Facula - Recrutamento.

No subterrâneo de Nazod, em meio ao labirinto que forma a vasta rede de elevadores da sede da Aliança, se encontra um andar misterioso. Ele não serve como residência para nenhum embaixador, comerciante de peso e tampouco um soldado prestigiado. Na verdade, poucos sabem de sua existência, e a Aliança prefere que se mantenha assim.

Os elevadores que transportam as pessoas em meio àquela sede nada mais são do que plataformas que reagem com comandos em uma tela azulada que se estende em um HUD para fora de seu painel. O passageiro então digita o andar de seu destino e, dependendo do caso, uma senha. Aquele andar em específico não possui um número muito extenso em comparação com os diversos lotes habitáveis daquela rede de condomínios, tampouco exige uma senha específica para ser acessado. Ele na verdade precisa de um número exato de quarenta e duas combinações.

Tanta segurança não é sem motivo. Aquele local em específico guarda um segredo de importância inestimável para Krosrius, líder atual dos Garesianos e representante da raça mais influente do Conselho. Um segredo maior do que qualquer prisão, mapa ou plano de sua raça: um aliado.

A gigantesca câmara ocupa um espaço equivalente a dois condomínios da sede e se estende em paredes modernas bem ventiladas, mas ainda impenetráveis. Fios emaranhados, coisa rara com a tecnologia atual, podem ser vistos juntos ao suporte gigantesco que está acima de um dos geradores mais potentes disponíveis. Gerador esse que serve como fonte de alimentação para um projeto ambicioso e arriscado de alguém que entregou tudo pela ciência. Embora contrariado, sua sabedoria sempre seria mais útil a favor da Aliança do que contra ela, e ele podia continuar suas ideias insanas no subsolo da maior metrópole de todo o universo sem que ninguém sequer desconfie.

Dentro desse lugar impenetrável, uma mensagem chega da única maneira possível: através de um e-mail. Neste, detalhes sórdidos sobre uma missão são exibidos no painel semi-transparente que se ergue como um holograma. Essa era a primeira convocação para uma missão em seis anos, que pareciam sessenta quando se vive escondido.

Krosrius escreveu:

• Transferi para sua database uma lista de nomes, use-a;
  
  
• Eu sei que faz tempo desde que lhe chamei, mas a última vez causou um certo alarde e eu precisei fingir que você não existe. Antenas isso;
  
  
• Apenas*. Perdão, corretor automático;
  
  
• O planeta Hashir está nos trazendo problemas. Ele parece ter um alto potencial de colonização, mas nesse mês nós perdemos nosso terceiro satélite lançado para monitorá-lo;
  
  
• Fizemos testes, mas não podemos ter uma informação sólida do campo magnético do planeta até termos um agente de campo por lá;
  
  
• Preciso de você porquê a nave pode ter problemas na atmosfera de Hashir, assim como os satélites. Você não morreria nem se quisesse.
  
  
• Os nomes enviados ao seu e-mail são de mercenários monitorados. Se eles morrerem, apenas estatística;
  
  
• Uma pesquisadora recém-introduzida têm potencial na Aliança e também está dentre os nomes. Quero que ela adquira experiência, e ela pode fugir da nave caso algum problema aconteça. Foi treinada em pilotagem e vêm de uma família relevante;
  
  
• Vai precisar de ajuda: sei que existe fauna e que pode ser agressiva por lá. Leve uma arma e coragem, se é que ainda existe isso no seu corpo enlatado;
  
  
• Se interagir com alguém, diga que é um robô. Qual a diferença afinal?;
  

— ENLATADO É TU, Ô ESPANTALHO DE URUBU! — gritou ele logo que a mensagem entrava em seu campo cerebral através de seus circuitos robóticos. A mensagem era ditada na sua mente como se fosse um áudio do antigo e já extinto WhatsApp.

— Os cara são complicado — começava ele a falar sozinho, enquanto vestia a sua armadura pesada para começar a sua aventura. Em volta da sua armadura há alguns itens que ele achava interessante colecionar e sempre levava algum desses depois de ser "liberado" novamente.
Sendo assim, desta vez ele decidiu escolher dois itens: um perfumador, do tipo que não o prejudicava, do planeta dos Gray e um dente de Haytok amarrado em um fio dental vermelho de uma raça não muito conhecida, mas que era uma mistura dos insectóides e anfíbios inteligentes – ao menos era isso que estava registrado em sua memória.

E foi assim que passou pela porta e digitou o comando com certa dificuldade pelos seus enormes e moles dedos da armadura. Quando tudo pareceu pronto ele deu um "hã" automático de susto. O elevador sempre o assustava pois mantinha-se ligado para conserva de energia, desta forma, quando utilizado, ligava-se automaticamente num impulso eletrônico.

— Lá vamos nós conhecer mais esquisitões que vão acabar morrendo comigo — dizia ele para suas duas outras cabeças que estavam apagadas para não deixar o cérebro humano de Ghavet confuso — Espero que tenha o magricelinho, pra eu zua; o gordin pra eu não em sentir sozinho; a gostosa pra eu dar umas apalpada "sem querer", haha; e algum estressadinho pra dar uma intriga interessante de vez em quando — continuava ele a comentar, girando o seu capacete como se estivesse à procura de suas cabeças.

Depois disso apenas ficou em silêncio e assim chegou lá fora.

— Ah, é, eu desligo as cabeças... — comentou ele, como conclusão da falta delas. E, como havia se focado nessa conclusão, esqueceu de ir buscar sua companheira da Aliança. Por isto, apenas voltou e digitou o número e senha que havia recebido.

— Espero que tenha uma espécie diferente também — continuava a comentar sozinho, aparecendo em seguida na frente do portão que mais lembrava os cofres de bancos antigos do planeta Terra.

— Ô, de casa! — gritou enquanto batia com sua mão robótica, pesada e resistente na parede.
Se, pelo barulho, Ghavet notasse que o aço era anti-som, iria apenas digitar a senha e gritar novamente:

— Ô, de casa!

— Não. Não, não, não — a garota de cabelos prateados andava de um lado para o outro no cômodo, claramente preocupada com alguma coisa. O lugar era simples, mas ainda assim conseguia estar todo bagunçado, ainda que as luzes apagadas fizessem com que uma pessoa normal somente visse a luz de um computador. Não que fizesse diferença pra ela, ela via tudo de todo jeito.

Na verdade, o que havia acontecido era que ela havia fracassado. Mais uma vez. E dessa vez sequer era sua culpa, como pode? O material que ela queria e precisava não viria, somente pelo fato de que já havia feito várias solicitações durante a semana e o responsável por havia ficado irritado consigo, então ela não tinha o que fazer. O desfecho de tudo aquilo era seu alojamento completamente bagunçado, uma Rhys emburrada e decepcionada e um computador ligado para sempre, com ninguém mexendo nele.

Quando ela finalmente se sentou na cadeira, com o intuito de fazer algo novo, ouviu alguém chamando-a do lado de fora. Respirou fundo e foi na direção da porta, com a mesma animação de Jesus quando carregava aquela coisa de madeira gigante que o nome nos foge. No entanto, Rhys, que estava prestes a abrir para um estranho, sequer estava vestida adequadamente, notando isso com a mão no que chamavam de maçaneta, mas era um controle estranho que fazia a porta deslizar. Saiu correndo em busca de suas roupas, colocando a primeira coisa que viu e algo para tampar seu rosto, uma vez que não sabia quem era.

Dessa vez, foi cautelosamente na direção da porta. E se fosse bombardeada? E se alguém quisesse roubá-la? E se, na verdade, do lado de fora houvesse um exército de pessoas querendo assassiná-la? Com alguns toques receosos no painel a porta abriu, revelando aquela... criatura.
— Eh... — ela murmurrou de forma abafada pela máscara, colocando uma de suas mãos na cintura e tombando o corpo pro lado sem sequer esconder a satisfação que tinha por não ser nada demais. — Eu te conheço?

— Sou teu chefe-robô pra uma missão robótica com várias pessoas roboticamente chatas. Pega tua mala-robô e vamos pra essa aventura-robô — falava ele, imitando um robô de baixa tecnologia apenas para brincar e seguir a regra imposta de parecer um robô.

— Ficarei-robô aqui fora; robô — continuou ele — Quando terminar-robô, venha aqui pra fora-robô — e assim se virou, fechando o portão de aço, mesmo que ela não quisesse, na cara dela.

Em seguida, ficou assoviando uma música do Michael Jackson – alien que ficou conhecido na Terra, mas acabou enjoando dela.

Atrás de si, Rhys Larren poderia ouvir o barulho do cooler de um grande computador que trabalhava ao máximo vapor, digno de uma expert em tecnologia. Desde que entrara para a Aliança, a garota fora muito bajulada pelos superiores que se impressionavam com o trabalho da família da qual ela vinha, e aquele supercomputador havia sido apenas um dos presentes que ela havia recebido.

O outro seria uma missão, já prometida há mais de uma semana. Ela sabia poucos detalhes dessa, mas sabia que ela vinha de cima e que era extremamente importante. Apenas horas mais cedo ela havia sido notificada de que teria a companhia de um curioso aliado, que por sua vez era muito robô.

— Que — foi só o que ela disse, sentindo a porta ser fechada em sua cara logo depois. Sabia do que se tratava a missão e não fazia questão, mas não sabia que seria com aquela... coisa. Não que tivesse algum problema com aquilo, mas... Respirou fundo e se virou para começar a organizar as suas coisas, pegando uma mala cinza claro que estava abaixo de sua cama e começando a colocar algumas coisas que haviam acima de sua cama dentro, o que consistia em uma cópia da mesma roupa que ela estava usando agora — duas delas, pra ser exata —, alguns pedaços de sucata e, por fim, o seu computador.

Abriu a porta de ferro e saiu com a mala, desviando do ser que estava plantado em sua porta e fechando-a logo em seguida, com o seu próprio password — que fez questão de não deixar o outro ver. Virou-se para ele, esperando.
— Vamos? — perguntou, encarando-o de cima a baixo. — Inclusive, você tem um nome?

Em frente ao elevador, ambos podiam ver o intenso fluxo de pessoas que iam e vinham dos andares e condomínios. A maior parte delas eram pessoas importantes ou midiáticas, uma vez que eles estavam bem no antro da maior civilização conhecida. Ao contrário de grande parte dos moradores daquela região, os dois eram apenas engrenagens que faziam a grande máquina funcionar. Muitos deles, porém, ganharam seus lugares ou fama realizando o mesmo tipo de missão.

A aliança vinha passando pelo início de uma silenciosa crise. Os maiores produtores de recursos - Marte e Marmihn - estavam começando a dar indícios de que não dariam conta da crescente necessidade resultada da descoberta de duas novas espécies introduzidas na Aliança recentemente. Nesse contexto, a colonização de novos planetas passou a ser essencial, e agentes de campo começaram a ser cada vez mais importantes, chegando ao ponto de que uma tecnóloga e um "robô" precisariam ser requisitados para tal tarefa.

— Nossa, você veio realmente com uma mala! — exclamou ele ao que ela passava — Que fofa.
Achou ainda mais engraçado ela tentar esconder um password que possivelmente ele desenvolveu há tempos atrás. Teria rido se ainda fosse humano como antes, mas como era quase um robô, funções como risada eram manuais e não automáticas – a não ser que ele programasse para ser, como um dia já foi.

— Pode me chamar de Ghavet — dizia enquanto entrava no elevador e já preparava a senha, apenas esperando ela entrar para dar enter.

Assim que ela entrou, deixou claro o procedimento da missão:
— Nós vamos procurar uma nave bem daorinha, já que Jared liberou o tutu. Não sou bobo de não aproveitar — e passou um tempo em silêncio como se ele esperasse algo acontecer. Por fim lembrou que tinha mais esforço manual na tarefa que queria.
Segundos depois ele riu e, com a realização, se sentiu animado.

— Depois disso, vamos ver se pechinchamos uma nave de dois lugares. Assim tu usa ela para ir à uma coordenada que irei entregar e tu faz o recrutamento de um dos futuros membros da equipe, enquanto eu arrumo o resto. Se dermos sorte conseguimos um comunicador interestelar e tudo ficará mais fácil. Entendido?! — Terminava ele como um militar, apenas por brincadeira e para sentir a nostalgia fluir pelos seus circuitos eletrônicos – função que havia deixado automático pois se sentia realizado ao sentir a reprodução da sensação. Isto lhe lembrava o porque que se mantinha imortal.

Por fim, clicou enter.

Ignorou o comentário feito sobre sua mala, somente acompanhando-o na direção do elevador.
— Certo, Ghavet. Tenho quase certeza de que você já sabe, mas eu sou a Rhys — entrou com ele, lambendo os lábios e colocando uma mecha de seu cabelo para trás. Escutou o que ele dizia com concentração, acenando positivamente com a cabeça.

— Tenho uma objeção. Deixe que eu converso com quem quer que nós vamos conversar, tenho quase certeza de que vai ser muito melhor — Rhys não falava aquilo por mal, mas as pessoas não receberiam muito bem um pedido feito por uma coisa gigante daquelas. Além do mais, tinha experiência com negociações e tinha boa fama entre a maioria das pessoas, principalmente pela qualidade de seus serviços. Observou a forma que ele ria algum tempo depois de sua sentença, dando de ombros.

Aproveitou a oportunidade para trocar a mala de lado, estendendo a alça que permitia que ela a carregasse com mais facilidade, observando as paredes do elevador.

— Entendido, mas tem alguma informação a mais sobre nossos... companheiros? Uma lista de nome, fotos, qualquer coisa? — quis saber logo de início, sem objeções sobre ser aquela que iria atrás das pessoas. Estava acostumada com conversas e animada para sair daquele lugar tão monótono e visitar outros lugares, principalmente por ser de nave; sua infância foi baseada em aprender a pilotar, construir e tudo que vinha junto com aquilo, tudo para ter sucesso em seus propósitos como "Substituta do papai". Aquele fato sequer lhe machucava tanto quanto antes, afinal sabia que ele sentiria orgulho de si se soubesse que estava naquele lugar, naquele momento.

— Mas eu tenho lindos olhos robóticos — dizia ele que aproximava o visor, fechando e abrindo a lente.

Então, o elevador chegou à superfície e ele saiu.

— Te respondo um tanto-faz-robô. Vá na frente, então — disse, indicando passagem com a mão — Se tu fizer merda-robô quem paga é tu.

Ghavet soube através de uma notificação que alguns dos dados enviados por seu superior já haviam sido baixados. Poderia ter acesso a ficha de cada um dos mercenários que lhe foram aconselhados, além de uma transferência de trinta mil créditos para sua conta. Ambos demoraram por conta de sua complexa encriptação, e por conta disso apenas o ciborgue poderia ver, a não ser que decidisse projetar holograficamente através de algum lugar para mostrar a sua recém-conhecida companheira.

Citação :

Dossiê - Trinity

Nome verdadeiro: Desconhecido.
Raça: Jhayesiana.
Crime: Assassinato e saque.
Estado: Foragida.
Baixas confirmadas: 9.
Último avistamento: Neteros.
Notas importantes: Frequentemente é observado um padrão de três disparos em suas vítimas.

Citação :

Dossiê - Alira e Lotor

Raça: Huun e Iormashiano.
Crime: Assalto e pirataria.
Estado: Foragidos.
Baixas confirmadas: 0.
Último avistamento: Ghouane.
Notas importantes: São sempre relatados agindo juntos e parecem ter forte afinidade.

Assim que saíssem do elevador, os dois sentiriam uma forte ventania que contrastava com o lugar fechado e bem ventilado aonde estavam. As correntes de ar em Nazod eram extremamente fortes e, bem no momento em que Ghavet e Rhys deixaram o subterrâneo, uma nave militar passou num rasante enquanto decolava.

Apesar da potência e do modelo militar, a nave era impressionantemente bela silenciosa, formando uma mancha negra num formato parecido com o de uma águia. O belo exemplar humano deixaria em evidência o céu semi-nublado do planeta, mas que por muitas vezes alternava para uma iluminação na cor alaranjada natural da estrela daquele sistema. Além das altas torres e do tráfego aéreo da capital da Aliança, escondia-se um planeta lindo.



Logo a frente dos dois, um grande fluxo de pessoas ocupadas com seus comunicadores estavam cruzando a plataforma. O local, guardado por Okros fortemente armados, contava com espaços para alimentação e alguns comerciantes. Na borda dessa plataforma havia apenas um homem aguardando clientes para transportar, mas ele certamente cobraria. Alternativamente, poderiam alugar um veículo ou tentar o caminho a pé até algum destino

Rhys saiu do elevador depois da "máquina", dando alguns passos e parando para sentir o vento bater em seu rosto. Ajeitou a máscara negra que estava prestes a cair, analisando bem o lugar enquanto parecia estar a procura de alguém. O vento fazia o seu cabelo não parar quieto, o que estava começando a fazer ela ficar irritada; seu olhar estava fixado na nave que acabara de pousar, a boca aberta parecendo que ia sair baba de tamanha admiração ao ver aquele troço enorme, quase começando a pular no lugar.

— Olha que coisa mais linda, meu Deus. Eu tô apaixonada, tô TÃO apaixonada. — ela começou a delirar por alguns segundos, mas notou um tempo depois, limpando a garganta. — De qualquer forma, vamos pra perto do meu trabalho, lá tem uma garagem.

Se virou, começando a andar no caminho tão conhecido enquanto carregava a sua mala. Acenou para alguém que havia a reconhecido e gritado seu nome, dando um sorriso que só podia ser visto pelos olhos fechados.
Não queria dizer, mas estava animada. Todos os dias ia na garagem depois do trabalho pra olhar as naves, ansiando por um dia ter a chance de conseguir pilotar alguma, mas infelizmente era só alguém que criava bugigangas para pessoas, muitas vezes pros seus cotidianos.

— Só bora-robô — disse seguindo logo atrás dela.

— Quando a gente pegar uma nave eu deixo os arquivos de quem você tem que buscar baixado nela, assim, não tem problema caso tu esqueça com sua memória não-robô — falava ele, respondendo a pergunta anterior enquanto se mantinha no caminho encarando todos aqueles novos sorrisos que eram filhos, netos ou até um parentesco incrivelmente mais longe de seres que um dia já conheceu.

Após um tempo eles eventualmente chegam ao local indicado por Rhys. A garagem é grande, mas ainda assim não é das mais modernas. As naves mais potentes e indicadas, afinal, estavam na localização anterior e provavelmente custariam mais caro.

Ao se aproximar, sentiram um cheiro forte de óleo e fumaça, uma vez que no mesmo lugar funciona um centro de reparação de veículos terrestres e voadores, que por sua vez está distribuído por toda a extensão daquela enorme garagem. 



—... Ca-ham! - Pigarreou um pequenino ser logo ao lado destes. Havia se aproximado já faziam alguns segundos, mas como sempre ninguém o notara. — Drodag,especialistaemtransporteinter E extragalático. FilhodeumdosmaioresmecânicosqueNazodjáv- SHHHHHHHHHH... Ah. — Ele finaliza abruptamente puxando o ar, gasto naquele amontoado de palavras. — Vejoqueestãoaprocuradealgo caaaaaaaaaaaso contrário nãoteriamesseolhartãocompenetradoe-- SHHHHHHHHHHHH... Ah. Enfim, como posso vos ajudar?

Garesianos costumam de fato falar mais rápido que o normal, mas aquele em especial parece não saber se regrar. Além de sua fala embolada, o pequeno ainda parece suar frio e tremer suas pernas. É óbvio que está nervoso, e isso pode ser causado por sua juventude. Ghavet sabe que os Garesianos vivem uma média de 40 anos, e que um com traços jovens daquele jeito deveria ter no máximo seis. Apesar disso, sua capacidade de raciocínio e inteligência já são maiores do que as de qualquer humano.

"É... repete isso aí que eu não tenho certeza se eu entendi não, meu filho" ela pensou em dizer, mas se manteve quieta, com um sorriso gentil no rosto. Ao menos entendeu o nome dele.
— Oi, Drodag. Eu sou Rhys e esse é meu parceiro — disse, apontando para o que quer que fosse o outro e esperava que estivesse ao seu lado. — Não precisa ficar nervoso, não vamos te morder.

Riu para descontrair, mas não gostava daquelas coisas. Precisava ir direto ao ponto ou eles perderiam muito tempo. Abaixou a máscara que cobria seu rosto para falar melhor — afinal todas as suas falas até então saiam meio abafadas —, revelando-o.

— Precisamos de uma nave, para uma missão. De preferência grande pra abrigar mais que duas pessoas — ela disse, cruzando os braços atrás do corpo.

Ele simulava sons de arranhões de garganta.

— Eu sou o chefe, na verdade — disse, antes de ela continuar a falar, enquanto apontava para a casca enorme e amarelada.

— Uma nave de transporte com espaço para uma tripulação de dez seres, contando que alguns terão uma altura avantajada, ainda mais que a minha. Se tiver uma nave de reconhecimento, com sondas, para acoplar seria melhor ainda, ela teria que ter espaço para dois seres, desta vez não precisa contar com alturas avantajadas. Obrigado — disse ele, como um verdadeiro líder e logo começou a sua verdadeira natureza.

— Aliás, como vai teu avô? Aquele safado do Egaerg, nunca vi um cara que trapaceava TANTO no truco galático! Cara daora... — começava ele com seu carisma. Tentava relaxar o colega grayano ao notar as suas pernas bambas e assim começava a jogar conversa fora. Esperava que ele chamasse outra pessoa para mostrar as naves enquanto conversava com o pequeno. Se tudo desse certo, iria até diminuir o preço de tudo.

Os dedos da mão direita do alien tamborilam acima de seu braço, buscando alguma forma de controlar seu nervosismo. Ele assente com a cabeça diversas vezes depois que Rhys descreve sua necessidade. Com uma velocidade impressionante, ele desliza seu polegar formando um círculo acima das costas de sua mão, ao mesmo ritmo que uma luz neon se acende. Ela pisca por alguns breves segundos e logo um painel de HUD se ergue como um holograma, provindo do círculo neon que acabara de se acender.

— T-Tudo bem! Euireibuscaralgocomestespré-requisitosimediatamenteemecertificareipessoalmentedequ-- SHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH... Ah. — Ele pausa, puxando o ar novamente. Ao mesmo tempo, digita rapidamente no seu painel.

Antes que pudesse concluir a operação, ele ouve o robô falando. Até então imaginava que ele fosse um construto serviçal, sem acesso a voz sintética ou funções mais complexas. Ele estranha completamente quando este revela-se comandante da missão, e mais ainda quando ele revela conhecer seu querido avô.

— O... vovô veio a óbito. —  Murmurou boquiaberto, tentando decifrar aquela estranha criatura a sua frente. Como um Garesiano, vê a tecnologia como um mero objeto e presenciar um robô falando com tanta personalidade é no mínimo curioso. — E-Euachoqueseurobôestáapresentandoalgunsdefeitosfuncionais. Claro, éimpecávelasuaconstruçãoesuacapacidadedearmazenardadosjulgandoporseuconhecimentosobremeuavômas SHHHHHHHHHHHHH... Ah. Preciso da sua confirmação sobre as propriedades da nave que deseja.

Apesar do estranhamento, está impressionado com aquele robô e não para de encará-lo em momento algum, buscando entender como era possível de simular tal personalidade ou conhecer a personalidade de seu avô depois de toda a confusão jurídica com a Horizon.

– Puts! Ele morreu?! Baaah, agora quem que vai competir comigo nas trapaças?! – ele então aproximou sua enorme cabeça do pequeno, inclinando todo seu corpo – Ele te ensinou a jogar, por acaso?

Ele então ouvia o Garesiano, numa velocidade normal, já que não possuía ouvidos e sim um transmissor de áudio e tradução ao cérebro. Forçou uma risada pelos seus circuitos e comentou:

– Não é mal funcionamento e o conhecimento é real, de quem tu acha que foi a ideia do Horizon; Háha – forçava ele uma risada pouco sintética – Perdi pra ele num truco galático, puta bucha! Mas enfim, vamos revisar então.

Ele arrumava sua postura, admitindo novamente a aparência de um líder.

– Revisando: uma nave de transporte com limite de tripulação de até 10, levando em consideração seres gigantes e uma nave de reconhecimento que permita acoplamento, ela tem que ter espaço para dois, não precisa ser grande – então, girando a sua cabeça, se inclinou novamente – Tem aí, num precinho amigo?

Por um momento, os olhos do pequeno brilham. Qualquer mísera lembrança de seu avô é preciosa, uma vez que em seus momentos de glória ele fora um grande gênio da aeronáutica. Ter contato com um robô de tamanha tecnologia e que fora companheiro do seu parente era de valor inestimável para o pequeno. 

– C-Claro! Euvourealizaroseupedidoimediatamente. – Disse prontamente, batendo continência para reagir à postura de líder do recém-conhecido. 

Por mais que a presença de Ghavet fosse estranha, não poderia deixar de se sentir fascinado por seu discurso. Se havia interagido com seu avô, deveria carregar muitas informações úteis afinal. Drodag já começava a imaginar o quanto poderia melhorar se conversasse a fundo com alguém que ajudou no projeto da Horizon

– E-E-Eutenhoemmeuacervoumanavemilitarnaverdade. - Ele sussurra para que ninguém mais o ouça, ainda mais depressa do que o usual. - ElaéumtrabalhomeuedemeupaiparasubstituiraHorizoneretomarahonradaminhafamília! Eu... eu... eu SHHHHHHHHHH... Ah. Eu posso te emprestar, mas apenas se eu pilotá-la. Ainda não está em sua versão final e por isso eu tenho que acompanhá-lo, mas garanto que seu potencial é enorme!

– Mas, é claro! Então tá combinado! Espero que a gente consiga dar uma jogadinha então, haha! – cutucava o pequeno com o seu "cotovelo", demonstrando felicidade em sua voz quase-sintética.

– Então que tal cobrar só a nave de reconhecimento? Assim ninguém pega no teu pé, haha – ele se virou para sua subordinada e então confirmou a presença do Garesiano na missão.

Rhys encarava toda aquela conversa se desenrolando. Havia entendido que agora eles iriam com o pequenino e que tinham uma nave, mas parecia ter tido uma rápida ideia. Interrompeu o assunto rapidamente, referindo-se ao serzinho novo.

— Ei, eu preciso de uma nave pequena, não precisa ser muito chamativa nem cheia de coisas, só com espaço necessário e o quão barata puder. Tem como me arranjar? — ela perguntou rapidamente, um brilho estranho no fundo dos seus olhos. — Ah, e que caiba na nossa nave.

– C-Certo. Euireicomvocêsnaminhanavemasvocêsnãopodemcontarparaninguémafina-- SHHHH... Ah. É um protótipo. – Ele diz com ânimo enquanto vira-se e guia os visitantes até os fundos da garagem, passando por uma porta a qual ele apenas precisa de suas digitais para abrir. – Acompanhem-me e travem ela novamente, por favor.

A sala estava em completa escuridão até um sensor detectar a entrada do trio e acender automaticamente a iluminação de LED completa do local. O ambiente agora revela um galpão antigo, porém impressionantemente conservado e organizado. Nele há uma imensidão de containers e ferramentas, mas o destaque é para o imenso objeto coberto com um grande pano negro.

O jovem alien aproxima-se e, com certa dificuldade, retira o pano de cima do objeto oculto. Em determinado momento, o mesmo enrosca em uma fresta e requer tanta força do Garesiano que o mesmo cai para realizar a força necessária para enfim revelar a nave que vinha montando.

Enfim, revela-se dali uma belíssima nave, ainda que pequena para os tamanhos padrão. Seu design têm uma forma parecida com um inseto, ou até mesmo uma libélula, com assas traseiras que conferem balanço além de mantê-las
longe do risco de serem comprometidas.

– Quaaaaantoaoseupedidonãosepreocupemcomnada... Essa é a Umbra! O modelo que vai restaurar o posto da minha família. – Ele praticamente murmura, boquiaberto e orgulhoso ao observar seu próprio trabalho. Mal podia acreditar que finalmente estrearia sua criação, e logo ao lado de um robô que teve contato com seu avô! – Quanto a sua nave comum e sem graça, eu tenho um outro modelo em miniatura dentro da própria Umbra, caso algo dê errado. Eu cobrarei apenas o aluguel de duas nave comuns, 15.000, sem extras pelo meu serviço. Estar com alguém que sabe tanto de aeronáutica quando você e esse seu robô é um ótimo pagamento!

Ghavet sabia que não iria precisar fingir fascínio por naves já que sua subordinada já faria isso com belo prazer. Então, apenas concordou com o preço definido e ligou um HUD de transferência bancaria na frente de seu globo-visor.

— Podemos acertar isso agora? Não gosto de andar com dinheiro, tenho medo de hackers habilidosos; haha — dizia ele, fingindo que era todo o dinheiro que possuía.