"Lobo" solitário.

O escaldante planeta Phax, que uma vez foi casa para a raça dos Zathrianos, hoje é composto apenas por pequenos vilarejos onde a vida é bastante precária. Os nativos do local já o abandonaram a tempos, os recursos por lá são extremamente escassos, e até mesmo a água é rara. Sua temperatura mantém uma média de 45°C, e sua segunda lua é muito mais habitável do que o planeta. Esta, entretanto, é agora colônia dos Garesianos.

Dentre as areias escaldantes dos desertos de Phax, um dos maiores vilarejos do planeta surge. Formado por sucatas deixadas pelos Zathrianos, abriga algumas pessoas que não tiveram condições de encontrar moradia em planetas mais habitáveis, falidos ou pessoas que ali nasceram. Por ser uma pequena cidade sem qualquer lei, sobrevive por aqui quem for mais inteligente e por isso as mercadorias ilegais e os índices de criminalidade são tão altos.


Se há um lugar ruim para uma pessoa sem sorte se meter, esse lugar é certamente Phax. A cada metro quadrado, alguém estará tentando se aproveitar de você. Isso sem falar nas gangues que dominam o local, que a qualquer momento podem te exigir um imposto que acabaram de inventar. Não há terra com menos lei em todo o aglomerado, visto que em Jannu ao menos o mais forte impera. Por aqui, o mais malandro sempre leva a melhor.

Sem dúvidas, o pouso foi mais tranquilo do que Edgar esperava, mas o planeta não passa de uma tempestade de areia aonde o trabalho mais digno é a briga de rua (ao menos você não está vendendo algo letal, e está avisando a alguém que vai partir para a violência).

— Que calô da porra.

Deixava escapar como maneira de tentar ventilar a frustração. "Por que diabos eu pararia para visitar um lugar desses" é uma das perguntas que pairavam sob a cabeça vazia de Edgar. Suas vestes não eram exatamente apropriadas para tal, uma vez que nem ao menos prestavam para lhe livrar de toda aquela areia. Além de que eram quentes pra caramba.

Apesar de ele não fazer a menor ideia, estava praticamente preso num covil de ladrões. Ainda assim, uma das coisas que lhe mantinham animado para visitar esse poço de traição eram as famosas "brigas de rua" pelo qual tinha tanto gosto em participar. Estava justamente no intuito de encontrar mais oponentes para ficar mais poderoso.

Ao redor de Edgar, diversas barracas vêm sendo montadas. O dia acabou de nascer em Phax, evidenciando a coloração ainda baixa dos céus apesar de todo o calor que já se faz. Mesmo sendo cedo, é o horário ideal para o comércio visto que as tardes costumam ser marcadas por fortes tempestades de areia que impossibilitam a navegação. 

— Ei, humano. Com a capa. — Exclama uma garota logo atrás do Acanok. — Você cheira a novato. Mil créditos e eu posso ser sua guia, suave? Ali na frente vão tentar te enganar por duzentos, mas vão te bater e roubar o seu dinheiro depois de alguns metros. Tô cobrando caro mas pelo menos não vou te encher de porrada.

Se trata de uma Haytok, talvez mestiça. Seu rosto carrega cicatrizes profundas e suas presas são menores do que os exemplares puros da raça, mas o corpo é bem mais musculoso do que as fêmeas humanas. Ela está sozinha, e leva uma escopeta presa a sua cintura na parte de trás do corpo. Surpreendentemente, porém, ela é menos amedrontadora do que muitos outros ao redor de Edgar.

Apesar dele não tomar muito tempo de si para analisar corretamente a figura que lhe chamava a atenção e o fazia uma proposta, ele acabou surpreendentemente fazendo a mesma coisa de novo; nem mesmo pensou em analisar a proposta que lhe havia sido feita. Ele instantaneamente tratou como se fosse um excelente negócio, por mais que pudesse facilmente quebrar um grupo de extorquistas na porrada, muito provavelmente ficaria sem um guia depois.

— Parece um bom negócio. Topo! — Expressou a sua opinião diante daquilo sem pensar muito no que lhe acarretaria depois.

Satisfeita, a Haytok ativa um comando em seu dispositivo pessoal (que ao invés de uma manopla que se ativa ao toque, é um pequeno retângulo que exibe um painel de HUD, claramente um modelo ultrapassado de tecnologia portátil) e configura uma permissão para trocas monetárias enquanto aguarda o pagamento pelos seus serviços. Ao mesmo passo, inicia uma vagarosa caminhada ruma a "cidade grande".

— Aqui não têm muita coisa, mas o que têm é perigoso. — Ela começa, indicando as barracas comerciais do local. — Absolutamente tudo que está barato é mentira. A comida é estragada, a água é suja e as armas quebram quando você precisa usar. Se quer algo decente, vai ter que cobrar um preço exorbitante. A não ser que sejam drogas ou putas, já que interessa pra esses comércios que você se vicie neles.

Enquanto ela caminha, Edgar pode ver bem um exemplo do que ela diz. As pessoas se agridem e brigam na rua, e como não há nenhuma lei, o conflito continua enquanto os dois ainda quiserem continuar se batendo. Ao mesmo tempo, uma ou duas fêmeas de raças alienígenas exibem seus corpos e tentam sensualizar conforme o Acanok as cruza.

— Se você quiser arranjar grana, venda algo, roube alguém ou brigue na rua. De manhã o movimento é mais pra vender bugigangas que não prestam, enquanto a noite o foco é roubar ou bater nos outros. De tarde ninguém fica fora de algum lugar por causa da tempestade de areia, então o lucro vai todo para os Pubs. E ah, se te oferecerem um chiclete na rua, não pegue. É algum traficante cuzão testando drogas novas, mas a maior parte delas te mata.

Ela dá uma pausa durante a caminhada e se recolhe para o canto da estrada feita na areia, ao mesmo tempo que puxa Edgar consigo. Após alguns instantes, um pequeno veículo com os vidros escuros passa lentamente pelos dois. Edgar pode notar que todos fizeram o mesmo e se recolheram para dar passagem a quem quer que fosse.

— E cuidado com as gangues, elas controlam tudo por aqui. E não é legal desobedecer, acredite —  Sussurra, destacando as cicatrizes no próprio rosto. — Não tem gente boa aqui, lembre-se. A questão é: quem você vai ser?