espaçoso, com bancos de couro confortáveis e um agradável perfume no ar. Assim que adentra o veículo, o piloto volta-se para a jovem com um sorriso caloroso. Ele é um homem de vinte e poucos anos, aparentemente kroyvisiano, assim como ela. De acordo com o aplicativo, seu nome é Khael.

— Boa tarde, senhorita. Por favor, fique a vontade, viu? — Ele dá uma piscadela para a garota. — Tem água e balinhas ali, se quiser. — E aponta para uma pequena mesa ao lado do banco traseiro.

Khael:

— Ah... obrigada — Murmurrou, claramente desconcertada pela gentileza do rapaz. Depois da última nave que havia pegado, tinha entrado no veículo preparada para ignorar qualquer cara histérico que gostasse de gritar, mas aparentemente não iria precisar. — Espero que tenha recebido a localização.

Deu uma última olhada no technophone antes de guardá-lo em sua bolsa, encarando o homem ao seu lado pelo canto do olho, o analisando. Não parecia ser má pessoa... na verdade, era até gentil demais.
No entanto, sabia que no momento não deveria se distrair com tais coisas, então acabou voltando a divagar sobre a sua missão, completamente silenciosa mais uma vez. Era estranho que uma pessoa famosa sumisse do nada e não houvesse nenhuma intimação ou burburinho nas redes sociais, como sempre acontecia. Mas, o que quer que fosse, precisava chegar logo ou algo de muito ruim aconteceria.

— Vou verificar, perai. — O homem pega seu technophone no bolso traseiro de sua calça jeans e dá alguns cliques na tela do mesmo. — Hum... Chegou, sim.

Khael então passa as coordenadas recebidas no aparelho para o painel da nave, que logo projeta uma enorme planta da cidade em 3D, onde o destino está indicado em vermelho. Amy pode notar que ele não a olha como as outras pessoas comuns que ela conhece e a tratam como se fosse de outro mundo, e também não a despreza. É como se a fama da garota não fosse realmente relevante, mas não de um jeito ruim.

— É meio longe, pode demorar um pouquinho. Tenta não me xingar, moça bonita. — Brinca, sorrindo de canto para Amy. — Em troca, vou tentar evitar que seus fãs quebrem a nave caso saiam correndo atrás de nós, se eles forem desse tipo. Está indo trabalhar? — Ele ri suavemente, tentando aliviar a tensão da garota. Em seguida, dá partida na nave, estando tudo preparado.

Sua atenção se voltou ao motorista mais uma vez, retirando-a de seus delírios. Não conseguia deixar de achar estranho o jeito com que ele a tratava, mas havia algo em seu comportamento e tom de voz que lhe passava uma sensação de tranquilidade que Amy sequer conseguia descrever.

Sequer percebeu que estava batucando com os dedos em sua bolsa, algo que fazia sempre que estava nervosa. E quando notava, geralmente parava abruptamente e deixava as pessoas ao seu redor confusas, ou ao menos as que não entendiam o porque; no geral, Amy era uma pessoa que ficava nervosa com muita frequência, mas odiava aquele sentimento. Talvez fosse somente a ansiedade da missão, mas lentamente começou a compreender que caso cometesse um errinho sequer, acabaria pondo em risco a vida de alguém.

— Algo assim — Deu de ombros. Bom, tecnicamente, estava sim indo para o seu trabalho, mas não o que ele imaginava que fosse. Por alguns segundos, seus devaneios se direcionaram para o que aconteceria caso descobrissem que a idol favorita deles era na verdade uma espiã que trabalha para a Aliança. Será que existia mulher tão perfeita quanto ela? — Meus fãs geralmente não sabem dos meus horários, eu acho. Não sou tão famosa assim — E sorriu sutilmente ao terminar a frase.

Era quase sem querer, mas estava agindo como se estivesse falando com um fã. Se controlando. Mesmo que ele lhe passasse aquela coisa estranha que a fazia se sentir segura, não havia motivo nenhum para que qualquer coisa de errado que falasse não fosse transmitida em todos os auto-falantes do planeta.