Farejando a trilha.

*A mestiça logo se aproximava mais do cânion e se assustava um pouco ao ouvir a exclamação de Ghorata, mas logo se controlando e olhando para baixo momentaneamente, mordendo o lábio ao ver aquela sombra e ouvir o estranho ruído, mas agora tendo certeza de que provavelmente a nave das pessoas estava ali embaixo.
Não sabia do que se tratava aquela sombra e mais uma vez, lamentava que as lentes não estivessem funcionando direito.
Deixando o barril ali perto, ela erguia a cabeça e exclamava de volta para que pudessem escutá-la da nave.*

- Certo, obrigada! Espera.. tomem cuidado?

*Ellora estranhava o uso do plural na fala do mais velho, e logo pegava na corda que era oferecida, se amarrando de um modo seguro como fazem os escaladores de montanhas e alpinismo, segurando na corda mas olhando os lados, tornando a exclamar agora de uma maneira mais temerosa e desesperada.*

- Nelai! Não me diga que você desceu junto! Ai Nel, se alguma coisa acontecer com você o Heylel vai me usar pra brincar de tiro ao alvo sua doida! E eu mesma iria me castigar se algo acontecer, não quero que por ainda estar se recuperando, você acabe se ferindo de novo por minha causa...

*Ela suspirava baixinho e balançava a cabeça negativamente, com os sentimentos de querer proteger a nova amiga e cuidar dela como companheira de time e como médica, e o medo de quebrar a promessa que fizera para Heylel, se misturando, sabendo que Nelai era uma ótima assassina e lutava bem pelo que ela tinha visto, mas ainda assim, ela estava se recuperando e na certa tinha que tomar cuidado naqueles primeiros dias.
Logo puxava a corda indicando para os companheiros lá em cima que estava começando a descer com cuidado na direção de onde tinham visto a sombra e ouvido o maquinário, mas tornando a dizer.*

- Por favor Nel, espera pelo menos eu avisar se encontrei algo, uma de nós precisa ficar fora de perigo pra dar um sinal rápido de ajuda...

*Ela iniciava a descida e torcia para que as pessoas estivessem lá em baixo na nave e vivas de preferência, agora se focando um pouco em diminuir as emoções mais fortes que a dominavam, tentando trazer sua calma de sempre, que a ajudava a pensar rápido e de uma maneira mais clara nas situações.*

O Okro arregala os olhos e dá um tapa na própria testa. Ele podia aparentar um guerreiro bruto mas o cérebro que se esconde por trás daquele cabeçote resistente não é lá muito grande. Pela primeira vez desfazendo a postura de machão, ele balança as palmas das mãos em negação, claramente suando frio com medo da assassina.

— Ahm... erm... não foi o que eu quis dizer! Quando eu disse duas eu falei da... da... sua fé na missão! Droga, agora já foi... — Ele lamenta-se uma vez mais por seu intelecto baixo. — Bom, pense pelo lado bom, ao menos vocês já estão aí embaixo e não têm como voltar atrás.

Conforme descem, as duas confrontam-se com pequenos pedaços de rochedo de uma formação quase que cavernosa que, por vezes, podem ser difíceis de se evitar. Pedaços de sucata e arranhões podem ser identificados presos às paredes do cânion. 

Após alguns instantes de descida, as duas alcançam o limite em que a iluminação da nave alcança. Para descer mais, teriam que confiar em seus instintos no escuro.

- Acho que eles ficaram com medo de você Nel...

*Ellora olhava para a companheira de time e acabava cochichando aquilo, rindo um pouco e segurando a mão da amiga suavemente, lhe dando um aperto gentil que transmitia confiança e determinação.
Juntas elas iam descendo e a mestiça podia ver os pedaços de sucata e arranhões nos rochedos, pensando que pelo jeito estavam seguindo o caminho certo.*

- Certo... vamos conseguir juntas então Nel! E pode deixar, qualquer coisa, já aviso se estou ouvindo alguma coisa.. e se você conseguir ver algo, já ficamos em alerta, combinado?

*A Zathriana respirava fundo para se acalmar e manter a postura tranquila, se concentrando agora em qualquer ruído que fosse, continuando a descer e aproveitando o máximo a iluminação fornecida pela nave.*

- Nel, acho que estamos indo pelo caminho certo, veja.. a sucata deve ter se desprendido da nave deles...

*Torcendo para que eles estivessem vivos ainda, ela avançava com cuidado e se focando em não pisar em falso nem nada do tipo, utilizando tudo que havia aprendido com o pai durante seus acampamentos, trilhas e fugas.
Quando mergulhavam na escuridão, ela buscava o míni computador que tinha embutido na palma da mão, sendo acionado com um botão minúsculo no pulso. Tentava ligar a lanterna do dispositivo, mesmo que tivesse uma luz mínima, já ajudaria pelo menos Nelai e até ela mesma a distinguir nem que fossem vultos naquela escuridão toda, e se perguntando o que encontrariam agora que estavam chegando no fundo do cânion.*

Da maneira que podem, os Okros deslizam mais uma pequena lanterna na direção da dupla. Agora com uma iluminação parcial elas podem se situar melhor, mas também estão mais vulneráveis a serem encontradas.

Na primeira vez que iluminam as paredes cavernosas do cânion, as duas pode ver uma vez mais espectros e silhuetas que buscam escapar da luz. A noite de Tuntau não foi feita para ser explorada, muito menos os desertos.

Finalmente elas chegam ao fim daquela longa decida. Pedaços de sucata estão espalhados por todo lugar e, por trás da penumbra, está todo o corpo da nave feita de sucata. Ninguém parece estar ao redor dela, mas a portinhola improvisada está entreaberta.

No momento que pisam, porém, um ranger pode ser ouvido nas paredes como se algo raspasse nelas. Logo depois, sons pesados de respiração ecoam pela caverna, denunciando que algo ou alguém está a espreita.

- Hm... acho que uma vai se preocupar com a outra, não tem como evitar isso não é Nel?

*Enquanto iam descendo, a mestiça percebia que havia uma mensagem para ela e soltava a mão da companheira delicadamente, utilizando a pouca luz da lanterna de seu míni computador, abria a caixa de mensagens e lia rapidamente o que Heylel havia mandado.
Não podendo demorar muito, ela digitava o mais rápido que conseguia, algumas palavras:
“Sei o quanto se importa e confia na Nel, e ela se tornou uma boa amiga pra mim. Agora não vou poder mais responder Heylel, pelo jeito encontramos a toca do monstrão pegajoso. Torça por nós e para o pessoal estarem vivos.”
Enviava a mensagem e quando desciam e a lanterna era entregue a elas pelos Okros, ela a apanhava e entregava para Nelai, percebendo os espectros que fugiam da luz e sentindo um frio na barriga com aquilo, dando para perceber na expressão dela que estava pensando no que poderiam encontrar, acabando por sussurrar para a amiga.*

- Nel.. está ouvindo isso?

*Já lá embaixo, ela escutava aquele ruído estranho e perturbador, reparando nos pedaços de sucata espalhados e tendo um mal pressentimento, realmente não querendo que tivessem chegado tarde demais.
Usando a lanterna ela logo se adiantava e começava a reunir alguns pedaços da lataria, alumínio e garrafas, andando com o menos de barulho possível, colocando os materiais como conseguia, presos nas paredes rochosas em volta, incluindo na entrada da caverna, fazendo um sinal para que Nelai a acompanhasse.
Ao mesmo tempo, resolvia testar suas lentes novamente além de sua audição, espiando a caverna e depois a portinhola entreaberta da nave, tentando ver o que tinha ali dentro, ou quem estava dentro do veículo e da caverna, também tentando escutar mais algum barulho além daquela respiração, nem que fossem pedidos de socorro ou qualquer sinal que indicasse que haviam pessoas ali, ou só a criatura mesmo.*

Dessa vez, mesmo com a precária iluminação conseguida pelas garotas no interior do cânion, os óculos especiais de Ellora finalmente funcionam. Ainda não é possível ver nada de diferente dentro da caverna, apenas mais pilhas de sucata espalhadas. Apesar disso, o som da pesada respiração indica que seja lá quem for, continua perto e escondido, mas não avança até o momento.

Já quando olha para dentro da navezinha de sucata através da porta entreaberta, ela pode reconhecer o formato de um rosto em meio a escuridão. Ele vasculha o perímetro com um olhar aterrizado e, sem dizer uma palavra, coloca o indicador na frente dos lábios como quem pede silêncio.

Silhuetas se movem de um lado pelo outro na escuridão. As lanternas não permitem identificá-las totalmente devido à velocidade com a qual cruzam o cânion mas parece ser algo grande, mas não em formato de verme.

*A Zathriana logo acompanhava a companheira de time, mas ao ver a coisa oculta na caverna, erguia o indicador e o levava até os lábios para que Nelai percebesse que ela tinha visto algo preocupante na caverna, com a mestiça apertando de leve o ombro da amiga e mordendo o lábio pensativa, logo erguendo o pulso, apertando o botão que acionava o míni computador.
Rapidamente, digitava uma mensagem na tela, deixando perto da companheira o suficiente para que ela pudesse ir lendo o que Ellora escrevia:
“Nel, vamos nos comunicar assim por enquanto. Tem algo dentro da caverna, mas está se escondendo e não consegui ver se é o verme gigante. Tem mais sucata ali...”.
Apesar de parecer preocupada com aquilo, dava para ver que a mestiça também aparentava estar ansiosa e chegava a sorrir, com uma expressão animada na face:
“Mas dentro da nave eu achei as pessoas que viemos resgatar. Mas não consigo identificar se estão vivas, se desmaiaram, se estão feridos.. Nel, consegue ir até lá sem fazer barulho e checar isso? Você é melhor em se ocultar e pode tentar explicar pra eles o que está acontecendo e pra que estamos aqui.
Me envia mensagem me avisando como eles estão, vamos tentar tirar todos daqui.. inclusive nós duas.”
Ela esperava a companheira terminar de ler antes de trocar de tela, agora se comunicando com os Okros lá em cima, informando por mensagem porque ela não queria que um único sussurro acabasse revelando para a criatura, que elas estavam ali:
“Ghorata, Xabuo, Onu.. não gritem, se comuniquem por mensagem, por favor.
Achamos as pessoas, ainda não sabemos se eles estão vivos, mas parece que tem algo nos rondando. Vamos tentar resgatar todos em silêncio, vamos precisar das cordas de novo, mas eu aviso o momento certo...”
Ao enviar a mensagem para os companheiros de time lá em cima, a mestiça logo se preparava para se a companheira concordasse em ir até a nave, Ellora ficasse em alerta e prestando atenção principalmente na caverna, para ficar atenta caso o que estivesse escondido, resolvesse aparecer.
Ela tentava se manter perto da parede de onde estavam encostadas, torcendo para ficar escondida ali até Nelai dar qualquer aviso sobre a situação dos que estavam dentro da nave.*

Tudo vai bem até que Ellora decide recostar-se na parece. No processo, talvez desatenta ou talvez com pouco conhecimento sobre furtividade, ela esbarra em um pedaço da sucata que formava a lataria da nave. O resultado é um ruído que em condições normais seria baixo, mas que provoca um alto barulho ecoado no cânion silencioso e profundo.

Barulhos ensurdecedores de respiração misturam-se com o bater de algo nas paredes cavernosas do lugar. Não parece ser apenas uma criatura uma vez que os barulhos parecem vir simultaneamente e de direções diferentes.

Por fim, a lanterna da Zathriana ilumina uma criatura a sua frente. É esguia e longa em comprimento, provavelmente bem maior do que ela caso colocada de pé. Ela respira pesadamente e aproxima-se vagarosamente de sua presa. Os dentes afiados são longos demais para caber na boca.

Ao mesmo tempo, próximo a nave, alguém puxa Nelai e fala em seu ouvido. Pelo toque suave e quente, parece ser um humano ou alguma raça semelhante.

— Eles se atraem pelo barulho e dilaceram as presas em segundos. — Sussurra, com a respiração acelerada. — Não dá pra lutar contra. Perdemos dez pessoas que tentaram fugir.

*A mestiça fazia um sim com a cabeça concordando com a companheira, e a observava enquanto Nelai ia se afastando, com Ellora se mexendo um pouco na hora de encostar na parede mas mordendo o lábio ao perceber que uma das sucatas havia feito barulho.
Quando a luz da lanterna deslizava pelos contornos assustadores da criatura, e ela podia escutar os sons das respirações do que pareciam serem vários daqueles bichões, ela arregalava os olhos e quase perdia o controle, pensando:
“Ai Ellora, tinha que fazer barulho! Quando falei lagartos me mordam antes, não queria dizer literalmente... se bem que isso tá mais pra gelatina com dentes...”
Ela se controlava e ficava em silêncio, chegando até a prender a respiração por um momento, digitando uma mensagem rápida para Nelai, que dizia:
“Criatura na minha frente”
A enviando e tentando desesperadamente pensar em alguma coisa, pelo menos para distrair o monstro, o suficiente para que ela conseguisse pelo menos colocar uma distância segura entre eles.
Logo ela pegava o pedaço de sucata e o atirava para o lado com força, o fazendo bater na outra parede, na esperança do som atrair a criatura mais para o lado direito a uma distância suficiente para ela tentar ir se esgueirando para mais longe.
Ao mesmo tempo, analisava a criatura, tentando ver se ela tinha algum ponto fraco ou algo do tipo que pudesse ajuda-la, caso a criatura não se distraísse com o som da sucata se chocando contra a outra parede rochosa, imaginando se teria mesmo que tentar lutar com aquela coisa coisenta.*

Por menos que Ellora possa ver, é o suficiente para observar um pouco da estranha anatomia da criatura. Assim, ela pode deduzir que há um orgão vital localizado mais ou menos no centro de seu abdômen, e isso lhe desperta uma lembrança já um pouco antiga. Ela se lembra de um artigo com um relato sobre uma criatura como aquela que viu em algum site da internet, que parecia ser alguma mentira descarada de primeira, já que a existência do animal não é realmente catalogada. Mas a criatura que agora enfrenta, bate perfeitamente com as descrições contidas no relato. No site, poucos detalhes sobre o comportamento da criatura eram detalhados, mas ela se lembra de que eles andam em bandos e emitem um urro alto que chama a atenção dos outros quando morrem.

O humano próximo à Nelai engole em seco ao sentir as lâminas contra sua pele. Sua respiração torna-se ainda mais acelerada, o que indica que o coração do mesmo deve estar quase saltando de seu peito por conta própria. Apesar de não poder vê-lo, seu medo é inegável.

— C-calma! Q-Quer dizer, d-desculpe, juro que não sou o inimigo aqui. — Ele pede, desesperado e suando frio. — Restam oito de nós, até o momento...

O plano das garotas sobre o barulho, revela-se mais arriscado do que realmente efetivo. Aparentemente, não é fácil assim enganá-los. O animal à frente de Ellora permanece ali, sabendo exatamente onde está sua presa. Ele não tarda a avançar contra a médica, sedento. Tudo acontece muito rápido. A velocidade com que faz isso é impressionante, e quando ela se dá conta, o monstro já está sobre as duas patas e apoiado em si. Ela pode sentir o calor de suas patas e as longas e afiadas unhas contra a pele de sua barriga. Ele as crava contra a pele da mestiça, que ela pode sentir sendo rasgada em vários e compridos cortes pela região de seu abdômen. O monstro abre a boca, revelando suas presas gigantes e que logo irá usá-las.

Enquanto isso, o som ensurdecedor de respiração e batidas nas paredes do túnel retornam, aproximando-se cada vez mais. Em segundos, outra criatura igual à outra é revelada, mas esta se encontra exatamente no local onde o barulho foi feito pela sucata jogada e pelas garras de Nelai. Além disso, está perigosamente próxima à kaarteoniana e ao humano que recentemente encontrou.

*Ao se lembrar do que tinha visto na internet uma vez, quando havia perguntado ao pai sobre criaturas diferentes de outros planetas, depois que ele lhe contara sobre os Zathrianos, a mestiça percebia que já tinha lido sobre aqueles bichos, pensando que pelo jeito não eram mentiras do site.
Vendo o órgão vital na barriga da criatura, ela suspirava tendo a certeza de que se a matasse, logo o local estaria cheio de outras criaturas iguais, mas não tinha muito tempo para se decidir.
Ainda em choque pela rapidez com que aquele ser tinha se movimentado, a Zathriana usava toda sua força de vontade para não gritar com a dor que a dominava, sentindo as unhas afiadas do bicho a cortando feito lagarto fatiado, mais uma vez tendo a consciência do próprio sangue quente encharcando suas vestes.
Ela tossia mas mordia o lábio com força para se manter quieta e sem emitir um grito, piscando para se concentrar mesmo podendo ver as presas da criatura e sentir o calor de suas patas, pensando que era irônico receber um abraço justo de um bichão daqueles. Se pelo menos ele não quisesse transformar ela em lagarto em fatias, podia até tentar estabelecer uma amizade.
Mesmo assim, ela não ia morrer daquele jeito, e tinha que proteger as pessoas que tinha vindo salvar, além da companheira de time que se arriscava junto com ela.
Utilizando os métodos aprendidos com os Miistimerianos, ela ignorava o corpo e aquela dor insuportável, focando apenas em sua mente e em seu potencial para realizar as atividades além do corpo ferido, apertando um botão do lado direito de seu traje abrindo um pequeno compartimento escondido, algo projetado pelo pai para que ela levasse sua arma guardada com ela para qualquer lugar.
Pegava uma espécie de bastão que aparentemente havia sido uma pistola antes de alguém ter o modificado tecnologicamente, com a Zathriana apertando um botão no centro e o fazendo se retrair até ficar um tipo de arco high tex. Lembrando da explicação que tinha recebido do pai, ela posicionava os dedos ativando o sensor de calor da arma, com a corda surgindo já com a flecha que pelo aspecto, parecia que o pai de Ellora havia aproveitado as antigas balas da pistola, as aumentando de tamanho para que ficassem no formato de flechas.
Ela logo disparava contra a criatura que estava quase a devorando, mirando na barriga do bicho tentando acertar o ponto vital que tinha visto e reconhecido, sendo um tiro a queima roupa.
Tirava os dedos por um momento e a corda desaparecia, enquanto ela mirava mais para o lado, na intenção de disparar outro tiro, mas agora tentando ajustar o tiro na direção da criatura que estava perto da nave em que Nelai e as pessoas se escondiam.
Ao posicionar os dedos, a corda tornava a ser ativada, fornecendo outra flecha para a mestiça, que logo atirava pela segunda vez, mas sendo um tiro a distância contra o segundo bicho.
Ficava em alerta caso as criaturas não se ferissem ou nenhuma acabasse sendo morta. Além disso, tinha que lembrar que se ocorressem mortes, estariam cercadas de outros daqueles seres.
Pensando nisso, abria a mensagem outra vez e digitava para Nelai:
“Nel, eles têm ponto vital na barriga, chamam as outras quando morrem... fui atacada.”
Ela enviava a mensagem, não conseguindo escrever mais do que isso, tentando não se dobrar para frente devido aos ferimentos que embora ela tentasse ignorar naquele instante, realmente doíam e ardiam, com a Zathriana mordendo o lábio para evitar exclamações altas, pensando:
“Ok.. calma.. mantenha a calma... pense em sorvete.. sorvete e uma montanha de sorvete, com uma sorveteria e bonequinhos de sorvete...com todo mundo tomando sorvete juntos...”*

Arco parecido com o do arqueiro da caverna do dragão:

Ellora pode ouvir os baixos grunhidos de dor ao atingir seus alvos com os tiros, principalmente vindos do animal mais próximo de si. Este, parece muito ferido e seu sangue se espalha aos poucos, o enfraquecendo um pouco. Já o outro, parece não ter sido muito machucado. Ainda assim, o monstro sai de cima de si e não volta a atacar no momento.

Assim, há tempo suficiente para que Ghorata e seu irmão ouçam o pedido de puxar a corda da médica para que a mesma retorne para a nave. Assim eles fazem e a mestiça aos poucos pode sentir seu corpo sendo puxado na direção de onde vieram novamente, rumando a nave. Ela aos poucos se afasta dos animais que lhe atacavam anteriormente, e se tudo ocorresse bem, em poucos minutos estaria em segurança dentro da nave novamente.

"Entendido. Vamos dar nosso máximo, mas pode não ser tão rápido", responde Ghorata.

O homem ao seu lado assente e vai na direção dos companheiros com cuidado, evitando fazer barulho. Enquanto isso, com o afastamento de Ellora, os animais parecem ficar mais atentos aos menores barulhos que sejam, principalmente o mais saudável, próximo de Nelai. Assim que ela cochicha a mensagem para os irmãos dentro da nave, ela logo é respondida quase no mesmo tom pelo irmão mais novo.

— Calma, calma, moça. Acho que temos algo desse tipo, mas não posso garantir que vai aguentar todos. Podemos tentar, de qualquer maneira.

*A mestiça suspirava aliviada quando via a criatura próxima se ferir gravemente por causa do tiro, com a Zathriana respirando fundo quando a coisa se afastava dela, embora a dor na barriga continuasse insuportável.
Talvez fosse a dor que tinha feito ela não conseguir ferir demais a outra criatura, ou a distância, ela não sabia dizer direito agora mas quando começava a ser puxada, mordia o lábio novamente com força, já que o movimento de estar subindo e sendo levada para a nave, já a fazia sentir a dor na barriga aumentar.
Ainda assim, ela ficava preocupada com Nelai e as pessoas que ainda estavam lá embaixo, posicionando os dedos no arco e fazendo a corda aparecer de novo, já com outra flecha encaixada. Mirava na criatura que ainda estava perto de onde a companheira de time estava, tornando a atirar, torcendo pra que pelo menos conseguisse ferir aquela coisa o suficiente para ganhar tempo para os outros.
Ao chegar na nave novamente, ela exclamava baixinho, olhando para baixo vendo suas vestes empapadas com o próprio sangue, mas não parecendo se abalar com aquilo. Já dentro da nave mas perto da porta ainda, ela desamarrava a corda do próprio orpo e se virava para Ghorata, Xabuo e Onu, dizendo baixinho.*

- Obrigada... Precisamos de o máximo de cordas que tiverem aqui, além dessa que já desocupei... hm.. vocês podem lançar as cordas pra gente tentar ir puxando o pessoal e a Nelai? São 8 pessoas que vão precisar de resgate... e a Nel que já tem a corda dela..

*Ela parava de falar, respirando fundo e tentando se concentrar no plano mas com a dor na barriga aumentando, tendo de se concentrar por um momento, utilizando sua energia de cura nela mesma, com uma aura suave e azulada a envolvendo, indicando que a energia se manifestava por todo o corpo da mestiça.*

- Temos alguma coisa que produz um som muito alto? Hm.. granadas.. algo do tipo? Caso mais criaturas apareçam, podemos ajudar a Nel, confundindo um pouco elas...

*Ela logo olhava para a mão direita e o míni computador embutido ali, digitando a mensagem para Nelai:
“Nel... estou na nave, mas se as coisas piorarem eu desço de novo pra te ajudar. Vou tentar ir acertando as criaturas daqui, caso apareçam mais alguma. Vamos mandar cordas pra vocês irem subindo. .. Nel, tem algo aí que faz barulho pra atordoar aquelas coisas, caso elas apareçam?”
Ela logo clicava em enviar e se virava para os Okros, esperando eles responderem sobre as cordas e começarem a descer os cabos para Nelai e o pessoal, se aproximando da porta para ficar de olho no que estava acontecendo, e deixando o arco preparado novamente por via das dúvidas.*

Spoiler:

Uso da manobra de cura em mim mesma.

Ao ser acertado pela flecha da mestiça, um baixo urro em reclamação é feito pelo animal próximo à Nelai. Agora ele parece bem mais machucado, com um machucado aberto nas costas. O sangue de coloração estranha do monstro escorre por sua pele e pinga no chão rochoso, formando uma pequena poça. Ele parece bem mais fraco agora, tanto quanto o outro que antes atacou Ellora. O último recupera parte de suas forças e se aproxima do companheiro a passos doloridos, formando um rastro de sangue. Ambos estão gravemente feridos, mas estão unidos e permanecem atentos, sem desistir ainda.

Nelai sente o toque em um de seus ombros, denunciando o retorno do humano, que tenta não assustar a mulher novamente e ter alguma chance de deixar aquele cânion ainda com vida. Ele chega mais perto para que ela possa ouvir o que está prestes a dizer.

─ Eu os avisei, mas tem algo a mais que precise fazer? Devo falar pra ficarem em algum lugar específico? ─ Pergunta, em um sussurro. 

A corda de Ellora finalmente termina de ser puxada, e ao entrar na nave ela se depara com os dois irmãos tentando disfarçar o cansaço por todo o esforço que acabaram de fazer. O mais jovem não aguenta por muito tempo, deixando-se respirar acelerado e sentando desajeitadamente em um dos assentos para descansar. Ghorata segue firme em sua tarefa, e parece perplexo ao notar o machucado no abdômen da mulher.

─ Você foi atacada? Parece grave, devemos ter um kit de primeiros socorros. É bom higienizar... Xabuo, pega lá o kit. Se é que ela vai precisar... ─ Finaliza, observando a magia de cura ser realizada nela mesma. ─ Temos exatamente mais 6 cordas, se contarmos com a que você estava usando...  ─ Ele diz, verificando a quantidade em um pequeno armário.

─ O que vocês viram aí embaixo e te atacou? Era mesmo um coffinvine? ─ Pergunta Xabuo, se levantando para pegar o kit médico solicitado pelo irmão e levando-o até a mulher. ─ Sua amiga está bem, né? Digo... Está todo mundo bem, certo? ─ Ele parece sem graça e até um pouco desesperado, esperando uma resposta.

- S...sim, estou bem, obrigada Ghorata... Por enquanto ela está bem, mas... precisamos tentar trazer todos antes que aquelas coisas consigam perceber a presença deles.


*A mestiça sorria de uma forma gentil para Ghorata, tentando tranquiliza-lo e depois dizia aquilo para Xabuo tentando deixa-lo calmo também. Ela logo suspirava e estremecia um pouco ao se lembrar daquelas criaturas, olhando para baixo e mordendo o lábio pensativa enquanto lia a mensagem de Nelai. Refletia um pouco sobre como iriam conseguir resgatar aquelas pessoas e ao mesmo tempo, evitar aquelas criaturas, se focando na parte de que se tentasse atirar novamente, corria o risco de matar um daqueles bichos e acabar provocando um tipo de exército dos vermes malditos.*

- Era uma criatura com presas maiores do que o corpo, todo pegajoso e sem olhos que se guia através do som. Vocês tem mais alguma informação sobre eles? Já sabemos que eles são sensíveis a barulhos e têm um ponto fraco na barriga, e que quando morrem, fazem um som chamando os outros...

*Ellora logo começava a recarregar seu arco, sabendo que agora só tinham 4 tiros e por esse motivo, achava melhor recarrega-lo novamente, para que se precisasse usá-lo novamente, tivesse 6 disparos outra vez.
Logo recomeçava a escrever a mensagem para Nelai, pensando ainda mais enquanto isso:
“Nel, vamos começar a tentar fazer o resgate. Temos 6 cordas aqui, acho melhor ir puxando um por um, vamos mandar a primeira corda. Acha que consegue trazer um deles junto com você? Vou ficar de olho nas criaturas que estão aí perto, e se outras aparecerem, vamos usar granadas de som...”
Ao clicar para enviar, ela logo se virava para Ghorata e Xabuo, pegando a corda que ela havia utilizado antes e dizendo com o tom de voz determinado.*

- Nossa missão é resgatar essas pessoas, não vamos deixar elas morrerem. Você possuem uma granada de som aqui não é? Estejam prontos para usar se a coisa ficar mais feia, e vamos começar a jogar as cordas para ir resgatando as pessoas uma por uma. Lembrem-se, em silêncio... e Xabuo, qualquer coisa, descansa que eu posso ajudar o Ghorata... combinado?

*A Zathriana sorria de uma maneira gentil para Xabuo e logo começava a fazer com que a primeira corda fosse lançada na direção de onde as pessoas da nave de resgate estavam com Nelai, mas sempre de olho naquelas criaturas, porque ela sabia que mesmo que estivessem feridas, logo iriam se recuperar e tornar a tentar atacar, caso escutassem qualquer barulhinho que fosse de Nelai e do pessoal que precisava ser resgatado.*

Os irmãos se entreolham ao ouvir a descrição feita por Ellora, incrédulos. Xabuo titubeia, tentando encontrar palavras, mas ainda parece um pouco desacreditado.

— N-Não é possível... Já ouvimos algumas histórias sobre essas criaturas, mas nunca achamos que realmente fosse verdade. Eles são grandes? — Pergunta, com os olhos arregalados e com claro interesse.

Ghorata balança a cabeça negativamente, aparentemente vasculhando informações em sua própria mente sobre a criatura citada por alguns instantes. Ele finalmente desiste, e pega uma corda determinado.

— Desculpe, mas nunca encontramos com nenhuma dessas coisas, então realmente não sei mais nada sobre isso. Vou jogar a primeira corda, por favor, avise a sua amiga. Precisamos começar logo, e toda a ajuda para puxá-los será bem vinda. — Ele diz, com o semblante mais sério antes de jogar a corda.

Lá embaixo, Nelai pode ver que algo desce pelas rochas e adentra parcialmente o cânion onde está. É a primeira corda a ser enviada. Enquanto isso, o humano próximo a si suspira em alívio com as palavras da mulher.

— Entendido, vou comunicar a todos. Quem será puxado primeiro? — Sussurra, um pouco desesperado.

Os animais parecem concentrados em qualquer barulho ainda, mas não avançam. Além disso, a situação de ambos está terrível. Claramente estão a beira da morte e com a quantidade de sangue que estão perdendo, não durariam muito.

- Hm.. bem, elas são grandes sim e posso dizer que têm as unhas bem afiadas...

*A mestiça apontava distraidamente para a própria barriga onde pouco tempo antes, tinha literalmente sido fatiada pelas unhas daquela criatura, chegando até mesmo a estremecer um pouco com a lembrança daquilo que ia demorar um pouco pra sair de sua mente.
Se focando no que precisavam fazer e com urgência agora, a Zathriana logo fazia um movimento positivo com a cabeça, concordando com o que Ghorata tinha dito, com ela se aproximando do mesmo pronta para ajudar ele e Xabuo caso um deles ficassem cansados demais.*

- Certo, posso ajuda-los caso estiverem cansados, vamos começar. Quanto mais cedo melhor..

*Aproveitando ela mandava outra mensagem para Nelai, mordendo o lábio pensativa, como se refletisse sobre alguma coisa enquanto ia digitando:
“Nel, jogamos a primeira corda... pede pra eles fazerem uma fila em silêncio. Vai pegando o nome de cada um que for subindo, assim vamos ter uma lista dos sobreviventes depois. Vamos guardar as granadas pra se as criaturas da caverna aparecerem, por enquanto vou distrair essas duas com outra coisa pra não chamar atenção das outras.”
Ela logo enviava a mensagem e suspirava, se aproximando um pouco mais da porta da nave e pegando novamente sua arma, posicionando os dedos e assim que a corda era ativada, a flecha era produzida e ela agradecia por ter conseguido recarregar antes de atirar, logo soltando o disparo mas na direção de uma das rochas, em um ponto que ficava a alguns metros da nave de sucata, com Ellora tentando produzir um ruído que pudesse afastar aquelas duas criaturas da porta para dar passagem para Nelai e as pessoas, mas não um barulho alto demais para correr o risco de atrair os seres de dentro da caverna.*