Uma bússola que perdeu seu ponteiro.

Mensagens : 173 Data de inscrição : 19/08/2018

Quando eu era mais nova, costumava olhar o mundo pelas janelas cristalinas de uma alta torre na região mais nobre de Kasna. Dali, eu podia ver de tudo que estava nos limites de Kasna até o grande muro.

Eu não podia brincar com as outras crianças porquê sempre tinha algo novo que o papai queria que eu aprendesse, então passava meu tempo observando histórias; e até que era bem divertido. Vi relacionamentos se formar,
se desenvolver e terminar. Vi companhias abrir, enriquecer e falir. Vi pessoas que, assim como eu, viveram em torres aprendendo a viver. Um dia elas saíram da torre, mas continuaram presas ao próprio destino.

Quando atingi a maioridade, comecei a trabalhar. Foi então que me mudei para o escritório do papai, dois andares a cima, e foi aí que minha vida mudou para sempre. Eu pude ver o que tinha do outro lado do muro.

Observar histórias se tornou angustiante. Por quê eu tenho tanto enquanto eles não têm nada? Por quê eles trabalham tanto tempo em troca de tão pouco enquanto eu fico nessa torre usufruindo do que produzem? Por quê eu não posso ir até lá?

Sempre fui muito analista. Apesar do papai me treinar para ser uma empresária, meu interesse por política prevaleceu. Fiz vídeos para internet expondo meu ponto sem sequer mostrar meu rosto, e eles inesperadamente viralizaram. Ao que tudo indicava, mais pessoas tinham o meu ponto de vista e outras simplesmente queriam me censurar.

Chegou o tempo em que eu simplesmente cansei de ser refém da minha própria persona. Se minhas palavras eram capazes de romper barreiras políticas, talvez também fossem capazes de romper as barreiras ideológicas que separam o povo de Marmihn. Minha voz poderia ter sido a bússola que guiaria os Kroyvisianos para um futuro justo, se eu não tivesse a perdido quando fui atacada. Jamais se deve desafiar os burocratas de Kasna.

Minha vida mudou pela minha causa. Dediquei, e ainda dedico, tudo aquilo que tenho pelas ideias nas quais acredito.

Estou contando minha história nessa carta porquê não quero que ela morra comigo. Quero que você entenda o porque vou fazer o que vou fazer, e que compreenda que eu sempre estive destinada a morrer pelos meus ideais. Eu já deveria ter morrido, mas a vida me deu uma segunda chance em troca da minha voz.

Vumihe Boik está sob o meu comando e eu não vou assistir enquanto ela se torna Kasna. Enquanto inocentes trabalham para pessoas que sequer conhecem ou compreendem. Eu vou fazer o meu trabalho como líder porquê cada um dentro dessa base está sob o meu comando, e eu não vou abandoná-los. Isso é pela Reconquista, e por todos aqueles que amo. Eu os entendo e perdoo.

Uma bússola que perdeu seu ponteiro. 9d559210

Mensagens : 173 Data de inscrição : 19/08/2018

Uma transcrição dessa carta foi enviada para um canal geral da Reconquista, acessível para qualquer um que faça parte da organização ou que tenha um dispositivo conectado á Ariete. Junto, está anexado um vídeo.

Ele é quase que um vlog. Nele, a loira furtivamente acessa o painel de controle de Vumihe Boik com sua manopla durante o horário de descanso. Ainda com quase todas as luzes desapagadas, ela reconfigura o computador central do complexo e corrompe o sistema bélico recém-ativado da estação, que está agora sob o controle da Datsu.

Um barulho alto é ouvido quando as grandes armas despencam da estação e caem no solo lunar. O grande estrondo é seguido de um tumulto nos corredores da estação, mas Mora não foge de seu destino. Ela continua filmando o equipamento bélico caído até que uma lâmina atravessa seu corpo pelas costas e aparece ensanguentada na imagem. A filmagem termina quando a câmera cai ao lado da loira já sem vida.