Um tiro, uma morte.

Todo mundo quer alguém morto. Com a tecnologia disponível no início do século XXIII, contatar um assassino de maneira segura e anônima é bastante possível, embora ainda difícil. Dependendo do lugar onde se está, porém, basta um sussurro e uma transferência de créditos para que um contrato seja assinado.

Contrato 18218-009 - IP desconhecido. escreveu:

Não acho que eu precise te dar motivos para querer o homem morto, afinal um assassino declarado não deve ter muita ética, certo? De uma maneira ou de outra, preciso que mate o embaixador Nanu, político intergalático que governa em Gradopolis. Como um Huu, o investimento em sua segurança não deve ser dos maiores e alguém experiente como você deve ser capaz de furá-la. Assim que sua morte for noticiada nos jornais eu lhe transferirei cinco mil créditos.

Um embaixador, na política intergalática, é um político poderoso que é escolhido de acordo com as tradições da raça a qual pertence. Ele representa seu povo em uma câmara, junto com dez outros de sua mesma espécie em uma bancada específica que vota por mudanças nas legislações ou para a transformação de programas dentro de Gradopolis. São a casta política mais baixa por ter diversos membros, mas dependendo de seu prestígio podem chegar a propor novas leis para políticos de maior elite.



Dentre todos os lugares do extenso planeta de Nazod que são amplamente habitados, o seu centro é onde se concentra a maior quantidade de pessoas. Isso porque lá está localizada a sede da Aliança, na qual acontecem as reuniões entre os representante de cada uma das raças que fazem parte desse grupo. Por conta da importância do território, pessoas de poder mudaram-se para lá, assim como o comércio e os centros tecnológicos. É possível encontrar de tudo a venda e facilmente uma oportunidade de emprego, mas a segurança reforçada pode pegar no pé de visitantes.

As construções principais do local são as seis torres onde residem os representantes da mesa redonda e o subterrâneo que dá na sede de reuniões da Aliança e na sala de controle da SIDA, local com segurança máxima onde só entram pessoas que podem ser contadas nos dedos e guardas fortemente armados e treinados.

Embora as pessoas por quem passa não se alarmem com a presença do mascarado, certamente a estranham e o olham feio. Os motivos são óbvios, já que raramente se é vista uma aparência exótica tal como a dele. Mas felizmente, a entrada em Gradopolis é bastante tranquila por conta da aterrissagem com a nave longe da capital, onde a entrada de veículos desconhecidos é bem mais difícil.

Com os ataques recentes da Reconquista à metrópole, a segurança parece ainda mais reforçada. Não é difícil, entretanto, encontrar as seis torres. Estas, ficam bem no centro da cidade e Scorpion não tarda a chegar em distância suficiente para avistá-las. Ele pode ver também que seguranças protegem cada uma das portas que levam ao interior de cada uma delas, o que já podia ser esperado, vista a importância de cada um daqueles membros do conselho para a Aliança.

Apesar da segurança reforçada, com o fluxo de pessoas que passam pelo local é praticamente impossível ter controle de tudo, até mesmo de quem entra ou sai dos grandiosos prédios. Além disso, mesmo com a aparência exótica, com todos os seus anos de experiência acumulada não é difícil para Scorpion se esgueirar para dentro em meio ao monte de funcionários do lugar e pessoas comuns, passando completamente despercebido pelos seguranças locais posicionados próximos as portas.

Muitas das pessoas que o cercam, aos quais ele acompanha para dentro de um dos prédios, utilizam uniformes parecidos da Aliança. Provavelmente grande parte estão voltando às suas obrigações após um almoço e, devido a proximidade do albino, ele pode ouvir algumas conversas com clareza. À sua direita, estão um homem e uma mulher. O homem é humano e por seu porte físico e modelo do uniforme, parece ser um segurança, enquanto a mulher é uma jhayesiana e seu uniforme não deixa muito claro suas funções dentro do local.

— Que merda, ainda são 14h... Que horas vai ter aquela reunião mesmo? — A mulher pergunta baixo enquanto verifica seu technophone, tentando evitar que seja ouvida.

— 16h, mas não diga a ninguém que sabe disso, certo? Eu não deveria ter contado a ninguém, nem minha mulher sabe! Se algum deles descobre, eu tô fodido, ouviu? — O homem diz entre os dentes, mas aproveita para se aproximar da mulher sem que sejam vistos. — Mas, sabe, eu vou acompanhar o senhor Nanu para aquela sala pela primeira vez, acho que depois de todos esses anos estou finalmente conseguindo algum destaque Khaas! Inclusive, eu só terei que descer às 15h, então... Se tiver um tempinho, você podia dar uma passadinha no terceiro andar, o que acha?

O rosto do homem exibe um sorriso malicioso, enquanto a mulher o corresponde e se afasta para rumar a uma porta dentro do enorme hall do prédio, rindo levemente. O hall em questão ainda está movimentado pelo excesso de funcionários que ali se aglomeram, retornando aos poucos a suas funções. A tecnologia vista naquela pequena parte do enorme prédio é inteiramente de ponta, e o local conta com móveis com designs extremamente diferentes e modernos, assim como as paredes de vidro escuro que os cercam. Três grandes elevadores podem ser vistos no centro da sala, assim como algumas portas a parte nas laterais.

Em determinado ponto, o segurança adentra uma fila relativamente grande porém organizada de pessoas. Todas elas aparentam ter um crachá próprio que apresentam a uma dupla de soldados devidamente fardados da Aliança que, apenas após escanear esse crachá, liberam a entrada que dá acesso a uma rede de elevadores.

O segurança nesse momento despede-se da garota com um beijo discreto na bochecha ao mesmo passo que olha em volta com um pouco de temor. Depois disso, encontra um pequeno crachá e uma aliança de casamento, ambos num bolso de sua calça.

Ainda é tarde em Gradopolis e muitas pessoas estão nessa fila, inclusive atrás de Scorpion. A sua frente está o segurança, um homem que parece beirar os quarenta anos e ostenta alguns fios grisalhos e uma barba densa. Atrás de si, há um baixíssimo anão bigodudo que usa roupas formais e sorri calorosamente para o assassino caso ele vire-se para sua direção.

A felicidade do anão parece aumentar quando vê que seu sorriso é retribuído, embora o rosto de Scorpion não esteja tão visível assim. Quando o albino vira-se para sair dali e rumar na direção de seu alvo, o pequeno ergue o braço direito e balança a mão de um lado para o outro, como quem manda tchau de uma maneira bem mais exagerada e espalhafatosa que o normal.

A destreza e precisão do jhayesiano possibilitam que ele consiga acessar o bolso do segurança com facilidade e pegue os pertences de lá sem que o homem nem mesmo note. Nem ele, nem nenhum dos outros funcionários a sua volta. Quando tenta encontrar o cartão e ele não está em lugar algum, se desespera.

Enquanto isso, a fila continua a andar, até chegar na vez do homem recentemente roubado por Scorpion. Ele não consegue ouvir direito o que ele diz para os seguranças que estavam verificando os crachás até então, mas seu rosto começa a ficar vermelho e ele deixa a fila, irritado. Assim, a vez do assassino chega e ele precisa mostrar seu crachá. O enorme segurança o olha de cima a baixo, estranhando o visual, mas escaneia seu crachá e o libera ainda assim. Mais a frente, Scorpion pode acompanhar os funcionários que seguem em fila por um corredor, que leva a vários elevadores.

A sala onde ficam os elevadores está tumultuada com a quantidade de pessoas que por ali circulam, mas a maior parte dos funcionários se agrupam para adentrarem em cada um dos grandes elevadores organizadamente. A presença de Scorpion ainda é pouco notada devido à pressa da maior parte das pessoas, apesar de receber alguns olhares estranhos vez ou outra.

Tudo o que os olhos atentos do albino podem encontrar são alguns tablets, posicionados e levemente erguidos em cima de um pequeno balcão de vidro em um dos cantos da enorme sala, próximo a um dos elevadores. Provavelmente são para uso da empresa, e em suas telas está uma grande foto do embaixador Nanu, com o nome do mesmo escrito acima.

A sala onde ficam os tablets, que estão ali provavelmente para uso comum, é por si só bastante simples. A decoração é bonita e moderna, sem muitos detalhes. Uma janela média coberta por uma persiana de cor clara permite que a luz do sol entre apenas parcialmente, de forma a não ser incômoda. Além disso, alguns vasos de flores artificiais e exatamente iguais estão espalhados pelo ambiente.

Os móveis são poucos, havendo apenas a mesa onde estão os aparelhos e alguns sofás grandes e confortáveis na cor creme. Na maior parede do ambiente, está um painel de HUD onde está sendo transmitido algum canal de televisão. O cômodo está completamente vazio, e parece ser algum tipo de sala de espera, ou um lugar para descanso dos funcionários.

O jeito com que Scorpion se esgueira por entre a multidão faz com que ele não seja notado por ninguém, e ele pode escolher seu destino facilmente. Além disso, nenhuma resistência é feita para se adentrar a sala dos tablets. Muito pelo contrário, na realidade, não há ninguém lá dentro, nem próximo a porta. Assim, o albino pode adentrar o local com facilidade caso deseje fazê-lo.

Não há resistência alguma para que Scorpion adentre a sala e utilize os tablets para pesquisa. Na verdade, ninguém parece sequer se importar com sua presença. Todos continuam concentrados em seus afazeres, ou assistem a algum programa qualquer no enorme painel de HUD no canto do cômodo. Grande parte dos resultados da pesquisa do albino são notícias sobre seus projetos, entretanto, um deles parece ser o mais importante e destacado entre todos.

Aparentemente, é um projeto social que consiste em ajudar a integrar crianças carentes na sociedade, oferecendo estudo adequado e ajuda financeira às famílias. Embora a iniciativa do homem tenha sido considerada louvável e bonita por muitos, foi rejeitada várias vezes. O motivo é muito simples, já que o projeto foi julgado inviável por ser muito caro para ser executado do jeito que Nanu planejava. No geral, as notícias sobre o embaixador falam muito bem sobre ele, enquanto alguns outros o criticam por seu excesso de preocupação com as camadas mais baixas da sociedade e com outras raças menos privilegiadas.

Mesmo não tendo vastos conhecimentos relacionados a dispositivos, Scorpion consegue se virar bem. Não é tão difícil para o rapaz entrar no sistema e conseguir acesso a informações confidenciais, que não ficam abertas a qualquer funcionário. Apesar disso, não é realmente complicado para o albino conseguir tais dados, visto que eles não estão tão protegidos quanto deveriam, talvez. Já são 14h30 em Gradopolis, próximo ao horário que o segurança havia dito para a amante colega de trabalho que acompanharia o embaixador Nanu até a sala de reuniões.

De acordo com os dados conseguidos, o embaixador ainda não está no prédio, mas chegaria cerca de 14h45 em uma pista de pouso que fica no topo da construção, para assim descer até a sala de reuniões. Esta, está prevista para acabar cerca de 16h30, quando o Huun talvez deixe o local. Sobre isso, nada está especificado.

Nenhum dos funcionários dentro da sala parece desconfiar do que Scorpion está realmente fazendo no tablet. Na verdade, todos parecem tão entretidos em seus próprios afazeres que mal ligam para a presença do assassino, muito menos percebem quando ele deixa o local.

Já de volta ao hall dos elevadores, o intenso movimento de entrada dos funcionários já diminui, restando apenas poucas pessoas para subirem enfim aos seus respectivos setores. De acordo com placas luminosas entre os elevadores, todos eles passam por todos os andares.

Apenas foi necessária a instalação de tantos aparelhos por conta da enorme quantidade de funcionários empregados ali. Com a quantia cada vez menor de pessoas para subirem, já há alguns elevadores esperando por Scorpion. Um deles, ainda está vazio.

As portas do elevador logo se fecham e, embora o prédio seja realmente muito alto, devido à tecnologia do equipamento é possível chegar no seu último andar em poucos segundos e em plena segurança. Assim que as portas se abrem, ele pode ver que há apenas mais uma pequena área coberta além do elevador, e uma grande porta de vidro no centro da parede que leva à pista de pouso está protegida por um segurança. Até então, ele não nota a presença do albino.

O segurança, que é um Zathriano musculoso já próximo à meia idade analisa o albino de cima a baixo sem disfarçar, desconfiado pela maneira que se veste. Ele então ergue um aparelho parecido com o que é usado pelos seguranças do andar térreo para verificar os cartões das pessoas e permitir seus acessos aos elevadores.

Dessa vez, um painel de HUD é projetado pelo aparelho assim que o scan termina. Nele, é mostrado o nome do funcionário e os horários escalados para a semana. O segurança, após ler os dados listados no sistema e notar a tranquilidade na voz de Scorpion, suspira e estende o braço na direção da pista de pouso.

─ Desculpe, Threhan. Como sabe, esse procedimento já é padrão e não podemos fugir disso, mas realmente deveria começar a usar o seu uniforme. ─ Pede, olhando mais uma vez para as roupas do suposto colega. ─ O embaixador não deve demorar, ele não costuma se atrasar para os compromissos. Pode esperar já ali fora.

Já são 14h40 em Gradopolis, e já na pista de pouso é possível observar a provável nave de Nanu já chegando ali.

Poucos minutos demoram até que a nave chegue na pista de pouso, obtendo um bom tempo de antecedência, como já esperado. Aparentemente, o embaixador não é mesmo do tipo que se atrasa para seus compromissos. Assim que o veículo é pousado com uma perfeição invejável, uma das portas se abre para que o piloto desça e abra a porta para o chefe, se tratando claramente de apenas uma cordialidade.

O Huun usa as roupas típicas de sua raça, utilizadas para conseguirem respirar fora de seu planeta natal. Apesar disso, elas são diferenciadas por serem muito mais sociais, o que é requerido não só pela ocasião em específico como também para sua posição dentro da Aliança. Apesar disso, ele parece ser um homem muito simpático. Ao descer da nave, ele tenta reconhecer Scorpion mas por óbvio, falha.

Mas como ele é o único o esperando ali, parece muito claro que ele é o funcionário escolhido para o "escoltar". Além disso, ele realmente nunca o viu, mas não foi ele quem escalou o segurança para o acompanhar até a reunião, apenas foi informado de que seria alguém que nunca o fez antes. O homem sorri para o assassino, estendendo sua mão direita para cumprimentá-lo enquanto vai em sua direção.

─ Boa tarde, meu querido! Acredito que eu não o conheça ainda, mas é um prazer de qualquer maneira. Se te escalaram, deve ser um ótimo profissional. Qual é o seu nome? ─ Pergunta simpaticamente, após não ver sua identificação em sua roupa.  ─ Espero que eu não esteja atrasado, não é mesmo? Hahaha. Odeio deixar as pessoas esperando, desculpe se fiz isso com você de qualquer maneira. Podemos ir?