Tempestade Solar - Khty

Por um momento, Fawl realmente acreditou que estava a salvo e havia se preocupado a toa. Ao menos sua reação autêntica geraria uma ótima imagem para fazer clickbaits, conseguir visualizações e vender camisetas temáticas de qualidade duvidosa sobre seu canal. Isso tudo até sentir o cano da arma tocando seu corpo.

— B-Bom galerinha... — Ele começa olhando para a câmera enquanto soa frio, tentando disfarçar seu desespero. — Se não quiser ficar de fora de nenhuma novidade, se inscreve no canal e ativa o sininho de notificações. Se quiser me dar uma ajuda, deixa aquele like pesado e compartilha o vídeo com os seus amigos. E-É isso ai então galerinha, valeu e f-falou!

No mesmo momento, ele aperta um botão em seu tecnophone e a câmera instantaneamente desativa. é nesse momento que seu semblante muda completamente, denunciando que ele é outra pessoa enquanto fora das câmeras.

— Mas que porra, o que você quer comigo? Eu não devo nada pra você e pros seus amigos esquisitos! E-Eu deleto o vídeo se quiser, não precisa me matar... o papai ficaria puto! — Ele clama enquanto tenta encontrar algum motivo lógico para tudo aquilo estar acontecendo.

Aguardei o fim da transmissão com aquele sorriso no rosto. Por incrível que pareça, não era artificial. Eu havia me divertido em fazer isso.

— Normalmente eu sou a favor queimar todo o arquivo. Isso inclui seus autores. — Ele parecia estar procurando alguma explicação lógica para tudo aquilo, mas talvez ele pensasse que eu falava do último vídeo. Deixei estar. Tomei uma postura séria novamente.

— Mãos ao alto. E de costas. Não vou demorar muito. Fique feliz porque me apiedei de você — Pausei.  — mas se tentar alguma gracinha eu vou me lembrar do quanto eu queria chutar o seu traseiro há quarenta minutos atrás. — Quando ele virasse, passaria a revista-lo. Meu intuito era achar dispositivos além do que o que ele segurava.

— R-Relaxa, eu não sei nem lutar! Aquele vídeo que fiz sobre kung fu era tudo clickbait, juro. Mas eu sei o que você quer aqui... cê é uma fã que quer acesso ao vídeo novo logo, né? Olha, eu posso te mostrar mas você tem que jurar que não vai falar disso nos fã clubes. Vai acabar com a surpresa! — Exclama o garoto, que parece de fato viver em outro mundo.

Ele está com seu tecnophone e com alguns pedaços de ouro nos bolsos, que são a moeda mais usada em Jannu. Além disso, conta com alguns espelhos e um dispositivo apenas com algumas fotos dele mesmo. Parece de fato um narcisista.

ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤVocê estava de joelhos vendo tudo o que acontecia, mas sequer se importou com a situação. Apenas queria avaliar o ego e o caráter daquela que veio consigo. Quando ela polpou seu inimigo, uma certa fúria pairou sobre seus olhos "Fraca" pensou consigo mesmo. Quando ela entregou aquele objeto em sua mão, você simplesmente a encarou e puxou o celular de suas mãos. Mirando nos olhos do moleque.

ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤSeu corpo se movimenta, uma rápida ação que ele nem sequer conseguia ver. A velocidade e força empregada no objeto arremessado fazia uma pequena nuvem de vapor sair de seus dedos enquanto o acertava no globo ocular. Pelo menos o que sobrava da tecnologia. Ao se chocar com o osso nasal, lacrimal e zigomático (numa espécie de intersecção dos três ossos oculares) o celular acabava estourando. Isso por motivos de física. Um objeto em velocidade e aceleração constante, sem resistência direta, ao se chocar com uma parede sólida irá transferir toda a energia de movimento uniforme para essa estrutura e então receberá tudo de volta.

ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤVocê então olha para Kitty. - PRONTO... - Você grita meio desapontado com ela e se levantando. Acabava de dar uma dica para ela, o olho do garoto - somente pelo impacto do celular em seu rosto - iria ter danificado todos os demais nervos em volta daquela região o fazendo perder completamente a visão ali. Além de uma fratura profunda naqueles três mesmos ossos.

— Viu só? Algo maneiro. Ele calou a boca. — Eu tinha a política de assumir um pouco mais que o normal de sinceridade com meus aliados. No entanto, o garoto era meu inimigo e eu, como ex-soldado, ainda tinha certos hábitos impressos na minha personalidade. O mínimo que eu poderia fazer era acabar logo com o sofrimento do garoto. Fosse por simpatia ou irritação.

Eu girei a arma novamente, agarrei-a com as duas mãos e mirei na cabeça do garoto Fawl no intuito de finaliza-lo. Daria quantos tiros fossem necessários.

— Encerramos aqui. — Declarei. — Mas eu sou muito ruim em primeiros socorros. Cê' vai ficar bem? — Voltei a avaliar a situação.

... Eu tinha mesmo tido a ideia de carrega-lo pra fora caso ele ficasse inconsciente? Eu só podia estar doida. — Sente fome?

ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤAo ver ela matar seu alvo, você tenta se levantar ainda com dificuldades e então acaba dando um passo largo para se manter de pé ao quase cair desequilibrado.

ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ-FICAR... BEM... SIM... FOME TAMBÉM... VILA PRÓXIMA... - Você falava com seu habitual volume alto, mas seu tom estava mais baixo. A fraqueza dos combates haviam te deixado um pouco mais "calmo", mesmo assim sua força e peso eram inquestionáveis.

ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤComeçava a mostrar o caminho a sua aliada enquanto saíam daquela pequena empresa.

Bayon sente-se já regenerado e pronto para mais combate, uma vez que o fator de cura dos Haytok é extremamente acelerado. Pela primeira vez, porém, ele encontra uma galáxia de possibilidades e pode vislumbras as estrelas enquanto viaja na nave que parece pequena demais para ele.

Kitty, por sua vez, concluiu sua missão e agora tem uma boa reserva de dinheiro. A morte do vlogger que ela assassinou a sangue frio ainda não foi noticiado como falecido, mas há muitas teorias nas redes sociais devido a ausência de postagens do rapaz que antes estava sempre conectado. No final das contas, ela de fato não chegou a ver os arquivos em questão e seguiu todas as ordens à risca.

Agora mais próxima dos grandes satélites que fornecem uma conexão estável a quase todo o universo, ela enfim tem sinal em seu dispositivo móvel, e quase no mesmo momento recebe a notificação de uma nova mensagem.

"Khty? Retorne essa mensagem assim que a receber. Estamos tentando contatá-la faz tempo e ninguém faz ideia de onde está! Com toda essa perseguição da Aliança, estamos muito preocupados. Beijos."

A mensagem é de Mora, uma das mais queridas líderes da Reconquista. Por mais que não tenha uma grande relação com Kitty, sempre trata de ir atrás dos problemas da ordem.

Bom, ainda não era o recorde de quantas vezes tentaram me matar no mesmo dia. Então estava tudo bem. Assim que recebi a mensagem - e graças! uma conexão estável! - tratei de respondê-la.

"A missão foi um sucesso, sem problemas maiores." — ... Ou mais ou menos. Eu tinha trazido um Haytok comigo. E ele meio que parecia um animal de estimação...............

Tossi, enquanto olhava-o. A nave era certamente pequena demais para ele. E no lugar onde eu costumava comprar esse tipo de coisa, não vendia modelos mais... Encorpados.

"... Onde eu poderia adquirir uma nave maior?"

Por mais que o painel mostre Mora como online e a conexão esteja estável, demoram alguns minutos até que Kitty receba uma resposta. Tal sensação se combina com o espaço vazio ao redor da Okro e com o silêncio do Haytok na nave e trazem uma solidão momentânea.

"Khty, nós não lhe pedimos missão alguma. Algum hacker invadiu nossos sistemas e roubou nosso endereço de IP. Quando o recuperamos, percebemos que ele havia te contatado."

No mesmo dispositivo em que Kitty conversa, o aviso do depósito em sua conta bancária permanece insistente. Ela já fez missões para os rebeldes antes e sabe que a ordem não têm muito dinheiro, e muitas vezes não paga seus voluntários. Afinal, é um grupo de pessoas com interesse mútuo.

"Está tudo bem com você? O que ele te disse?"

Citação :

Sua conta bancária acaba de receber um depósito no valor de 20.000 créditos.

... Eu não acredito.

Meu queixo caiu. Nada além dos meus olhos se moviam enquanto meu cérebro processava o texto na minha frente. Eu li uma. Duas. Três vezes. Tive sorte por não ter perguntado logo a respeito da quantia, o que eu pretendia fazer logo ao chegar. Lembrei-me de quem havia me passado a missão, Arya. Ou ao menos eu achava que era ela.

Então restavam três opções: Havia sido um mercenário;
Estava acontecendo uma guerra dentro da própria reconquista;
Alguém da Aliança precisava de alguém pros seus servicinhos sujos.

Duvidei da última possibilidade, pra ser franca. Fosse pela quantia de dinheiro, típica de um trabalho mercenário, fosse pela expressão preocupada de Arya, cravada em minha memória.

"Arya está bem?"

Enviei o texto, seguido de uma oferta mais plausível.

"Continuarei essa conversa presencialmente, nada garante que não estejamos sendo vigiadas agora. Porém devo avisar que estou acompanhada.

No entanto, não parece que teremos problemas no que tange a ele estar relacionado de alguma forma com a Aliança."

Kitty navega pela imensidão do espaço em uma nave pequena que provavelmente vai levar um tempo para chegar ao seu destino. Mora, que a contata via chat, é líder do quartel general de Vumihe Boik - uma base espacial pequena localizada numa lua pouco habitável de Marmihn.

Enquanto pilota seu veículo, Kitty ainda é julgada pela notificação que anuncia a gorda quantia em dinheiro que recebeu como resultado do assassinato de um garoto que ela sequer sabe o que fez. Abaixo desta, uma nova notificação surge, anunciando uma mensagem de Mora:

Citação :

Arya está morta, e já faz um tempo.