Aurora Boreal - Kayn

— Ah bicho, de novo?! — Indaga furioso o Huun que não suporta que sua caranga envenenada seja distorcida. — Fica na boa, não é a primeira vez que acontece. Se algum dia eu pego eles eu boto pra quebrar nesses fedelhos. De qualquer jeito, foi daora lá?

Enquanto tenta puxar conversa, coisa que Tata adora fazer, a nave é ligada e inicia o processo de decolagem quase ao mesmo tempo que um locutor anunciando o início do festival pode ser ouvido ao longe. Dália realizou sua tarefa com pouco tempo de sobra, mas a realizou sem chamar atenção.

O piloto disfarça a inquietude ao ver o horário mostrado em um display de sua nave, pensando em todas as coisas que perdeu durante a longa espera. Ele ao menos sabe que os serviços requisitados pelo pessoal estranho de Lotor é sempre muito bem pago, então apenas faz questão de transportar Dália de volta o mais rápido possível e voltar a seus afazeres.

Diferentemente da primeira viagem, esta dura pouquíssimos minutos. É evidente que o anfíbio está com pressa e, durante o caminho, realiza algumas manobras arriscadas para terminar a corrida depressa. O que importa é que não demora até que a loira esteja de volta em Ghouane.

Colocou o cinto de segurança enquanto ouvia as reclamações de Tata, e, pelo que o Huun havia dito, era algo bastante corriqueiro.

- Foi bem... surpreendente? - Riu de canto, demonstrando uma expressão um tanto confusa, como se ainda não tivesse engolido tudo o que havia acabado de acontecer. - Tirando alguns contratempos, tudo ocorreu bem, e eu não precisei me livrar de nenhuma testemunha, então saí ganhando. Me desculpe, levou mais tempo do que imaginei que levaria.

O Huun claramente parecia apressado, mas Kayn não se sentia em posição de falar "dirija com segurança, eu ainda sou muito nova para morrer", especialmente depois de ter consumido tanto tempo do piloto. Apenas cruzou os braços e aguardou.

Tata demora a responder, visto que apressadamente supera os obstáculos do caminho. Alguns minutos se passam, e apenas quando Ghouane já está a vista ele realmente assimila o que Dália o disse antes.

— Se livrar de testemunha?! Cê tá maluco, eu ainda vou ser preso de dirigir pra vocês. E eu achei que você era cantor de pop-coreano-humano. Com essa cara de andrógeno e indo pra Marte, vai saber.

Agora com ainda mais urgência para se livrar de sua passageira, ele pousa a nave de qualquer jeito, ainda que isso prejudique sua lataria. Se Dália tinha muito a assimilar, saber que está dirigindo para criminosos quando se é um anfíbio de meia idade motorista de naves velhas é bem mais difícil.

— Sai pra lá, oxalá! E lembra o teu patrão de me avaliar positivamente, pelo amor de tudo.

"Eu achei que você era cantor de pop-coreano-humano.", Dália quase engasgou com a própria saliva rindo ao ouvir algo tão... instantâneo. Não estava esperando por um comentário daqueles, e normalmente as pessoas não tinham coragem ou oportunidade para fazê-lo. Bem, não era sempre que conhecia alguém que não precisasse afogar de porrada ou silenciar.

É óbvio que Dália não havia levado aquilo a sério.

- Cantor de pop, hm? - Levou a mão ao queixo e encarou o próprio reflexo pela janela da nave, como que ponderando a sugestão, mas não muito depois balançando a cabeça em negação. - Nah, não é minha praia.

Já estava com a mão na abertura do cinto para descer assim que avistou Ghouane, ao longe, mas logo lembrou-se que não havia respondido a mensagem de Lotor.

"Imagino que tenha sido ideia sua. Estou errada, Lotor? Não vou questionar sobre isso, por isso vamos logo para o que realmente importa para você: O que precisa que eu faça?"

Com o celular no bolso, retirou o sinto e desceu da nave assim que o Huun pousou.

- Thankyu~

A resposta de Lotor não tarda a chegar, fazendo com que o technophone de Dália vibre como aviso.

"Uau, assim você me ofende! Confesso, tive uma parte nisso sim, mas é por uma boa causa;
Não é tão ruim assim, querida, se fosse eu obviamente não te colocaria no meio!;
Ora, ora. Eu não quero nada!;
Você fez um bom trabalho e foi um dia longo, então descanse e depois a gente se fala."

As luzes dos estabelecimentos variados vibram tão intensamente quanto sempre em Ghouane. A estação espacial realmente nunca dorme, mas as pistas de pouso estão desertas. O Huun não tarda a partir com sua nave, deixando-a sozinha com os outros dirigíveis. Após alguns minutos, o technophone vibra e indica que novas mensagem foram recebidas. Seu visor revela que é Kylle, a mulher que já não se manifestava há algum tempo.


"Meus parabéns, querido. Eu disse que você conseguiria, e eu nunca erro;
De qualquer forma, é ótimo poder constatar que você não é só mais um rostinho bonito;
Seja bem vindo!"

Apenas passou os olhos pelas mensagens recém-recebidas, logo concluindo que não tinha necessidade de responder nenhum deles. Apenas jogou o technophone na cama, trancou a porta do quarto e começou a se despir, arremessando o terno na primeira cadeira vazia e erguendo o pijama para retirá-lo pela cabeça. Depois de retirar o binder, se livrou da calcinha para enfim estar completamente nua.

Após um longo e relaxante banho, retornou ao quarto sem a toalha, já que havia abandonado-a no banheiro após se secar. Colocou o celular na cabeceira ao lado, desligando a luz para enfim afundar-se na cama.

Não demorou muitos minutos para apagar. Já havia se acostumado a dormir em situações e locais piores, aquilo era um luxo comparado ao chão frio que Dália já chamou cama.