Supernova - Stellae e Cold

O policial permanece ali, inconsciente e algemado no chão, conforme as garotas se afastam do local sem um destino certo. Já parece faltar algumas horas apenas para o amanhecer, tendo aquele evento tomado toda a noite da pequena, assim como de grande parte da galáxia. A cidade finalmente parece começar lentamente a se acalmar depois de todo aquele caos que ali foi instalado após o ataque. Ainda assim, depois de todo aquele estrago, todos ali tardariam a ter algum descanso.

Depois do que as meninas fizeram, entretanto, elas sabem que quanto mais tempo permanecerem em território da Aliança, mais provável de que aquele homem acorde e outros oficiais as encontrem. Além disso, este planeta jamais vira tamanha destruição em toda a sua história, então, a situação das ruas está certamente bastante complicada.

O corpo que levam, também complica a situação das meninas. Elas podem notar que a mulher que carregam estranhamente já não tem mais líquido algum no corpo, ainda que tenha morrido apenas algumas horas atrás. Conforme elas passam pelas ruas e becos da cidade, um anúncio é projetado em cada canto desta, provavelmente para tranquilizar a população. Próximas o bastante, elas podem assistir parte do noticiário.

— Boa noite, caros companheiros da Aliança. Trago agora uma ótima notícia após o terrível atentado que afetou a todos nós. Felizmente, o doutor Renard Queenston imediatamente imobilizou-se para descobrir o que é e como tratar a substância azul que infectou uma quantidade inestimável de cidadãos presentes no festival durante o ataque terrorista. — Anuncia uma humana, é uma mulher bem arrumada, com cabelos presos, loiros e bem lisos e um par de olhos azuis cintilantes. Ela veste um uniforme da Aliança, e ao fundo há uma parede de vidro, mostrando que há vários prédios espelhados e extremamente tecnológicos atrás dela — De acordo com as informações, as pesquisas estão avançando e o médico parece já ter ideia do que se trata o líquido usado, então podem ficar tranquilos. Voltaremos com mais notícias assim que mais resultados forem obtidos! — Logo que acaba de falar, as transmissões se encerram e o silêncio da noite retorna às ruas de Gradopolis, sendo possível ouvir apenas o assoviar dos ventos frios que atravessam os pequenos corpos das garotas.

A viagem era silenciosa. Cold encarava o corpo da mulher morta a sua frente de tempos em tempos, mas não sentia nada. Remorso? Nah. Compaixão? Nah. Questionava-se de tempos em tempos o porque de não ter a deixado lá; não que se arrependesse, muito pelo contrário, ela sabia que tinha sido a decisão correta, mas não sabia o motivo. "Tomara que você valha o tempo" pensou, arregalando os olhos ao notar que o líquido azul simplesmente desapareceu. Seu desespero sempre foi silencioso e, dessa vez, não fora diferente; tocava o corpo dela com suas mãozinhas de forma preocupada, mas não fazia um som sequer.

Bem nesse momento começou a reportagem, o que alarmou Cold. Nunca prestou tanta atenção em algo quanto naquele momento, soltando um barulho de aprovação ao ouvir os ditos da repórter. Aquilo ajudou a tomar a sua decisão: iriam para o encontro de Renard Q...Q... Renard alguma coisa.

— A Cold acha que tem que ir lá — Disse para a sua aliada, olhando para a mulher em seu colo.

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Seguiu com Stellae, procurando por alguém que soubesse ao menos um pouco da aparência do médico. Quando lhe perguntavam sobre o corpo, dizia que era alguém precisando de tratamento; houve uma pessoa que lhe entregou até mesmo uma foto, o que era muito conveniente.
Seus olhos procuravam por uma silhueta com alguma semelhança a que ela havia visto anteriormente na foto que lhe foi entregada conforme a moto ia avançando, o que não era tão difícil, afinal as ruas estavam vazias.
Não demorou para que visse uma pessoa estranha andando toda torta e parecendo falar com alguém, pedindo que Stellae seguisse-o discretamente e reduzisse a velocidade. Quando ele entrou melhor em seu campo de visão e pôde reconhecer, prendeu com força o corpo e o puxou para fora da moto quando Stellae estacionou.

— Ei, você! — Esbravejou, arrastando o corpo pela calçada como se fosse a coisa mais normal do mundo. — Você é aquele doutor, né? Ajuda a Cold.

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Ela pareceu se irritar com a enrolação do desconhecido. Só podia ser ele! Não havia mais ninguém que se parecesse com uma daquelas raposas da Terra naquele lugar, e as semelhanças eram muitas.

— Aquele lá, o Reinaldo Flintstone — Cold disse, respirando fundo. Sequer notou seu erro, ou talvez houvesse uma parte dela que soubesse. Enfim! A moça em seus braços já estava começando a pesar, então tratou de ir logo aos negócios. — Olha, essa moça aqui foi infectada pelo coiso azul. Se você ajudar ela talvez a Cold tenha como resolver uma coisa muuuito importante, então dá pra ajudar a Cold?

A pergunta foi feita com total inocência, mas havia certo toque de rancor e importância que era camuflado por seu hábito de falar em terceira pessoa, como algo que quebre o gelo.

Estava impaciente, e a cada segundo se sentia cada vez mais próxima de puxar a arma e ameaça-lo a fazer o que ela queria sem reclamar. No entanto, ela já havia entrado com um problema com a popo mais cedo, mais um não faria bem.

— A Cold sabe quem você é, e só você pode ajudar ela — Tentou mais uma vez, encarando-o com seriedade. Era difícil saber se com "ela" ela queria dizer a própria Cold ou a kroyvisiana morta. — Essa mulher pode ter informações preciosas! E a Cold não pode tratar disso com uma pessoa normal, seria presa.

— Você é — Insistiu, se aproximando dele com o corpo em passos precisos. Ia falando enquanto avançava, irredutível. — Escuta a Cold! Meteram ela numa enrascada enorme, e ela não vai se livrar se essa mulher não ficar viva. Inclusive, a Cold pode até te pagar uma quantia se você ajudar. Mas só se ajudar.

Olhou brevemente para Stellae e prosseguiu.

— Se estiver interessado, poderíamos entrar em algum lugar? É perigoso estar aqui.

Permaneceu em silêncio por alguns segundos, o encarando. Estava dividida entre dar um tiro nele ou fazer o que ele queria, embora soubesse qual era a resposta certa — não era muito difícil descobrir —, o que lhe balançava era sua irritação com o ser a sua frente. Algum tempo depois, Cold estalou a língua, respirando fundo.

— A Cold faz o que você quiser — Começou, desviando o olhar. — Contanto que você faça o que ela pediu primeiro. — Parecia meio contrariada ao dizer aquilo, mas voltou a olhá-lo, mais uma vez séria. Cruzou os braços a frente de seu corpo, destacando as ataduras que recentemente haviam aparecido.

— Num galpão — Disse, apreciando o fato do médico finalmente ter começado a cooperar. — A Cold encontrou ela já morta, com algo enfiado no pescoço. 'Tava toda coberta por um negócio azul, que sumiu do nada no caminho! Um cara enganou a Cold e fez ela parar lá, então agora acham que a Cold que matou a moça. Mas ela não tem nada a ver! Ela precisa de tratamento pra dizer a todo mundo que não foi a Cold que fez isso.

E, mais uma vez, era difícil saber a quem ela se referia com "ela". Cold ocultava a maior parte dos detalhes, na intenção de que ele simplesmente não soubesse; era capaz da raposa utilizar o conhecimento para engana-la. "Só o necessário", pensou.

— Cold achou que tivesse uma saída pra ela — Findou, respirando fundo. — Ainda que talvez não tenha, Cold gostaria de lhe pedir que tentasse. Inclusive, estava sobre todo o corpo. Sem exceção. — Começou a mexer no corpo dela, levantando suas pálpebras e abrindo os lábios, procurando por algo.

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Enquanto ambos conversavam pateticamente sobre o tal líquido azul, permanecia encostada sobre a moto estacionada, de braços cruzados e o olhar vazio.
Até agora não fora dito nada que realmente fosse solução para aquele problema em que aquela catarrenta fizera. Chegou a concordar quando o Doutor comentou sobre ela não ter deixado o corpo onde o encontrou.
Talvez fosse um milagre não ter estrangulado Cold por ter a colocado numa situação daquelas, sem lhe dar uma boa explicação. Uma hora ou outra, iriam se acertar. No momento estava mais preocupada em obter as informações daquela substância, logo. Seus olhos analisaram aquela... raposa? de cima para baixo e vice-versa.

— Sejam mais claros. Doutor, por favor, tem como nos ajudar com isso de alguma forma? — Tentou falar aquilo no tom mais calmo possível.

Assentia com a cabeça conforme as palavras do Doutor, comprimindo os lábios inquietamente de um tom rosado esbranquiçado. Ainda havia esperanças, mas ainda desconfiava quais seriam as condições para aquele favor, pelo decorrer da conversa, não seria algo simples.

— Certo, entendi. Você poderia ir com a gente para o hospital, e fazer o tratamento nela?

Permanecia tentando parecer, pelo menos, uma pessoa paciente. Seu olhar sério o fitava sem desvios e quase não piscava. O que não fazia pela catarrentinha?
Apesar de ter cogitado em ignorar de início, tudo aquilo, não conseguira.

Entrar no hospital não seria considerado um "obstáculo", era especializada em se infiltrar, talvez para a garota sim, e aquele corpo quase em decomposição, que estava exalando aquele odor horrível.
E estava certa, justamente iria ter que retribuir de alguma forma, o que lhe perturbou foi o que seria. Dirigira um olhar sério e desconfiado para a raposa no momento.

— O que quer, então?

Cold observou a conversa entre os dois, encarando com certa raiva a mulher jogada no chão. Se ela ao menos soubesse como se cuidar, provavelmente não estaria naquela situação — não que Cold soubesse, tanto que agora era procurada pela polícia. E o melhor, havia metido Stellae no meio! Estava prestes de alcançar a paz mundial em seu coração. Não que faça sentido.

— Cold tem a leve impressão de que se demorarmos mais, não vai ter nada pra fazer com a inút- — Ela se interrompeu imediatamente quando viu que estava ficando... agressiva. Não era sua intenção demonstrar qualquer sentimento na frente daquele louco.

Não queria que sua cunhada se desse o trabalho, mas deixou para lá, se reduzindo a um simples olhar de censura. Ajoelhou-se ao lado da mulher, mais uma vez mexendo nela a procura de algum sinal do líquido cujo ela estava banhada alguns minutos atrás. Estava indignada! Não era possível que ela seria tão sem uso.

Os presentes podem ouvir o som dos veículos de monitoramento da guarda da Aliança patrulhando o local. Através de alto falantes, eles anunciam o motivo da busca ainda que o atentado tenha acabado.

— Atenção cidadães de Gradopolis! A força-tarefa interestelar da Aliança busca duas garotas jovens, ambas de cabelos claros. Elas estão com uma oficial desaparecida dos nossos pelotões, e são suspeitas do atentado de hoje. Qualquer informações sobre estes perfis são de extrema importância.