Build the fucking robot, Wilhelm!

Wilhelm finalmente retorna ao seu quarto após todos os eventos recentes. Pouco tempo se passou desde o atentado da Datsu à cidade mais importante da Aliança, mas muito aconteceu nesse meio tempo. A casa da família está vazia e completamente silenciosa, uma vez que apenas o adolescente já teve a oportunidade de retornar.

Sozinho no cômodo com seus amigos robóticos, ele já pôde enfim tomar um tempo para consertá-los adequadamente usando as partes robóticas encontradas na nave mãe Zathriana. Apesar de serem de uma tecnologia estranho, Wilhelm é capaz de entender seu funcionamento, mas não sua aplicação. Ele precisa errar na montagem da primeira vez a ponto de quebrar as peças para compreender o mecanismo e conseguir montar novamente o seu robô com as que restaram. No final, porém, o esforço parece valer a pena.

Além de estar agora reforçado com uma tecnologia de ponta, a ideia de retirar o escopo do rifle é bem-sucedida e isso aumenta a precisão do construto.

Hase 2.0:

Apesar de frustrar-se com a perda de parte dos mecanismos Zathrianos, Wilhelm não permitia se deixar ser abalado e prosseguia com a reconstrução de seu querido robô antropomorfo. Prosseguiu atualizando tanto os seus circuitos quanto as suas juntas, dando-lhe membros mais flexionáveis e uma velocidade de resposta ainda maior.

Prosseguiu atualizando o exterior de seu autômato leporídeo com uma pintura nova, já que gostava de transformar seus robôs a cada atualização que recebiam. Hase havia sido um trabalho bem feito. Mas o ciborgue adolescente não estava completamente satisfeito.

Passou a vasculhar por toda a casa; seu quarto, a sala, a cozinha, o quarto de seus pais... queria componentes eletrônicos e metais versáteis para construção. Talvez ele pudesse transformar aquele protótipo de AI que havia lhe sido dado em algo ainda mais útil.

Outro robô.

Em sua casa, Wilhelm pode encontrar muitos eletrodomésticos que, com o cuidado certo, podem se tornar peças robóticas eficientes. Apesar disso, devida a baixa qualidade da matéria prima que foi polida afim de realizar uma tarefa simples, o construto acabaria por ser sucateado.

Em meio a sua procura, o telefone residencial toca incessantemente. A secretária eletrônica exibe uma origem desconhecida do número, e nenhuma mensagem anexada a ligação (o que é muito comum para se identificar o motivo da chamada). Wilhelm está sozinho em casa, e o telefone persistirá ainda que ele ignore-o.

Ainda que nenhum dos eletrônicos presentes no apartamento sejam úteis para a criação de um autômato, o garoto certamente não desistiria por ali. Pode não haver peças dentro de sua casa, mas ele certamente passaria em alguma loja tecnológica ou mecânico para comprar o que fosse necessário. Apesar de saber disso, Eisen ainda assim continuava a empilhar uma série de eletrodomésticos no meio da sala. O ciborgue esqueceu de mandá-lo parar de procurar.

Desvairado pela casa devido aos seus pensamentos em como seria engenhoso o suficiente para montar um robô novo, além das funções as quais acharia necessário, Wil foi interrompido ao ouvir os toques irritantes, que eram similares aos do início do século 21. O garoto preferia os toques mais recentes.

Rapidamente se pôs a atender o telefone, já que ninguém além dele estava presente na casa. — Alô. Amëlie e Soren não se encontram. Quem é?

Dentro de alguns instantes, quase todos os microondas, frigobares, televisores, computadores portáteis e outro tipo de tecnologias de utilidade estão empilhadas na casa. E Amëlie está no caminho para casa.

Do outro lado da linha, Wilhelm pode ouvir uma conversa baixa entre um grupo de pessoas, que demoram algum tempo para perceber que ele de fato atendera. Poucos segundos depois, alguém pigarreia e uma voz grave e forte enfim se pronuncia.

— Boa noite. O meu nome é Kwame Jafari e sou um empresário. Qual é o seu nome?

Aproveitando que Eisen continuava a empilhar eletrodomésticos pela sala, Wil puxava um dos computadores portáteis ao mesmo tempo que mantinha o telefone apoiado entre seu ombro e sua cabeça. Ligava o netbook para se inteirar nas últimas notícias; era algo que ele dificilmente fazia, mas devido às suas aventuras anteriores, juntamente com o fato de que sua irmã e namorada são agora procuradas, ele acabava tendo uma maior quantia de fodas dadas em relação ao noticiário.

Ignorou a conversa baixa que o outro lado da linha do telefone parecia ter, já que isto era algo relativamente comum. Principalmente quando a Hi quer aumentar a franquia de dados da casa.

— Wilhelm Schwarzdorn. Empresário de onde?

Nos noticiários, ele pode encontrar notícias preocupantes em relação ao cenário atual da galáxia, que contrastam com a usual enchente de futilidades e fofocas que floodam a mídia em tempos de paz. A única nota sobre entretenimento fala de um show beneficente em Marte. Fora isso, todas elas relatam tragédias ou o andamento de investigações. Dentre as mais lidas estão:

• O que os militares já sabem sobre o atentado de dois dias atrás.
  
• Dois embaixadores que participariam do congresso de amanhã são assassinados.
  
• Incrível: testemunhas afirmam que militar dada como morta as contatou hoje a noite!
  
• Novo ataque terrorista? Perseguição em alta velocidade na avenida principal!
  
• Aumente seu pênis em 5 centímetros sem cirurgia! Saiba como.
  

— Sou dono de uma companhia chamada Ohini, localizada na Terra. Hoje a noite eu comprei todos os modelos e protótipos da companhia pertencente a Amëlie Schwarzdorn, que segundo meus dados é sua mãe. Essa compra foi cancelada. —  Ele relata de maneira calma, mas parece haver algo errado em seu tom. Ainda que tranquilo, ele soa ameaçador e extremamente poderoso. — Estou prestes a mover um processo contra a empresa segundo o Artigo 35 dos direitos do consumidor devido a esse cancelamento. Meu intuito não é ganhá-lo e sim arrastá-lo pelo tempo suficiente de prejudicar financeiramente o vosso empreendimento, a não ser que eu receba o que pedi... e nisso eu imagino que você possa me ajudar. Sabe construir robôs como os que sua mãe faz?

Enquanto scrollava pelas páginas, apenas encontrava o que já era esperado. Depois do atentado terrorista, parecia que a galáxia havia ficado ainda mais caótica do que o comum. Mas ele se encontrava impressionado ao ver uma notícia que lhe impactaria muito mais do que qualquer outra ali.

— PUTA QUE PARIU..! — Abria o link da notícia sobre os embaixadores. — CINCO CENTÍMETROS?! — Por um momento, ele se esquecia completamente de que estava no telefone. Só entendeu a partir de "sua mãe" e "compra cancelada", já que havia praticamente interrompido o homem no meio de sua frase. Processando aquilo como uma ameaça, franziu o cenho.

— Depende. O que eu ganho com isso?

Abriu a sua conta do messenger no netbook, procurando pelo perfil de sua mãe. Escrevia uma mensagem imediatamente.

Wiru-kun para Amëlie escreveu:

Tem um empresário cuzão que comprou uns robôs seus e não quer pagar. Tá falando comigo pra ver se eu sou otário o suficiente de fazer outros pra ele.

Depois de notificar a sua mãe, ele pesquisava em uma nova aba pelo site da companhia. Talvez pudesse adquirir alguma informação extra forçando uma entrada como admin.

O homem do outro lado da linha tem uma voz impactante, que não parece se propagar só no telefone mas até mesmo dentro da mente de Wilhelm. Talvez fosse seu jeito de falar, talvez fosse o tom de sua voz, mas parece que ele tenta subjugar o jovem à sua própria vontade.

— É muito simples: eu quero robôs como sua mãe faz, e imagino que o filho de uma engenheira tão brilhante deve saber sobre robótica também. — Ele dá uma curta pausa, na qual Wilhelm pode ouvir o som de um cigarro sendo tragado. — Posso te dar o necessário para fazer quantos modelos quiser, contanto que eu receba uma unidade de cada construto que você fizer. Dessa maneira eu posso desistir do meu processo contra a empresa de Amëlie.

O link sobre os embaixadores assassinados menciona que os dois foram mortos com poucos minutos de diferença, e com uma lâmina. Ambos tinham ideias pacifistas e votariam na mesma sessão que seu pai vai votar no dia seguinte.

Já na pesquisa sobre a Ohini, a empresa do homem, Wilhelm encontra um projeto grande de controle de atmosfera em planetas não habitáveis. A companhia parece ser grande e receber um grande investimento de muitos grandes empresários, e está em atividade desde 2295 (7 anos).

Devido ao robô de Wil, a sala naquela ponto estava um caos. No momento, Eisen parecia puxar um modelho velho de microondas pela tomada como se fosse um carrinho. Mas o ciborgue estava concentrado o suficiente para não perceber a folia que estava sendo realizada na casa. — Teoricamente. Se eu fizer um total de cinquenta robôs do mesmo modelo, fico com quarenta e nove? — Coçou o cabelo desgrenhado e sujo enquanto pensava. — Como posso confiar que o senhor vai bancar a construção deles, sendo que está abusando da boa vontade da mulher mais impaciente da galáxia? São tendências autodestrutivas? — Apesar de parecer uma piada, o garoto estava se cagando de medo da reação da sua mãe.

— Enfim. Se eu receber garantias de que não vou tomar uma rasteira de um charlatão, pode considerar a oferta como aceita. — Aquele homem deveria ter feito um monte de pesquisa antes de fazer a ligação. Ele devia saber do interesse imenso de Wilhelm em possuir um robô de 25 metros próprio. — ...Por acaso o senhor teria autorização de obter itens de grau militar?

Wilhelm pode ouvir uma ligeira risada do outro lado da chamada quando indaga sobre as possibilidades. Realmente o garoto é esperto ao encontrar o ponto forte daquela negociação, mas Kwame é um homem inteligente e poderoso que já sabe como tornar aquilo tudo lucrativo.

— É isso mesmo, garoto. Se me mostrar um protótipo funcional, meus engenheiros vão analisá-lo e eu te darei os recursos necessários para construí-lo. A partir daí, pode montar quantos quiser contanto que eu tenha o primeiro. — Enquanto ele fala, Wilhelm pode ouvir o som de teclas sendo apertadas, como se o homem digitasse algo. — E não se prenda a minha manobra contra a sua mãe. Eu tentei comprar seu estoque de maneira honesta e legal, mas ela não me permitiu e eu tomei as medidas cabíveis. Mas você parece ser mais cooperativo e inteligente.

Wilhelm pode ouvir um rasante próximo a si. De madrugada, naquela hora, raramente haveriam naves pairando tão baixo, então provavelmente seria sua mãe retornando.

— Me encontre amanhã em Washington, no ponto 251274-33 da ala leste para fecharmos nosso negócio. E tente manter isso em segredo da sua mãe, sim?

— Entendido. — Dito aquilo, o garoto passava a anotar o local indicado para se encontrar com o homem em seu bloco de notas digital. Não hesitou muito em simplesmente desligar o telefone; qualquer coisa que dissesse poderia entregar que ele na verdade já havia atualizado a sua mãe sobre o assunto. Talvez ela pudesse escutar o telefonema depois. Wilhelm não sabia ao certo se ela havia instalado algum spybot no telefone, ou se haviam gravadores por toda a casa. Mas uma coisa era certa; ele não duvidava de nada.

Foi apenas ao ouvir o rasante de uma nave que ele deu uma olhada no estado da sala de estar. Entrou em choque. — E-Eisen! — Chamou a atenção do robô, que encarava seu criador com confusão. Wil não disse nada de puro desespero. Simplesmente apoiava o netbook debaixo dos ombros e saía correndo até o seu quarto, trancando a porta em seguida.

O robô continuava no meio da bagunça, confuso e provavelmente sem saber que teria de lidar com a mãe de Wilhelm. Sozinho.

Washington é uma das maiores metrópoles de todo o universo, já sendo considerada grande mesmo antes do contato dos humanos com a Aliança. O hábito dos terráqueos de centralizar o poder, diferente da maior parte das outras raças, permitiu que essa cidade fosse não só considerada a capital global como também a sede do Pentágono, divisão de segurança da FASN. Sua localização, próxima a sede da ONU e da Nasa também contribuíram para que tivesse esse posto.

A cidade é altamente evoluída e possuí um dos índices de IDH mais altos do universo. Essa ascensão se tornou possível pela abundância de recursos da Terra e pelo investimento dos Kroyvisianos, cujos membros muitas vezes mudam-se para o planeta que é uma versão maior e mais próspera do que sua terra natal.

As coordenadas indicadas por Jafari ao telefone dão num arranha-céus gigantesco que provavelmente supera os 800m de altura, e que ostenta toda a sua imponência mesmo de longe. Ao longe de seu comprimento, um enorme letreiro na vertical marcado pela bela cor esmeralda diz "OHINI".

— Ai moço você me desculpa mas eu sou nova nisso, sabe? Eu só me perdi aquela vez porquê minha mãe tá com um problema no joelho e eu tenho que ficar o tempo todo ligando e ligando pra ela pra saber se tá tudo bem já que minha irmã é uma imprestável que dede que casou não quer saber de absolutamente nada, inclusive saindo daqui eu tenho que voltar correndo pra ver se ela deu de comer pro próprio filho acredita? É por isso que comecei nessa coisa de pilotagem, aprendi com meu ex-marido que era da aeronáutica e pra falar a verdade nem dei bola mas veio bem a calhar quando o dinheiro começou a faltar. Por mais que eu não seja muito experiente e não saiba fazer piruetas nem nada do tipo, sei me virar com o que o piloto automático não faz e dei sorte de conseguir essa nave num leilão logo depois que o filho da puta me deixou por uma perua mais nova toda emperiquetada. Ah, quer balinha?

Com uma feição entediada, o garoto manteve a viagem inteira com os cotovelos apoiados na lateral da nave, enquanto usava as mãos para apoiar a sua face cansada. Observava através da janela a paisagem, quieto, escutando enquanto a mulher falava sem parar até chegar na Terra. Seu desânimo dava uma pausa quando Wilhelm virava para checar sua amada de vez em quando, e mostrar um sorriso compreensível caso ela acabasse lhe flagrando em seu ato de espionar. Com Hase em seu cinto e Eisen sentado confortavelmente, aguardou até que alcançassem o antigo território da América do Norte.

Ele manteve-se divagando, contemplando a gigantesca estrutura em que teria que entrar daqui a alguns minutos. O monólogo da motorista era a última coisa que estava dando atenção. Quando lhe foi feita uma pergunta, se tocou que não era o único ser vivo presente ali. Chacoalhou a cabeça um pouco.

— Hã? — Disse, tentando analisar no subconsciente o que ela havia perguntado — Balinha! Eu quero!!! — Eisen foi quem lhe interrompeu. Ele gostava de comer doces... ou fingir que o fazia, já que não tinha uma boca. Na verdade, triturava a guloseima na entrada que era utilizada para carregá-lo em situações de emergência, caso não haja um Sol no local.

Desde o começo da viagem, Stellae permanecia quieta, mesmo com toda aquela conversa com a motorista, — que mais parecia falar sozinha, — e assentia como se estivesse atenta, observando através da janela da nave com o semblante indecifrável.
O fato de voltar à Terra a deixava pensativa por a recordar de certas lembranças, mas considerou que precisava se distrair e ficar na companhia de Wilhelm por um tempo, sair de sua rotina. Gostava de pensar também que ele desejasse o mesmo.
Não pôde deixar de notar, mesmo que dispersa, que o garoto a olhava vez ou outra, e retribuía com um sorriso fraco, de canto dos lábios, e uma piscadela boba.

— Hm? — Ela finalmente para de falar após horas de viagem, apenas para se perguntar por um segundo o que um robô faria com seus doces. Ao lembrar-se da importante regra de que "o cliente sempre tem razão", deu de ombros e ofereceu o doce ao passageiro. — Gente, vocês são mara. Vou confessar que essa é minha primeira viagem mas eu considero que já comecei com o pé direito com clientes tão legais como vocês. A gente teve uma conversa tão boa! Consegui colocar pra fora tudo que tava me atormentando, e vocês me ajudaram muito, sabe? Seja lá o que for que querem nessa empresa, eu espero que dê tudo certo e que a gente viaje junto de novo. Ah, se vocês quiserem eu fico por aqui e espero precisarem voltar, que tal?!

Com a nave estacionada em frente ao prédio, os dois podem ver a luxuosa recepção da empresa. Certamente é maior do que muitos apartamentos que já viram, e provavelmente muito mais cara também. Nela, alguns robôs ajudantes aguardam, mas nenhuma atendente é vista. Parece que o empresário prefere contar com sintéticos como funcionários.

Há dois elevadores, um em cada canto do saguão, e nenhuma escada. As únicas pessoas ali são seguranças que observam a chegada de Wilhelm e fazem anotações em um pequeno dispositivo. Próximo a esses dois robôs está um humano se apresentando, que chegou pouco tempo antes do casal.

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